Após divulgar a pesquisa sobre o panorama político das apostas esportivas e golpes digitais na segunda-feira, o Instituto DataSenado, apresentou, ontem, o perfil dos apostadores de casas de jogos on-line, as famosas bets, no Brasil. De acordo com o estudo, homens de até 39 anos e com ensino médio completo são os maiores usuários desses aplicativos, mas o curioso é que quem se "desenrolou", agora, está se endividando novamente, mergulhado nas jogatinas on-line.
O economista, sociólogo e professor de Mercado Financeiro da Universidade de Brasília (UnB), César Bergo, analisou os dados do levantamento e afirmou que os perfis dos apostadores e de quem aderiu ao programa Desenrola Brasil — iniciativa do governo federal que ajudou na renegociação de dívidas — são parecidos. "Lembrei muito do que estudei no perfil do Desenrola, eles coincidem. A característica de quem está no programa é parecida com a dos apostadores, estão mais no Nordeste, Norte, pessoal na faixa de 20 a 25 anos", explicou. O estudo mostrou que 16 estados estão acima da média nacional (12%) em número de apostadores. Tirando o Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, todos os outros são do Norte e Nordeste do Brasil. Roraima, Pará e Mato Grosso lideram com 17%.
Bergo disse estar de "queixo caído" com os dados do relatório. "Estarrecido, porque o pessoal de nível superior não é muito chegado a jogar, é mais no fundamental completo, que coincide com a idade de 16 até 29 (33%). É o pessoal de internet mesmo, e basicamente tem a ver com esporte, porque essa idade gosta muito de futebol, que seria a maioria das apostas, talvez", afirmou. Ele achou elevado o valor das apostas, de até R$ 500 reais, "para quem ganha até dois salários mínimos".
O acadêmico ainda salientou o número de pessoas endividadas apostando nas bets. "Tem um porcentual de pessoas que têm dívidas e jogando, não é investimento, está jogando dinheiro fora. O que preocupa é esse perfil jovem que, tão cedo, ao invés de estar preocupado em estudar e crescer profissionalmente, está gastando seu dinheiro com jogo", alertou. De acordo com o instituto, o percentual de apostadores com dívidas em atraso há mais de três meses foi de 42%. Bergo ressaltou que os dados são alarmantes e é preciso trabalhá-los agora pelo risco de endividamento e empobrecimento da população. "É uma estatística que mostra um lado sombrio e onde a situação requer regularização e fiscalização muito firme do governo. Ou teremos uma sociedade voltada ao endividamento e a questão da pobreza."
O especialista em finanças e estatística, pró-reitor Financeiro do Centro Universitário UniFavip Wyden, Rodrigo Cavalcante, concordou sobre o risco de endividamento futuro da população. "O perfil de quem aposta é predominantemente jovens de baixa renda, o que pode indicar um risco potencial para o endividamento futuro", sinalizou. Para ele, o governo precisa educar financeiramente a população. "É essencial que as autoridades e a sociedade discutam formas de mitigar os possíveis impactos negativos dessa prática, como a implementação de políticas públicas voltadas para a educação financeira e o controle do acesso excessivo a esse tipo de atividade", indicou.
Para Wanderson Castro, economista e perito judicial, as publicidades das bets têm atraído cada vez mais brasileiros para o mercado de apostas, algo ainda pouco regulado, na avaliação de especialistas. "Hoje, estamos expostos ao grande volume de publicidades que envolvem as bets, porque ainda existe um mercado gigante a ser explorado, com potencial de mais de R$ 100 bilhões ao ano e que movimenta aproximadamente R$ 7,5 bilhões por mês", disse.
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