14 de Novembro de 2024

'Falta governança no setor público', diz ex-presidente do BC Gustavo Loyola


São Paulo — O governo é, hoje, uma areia na engrenagem do crescimento econômico do Brasil. A afirmação é do ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola. Em palestra no 25º congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Loyola, um dos pais do Plano Real, afirmou que a questão fiscal é o maior problema que o país enfrenta hoje, do ponto de vista macroeconômico.

“Falta governança no setor público. Ele é ineficiente e gasta mal”, afirmou o economista. “Não é que o país dependa do governo para crescer. Mas, certamente, o governo, hoje, é uma areia na engrenagem do crescimento”, completou.  Loyola citou que, mesmo com a elevada carga tributária que recai sobre as empresas e pessoas, o país convive com um deficit fiscal crescente.

Ele projetou um crescimento potencial do produto interno bruto (PIB) — conjunto de bens e serviços produzidos no país — de 2%. “Não é o ideal. Ainda tem muita coisa para se resolver, mas avançamos”, disse ele, recordando que no ano passado as previsões de crescimento para 2024 giravam em torno de 1% ou 1,5%.

Para Loyola, que é diretor presidente da Tendências Consultoria, a produtividade no país está crescendo de forma acelerada, o que explica o fato de os economistas terem errado em suas projeções de PIB. “Estamos
colhendo o benefício de anos e anos de reformas no país”, disse, citando as reformas trabalhistas e previdenciária. “E mesmo voltando um pouco mais atrás, tivemos a estabilidade da economia”, disse, em referência ao Plano Real.

Sobre a reforma tributária, o economista opinou que será um avanço, “desde que o Congresso modere esse tanto de exceções que estão sendo criadas e acabam elevando a alíquota para os setores que não são beneficiados, o que é muito ruim”.

Convidado para falar, no congresso, sobre o tema "Mapeamento de riscos geopolíticos de 2024 e perspectivas 2025", Gustavo Loyola destacou a preocupação do mundo com a guerra entre Rússia e Ucrânia e com os conflitos no Oriente Médio. Ele ressaltou que ambos estão sem perspectiva de solução e sem prazo para acabar.

“Nesta situação, é prudente diversificar as fontes de suprimentos, as fontes de matérias-primas. O país e as empresas precisam diversificar mercados. Não se pode depender muito de um mercado só”, apontou.

Ele também mencionou a polarização entre Estados Unidos e China como duas potências econômicas em constante conflito. “A rivalidade presente entre essas duas potências — uma ainda predominante com a outra em ascensão — causa uma série de tensões, que acabam se refletindo sobre o comércio, sobre a economia como um todo”, avaliou.

O momento, que representa um desafio para o Brasil, é também uma oportunidade para a ampliação da participação do país no mercado global, segundo Loyola. “Seja do ponto de vista de produzir no Brasil, seja do ponto de vista de exportar para determinados mercados, as empresas instaladas no Brasil podem repensar a ideia de ter o país como uma plataforma global. Hoje, com exceção do agronegócio, o Brasil ainda está imperfeitamente globalizado.”

O 25º Congresso do IBGC, que terminou na quarta-feira (9/10) à noite, contou com a participação de 1,5 mil pessoas, em sua maioria integrantes de conselhos administrativos e executivos de grandes empresas.

*A jornalista viajou a convite do IBGC

Fonte: correiobraziliense

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