"Quase não posso acreditar que um ano se passou. Não posso crer que passou esse tempo todo e que meus primos não estejam em casa", desabafou ao Correio a israelense Maia Chmiel. Aos 31 anos, analista de dados em Tel Aviv deu uma pausa na profissão para lutar pela libertação dos primos. Os irmãos Iair, 46 anos, e Eitan Hor, 38, foram sequestrados pelos terroristas do grupo extremista palestino Hamas durante o massacre de 7 de outubro de 2023. "Levei 365 dias com os mesmos sentimentos horríveis e com a impotência por saber que os meus primos estão no cativeiro, na Faixa de Gaza, sofrendo, e que nada posso fazer para ajudá-los." Das 251 pessoas capturadas há um ano, 97 seguem em Gaza, incluindo 34 que foram declaradas mortas pelo Exército israelense.
Maia participava de uma cerimônia em homenagem aos mortos e aos reféns, depois de um dia marcado pelas explosões de foguetes lançados pelo Hamas e pelo movimento xiita libanês Hezbollah, além da intensificação de bombardeios de Israel contra Beirute e a Faixa de Gaza, onde 11 pessoas morreram. No Líbano, 100 aviões israelenses atacaram 120 locais no intervalo de uma hora. Horas depois de as Forças de Defesa de Israel (IDF) ordenarem a retirada de moradores de áreas ao sul da capital libanesa, novos bombardeios sacudiram periferias xiitas de Beirute.
"Hoje (segunda-feira, 7/10), tivemos o acionamento de sirenes antiaéreas em todo o centro de Israel", admitiu Maia. "Não importa quantas vezes enfrentamos isso, é uma situação aterradora saber que temos menos de um minuto para chegarmos a um local seguro. É desesperador saber que vamos nos deitar sabendo que talvez precisemos nos levantar e correr para o bunker, ou ter medo de adormecer e não escutar as sirenes."
Foguetes lançados pelo Hamas, a partir da Faixa de Gaza; pelo Hezbollah, do Líbano; e pelos rebeldes huthis, do Iêmen; atingiram Tel Aviv (centro) e foram interceptados sobre Haifa (norte). No fim da noite de ontem, a milícia libanesa anunciou ter lançado contra uma base da unidade de inteligência militar 8200, perto de Tel Aviv. Cinco projéteis cruzaram o céu do norte de Israel. O jornal The Jerusalem Post informou que alguns foram derrubados e outros caíram em áreas abertas, sem ferir ninguém.
"Missão sagrada"
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, transmitiu uma mensagem pela televisão, no marco do primeiro aniversário do massacre de 7 de outubro de 2023. "Definimos os objetivos da guerra e estamos a caminho de alcançá-los: derrubar o Hamas (em Gaza), trazer para casa todos os reféns, tanto os vivos quanto os mortos. Trata-se de uma missão sagrada e não vamos parar até cumpri-la", declarou Netanyahu. "O 7 de outubro simbolizará para as gerações (futuras) o preço do nosso renascimento e demonstrará nossa determinação e a força do nosso espírito."
Morador de Haifa, o advogado paulista Carlos Eduardo Bekerman, 46, relatou ao Correio que um foguete foi interceptado em cima do prédio onde mora. "No domingo, pouco depois das 23h, eu estava quase dormindo, quando tocaram as sirenes e corri para o bunker. Escutei dois estrondos muito fortes. Descobri, pelo aplicativo Red Alert, que o foguete foi abatido e os fragmentos caíram no quarteirão do lado do nosso." Segundo ele, outro foguete atingiu uma área perto da fábrica onde trabalha.
Às 16h29 (22h29 em Beirute), o advogado Richard Moussa, 34 anos, morador de Mar Roukoz, a 7km do centro da capital libanesa, contou à reportagem: "Acabou de cair uma bomba". "Não foi tão perto de casa, porque o barulho não foi muito intenso", disse. Vinte minutos depois: "Agora, o estrondo foi imenso, em Beirute; senti daqui em casa, tudo tremeu um pouco".
Em meio à guerra, Moussa tenta manter a rotina. "Infelizmente, estou agindo normalmente. Vou ao escritório e trabalho normalmente", relatou. No entanto, ele não esconde o medo. "Acho que todo mundo tem. Você não pode saber onde a próxima bomba cairá. Se será sobre uma estrada ou sobre um prédio. Israel está alvejando cada membro do Hezbollah", explicou.
O presidente dos EUA, Joe Biden, declarou-se "totalmente comprometido com a segurança" de Israel, ao mesmo tempo em que alertou que "demasiados" civis palestinos "sofreram ao longo deste ano". "Nunca me esquecerei do horror de 7 de outubro de 2023", afirmou, por sua vez, a vice-presidente democrata Kamala Harris, candidata à Casa Branca. Ela disse estar de "coração partido pela quantidade de morte e destruição em Gaza no último ano". De acordo com o Ministério da Saúde do enclave, 41.900 palestinos, a maioria civis, morreram desde o início da guerra, há um ano.
"O Líbano está ocupado pelo Hezbollah"
"Eu me sinto triste por vários motivos. Em primeiro lugar, o Líbano não deseja essa guerra, nem o povo libanês. O Hezbollah tomou essa decisão para atender às ordens do Irã. Não temos um governo responsável, que seja capaz de dizer ao Hezbollah: 'Interrompam a guerra, vocês estão levando o país para o abismo ou, em outras palavras, para o inferno'. O povo libanês está perdendo os melhores dias de suas vidas. Na condição de homem jovem, minha ambição é ser produtivo e feliz, viver neste belo país e realizar meus sonhos aqui. Mas, não tenho essa oportunidade, porque o Líbano está ocupado pelo Hezbollah. Não deixaremos esse país para ninguém que alcance objetivos não compatíveis com a nossa nação. Querem que o Líbano se torne parte do Irã. O Líbano é um país livre, com soberania absoluta. Não aceitaremos ser parte de outra nação, nem ser ocupados por outro país. A meta de Israel é desarmar o Hezbollah com total apoio do Ocidente."
Richard Moussa, 34 anos, adviogado, morador de Mar Roukoz, a 7km do centro de Beirute
"Tento me manter forte pelos meus primos"
"Iair e Eitan, dois primos meus, foram sequestrados pelo Hamas, em 7 de outubro de 2023. Eles viviam no kibbutz Nir Oz. No começo, nada sabíamos sobre eles. Sabíamos que não estavam em casa, que havia muitos mortos e sequestrados no kibbutz. Mas não pudemos encontrar nenhuma informação sobre eles. Procuramos nas fotos e vídeos publicados pelo Hamas para entender o que ocorreu. Depois de 45 dias, recebemos, pela primeira vez, uma mensagem de que tinham sido capturados e estavam vivos. Os sequestrados que regressaram nos disseram que estiveram com eles e os viram. Cada familiar de reféns lida com a situação que mais lhe convém. Posso dizer que, para mim, isso é muito difícil. Saber que estão sem água, sem comida e com medo. Para mim, meus primos são as pessoas mais fortes do mundo. Saber que estão em uma situação tão difícil me quebra. Tento me manter forte por eles."
Maia Chmiel, 31, moradora de Tel Aviv. Os primos Iair e Eitan foram sequestrados pelo Hamas
Fonte: correiobraziliense
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