22 de Novembro de 2024

As maravilhas ocultas dos cenotes, o mundo subaquático sagrado do México


Os cenotes mexicanos são um complexo sistema de cavernas e cursos d'água, de beleza única.

Eles abrigam flora e fauna em abundância. Algumas espécies não são encontradas em nenhum outro lugar do planeta.

São mais de 7 mil poços de calcário que se formaram há milhões de anos na península de Yucatán, no sudeste do país. Elas datam do impacto do asteroide Chicxulub, que praticamente dizimou os dinossauros.

Os cenotes vêm sendo reverenciados ao longo da história humana. Há mais de 2,5 mil anos, os maias utilizaram alguns deles como poços de água e outros, como locais sagrados.

Eles acreditavam que os cenotes seriam os portais para Xibalba, o submundo maia, para onde vão os humanos depois da morte.

Muitos moradores locais ainda acreditam nos mitos e praticam os rituais dos seus ancestrais. E, hoje, os cenotes são a única fonte natural de água doce da região de Yucatán.

Turistas nacionais e estrangeiros também apreciam os cenotes de outras formas. Sua configuração faz com que eles sejam poços ideais para natação e um refúgio muito apreciado contra o intenso calor da região.

Alguns cenotes chegam a oferecer tirolesas, decks para banho de sol, plataformas de mergulho e lanchonetes.

Um grupo específico de visitantes é especialmente atraído pelos cenotes. São os mergulhadores.

Os poços são um paraíso para o mergulho em apneia. Cada um deles tem uma configuração específica e eles ficam isolados dos efeitos das correntes, das ondas e do vento.

Como o mergulho em apneia exige equipamento mínimo e seus praticantes não estão sujeitos às regras do mergulho com escafandro (como limites de tempo, intervalos de segurança e subida lenta à superfície), eles podem passear pela água, contornar obstáculos e encontrar criaturas marinhas.

Estas experiências e locais únicos são inspiradores, não só para os mergulhadores, mas também para os observadores que veem as fotos e vídeos produzidos por eles.

Os cenotes estão ameaçados pela má gestão da terra, pelo desenvolvimento excessivo e pela falta de tratamento de lixo e esgoto. E, como os poços são interligados, pode ser questão de tempo para que todos eles fiquem poluídos ou acabem destruídos.

Felizmente, existe cada vez mais consciência ecológica entre as empresas, turistas e ativistas. Eles fazem a sua parte para proteger os cenotes sagrados do México.

Os mergulhadores, particularmente, divulgam a grandiosidade dos cenotes com meios visuais. Eles criaram uma comunidade forte e ativa e alguns até se tornaram embaixadores e defensores da sua proteção.

A península de Yucatán é quase totalmente composta de calcário poroso. Imagine um pedaço de queijo suíço, duro e cheio de buracos, feito de rocha calcária.

Mais de 65 milhões de anos atrás, a península estava totalmente submersa no oceano. Ela fazia parte de um sistema de recifes de corais, até que o impacto do asteroide Chicxulub alterou as placas tectônicas abaixo delas e ergueu o recife da água.

Por milhões de anos, as chuvas e a água do mar penetraram no leito rochoso, criando aquíferos a poucos metros do solo.

Quando o chão desaba e cria um poço, o que acontece com bastante frequência na península de Yucatán, ele, às vezes, expõe os aquíferos na forma de piscinas naturais, ou cenotes — do maia ts'ono'ot, que significa "buraco cheio d'água".

A história curiosa e sem precedentes da região valeu sua inclusão provisória no Patrimônio Mundial da Unesco, em 2012.

Entrar em um cenote é entrar no submundo: Xibalba. Os maias acreditavam que é preciso, em primeiro lugar, pedir permissão e realizar rituais para poder entrar com segurança.

Para isso, é preciso fazer oferendas. Muitos anos atrás, elas assumiam a forma de ouro, jade, cobre e até seres humanos vivos.

Estas oferendas pretendiam aplacar os deuses, como Chaac, o deus da chuva. Os maias acreditavam que ele morasse dentro dos cenotes.

Atualmente, as oferendas consistem principalmente de copal (resina de árvore), cacau, sementes, milho, pétalas de flores, açúcar e outros pequenos objetos. Os turistas podem contratar tours culturais para assistir aos rituais e apresentações em diversos cenotes — sem medo de serem sacrificados, é claro.

A maioria dos turistas que visitam os cenotes passa o dia nadando e explorando as cavernas. O uso de máscara ou óculos permite observar uma variedade de pequenos peixes, tartarugas, crocodilos e interessantes formações rochosas, pouco abaixo da superfície.

Mas esta é apenas a ponta do iceberg. Quanto mais fundo você for, mais irá ver.

Para respirar em apneia, é necessário prender a respiração e mergulhar até uma profundidade especificada, sem usar fontes de ar.

É preciso ter profunda concentração e consciência de si próprio e do ambiente. Mas este tipo de mergulho permite total imersão no cenote, da forma menos prejudicial possível.

Você irá encontrar estalagmites e estalactites que datam de milhões de anos atrás, emaranhados de árvores caídas e seus fragmentos, fósseis de animais extintos, criaturas subaquáticas que não existem em nenhum outro ponto da Terra e inúmeras outras atrações fascinantes.

Os turistas podem programar sessões de mergulho em apneia junto às muitas escolas e operadoras de turismo da região.

A luz solar se infiltra nos poços pela parte superior dos cenotes. Ela se transforma em feixes distintos, criando um fenômeno natural encontrado em muito poucos lugares do mundo.

Observar esses feixes de luz gera uma sensação indescritível de assombro e admiração. Eles também oferecem oportunidades únicas para fotografar – uma tendência em crescimento, com cada vez mais pessoas explorando o vasto cenário subaquático dos cenotes mexicanos.

Muitas espécies se dirigem aos cenotes em busca de tranquilidade e recuperação.

Isolados do mar aberto, os poços oferecem proteção contra as más condições do tempo, ondas, grandes predadores e o tráfego de navios.

Os peixes-boi chegam aos cenotes através de cavernas conectadas ao mar do Caribe. Ali, aquela espécie ameaçada pode descansar e se alimentar de algas, além de cuidar dos seus filhotes em um ambiente seguro e pacífico.

A interação entre os mergulhadores e a vida marinha nos cenotes é uma experiência única.

Os crocodilos são uma parte fundamental da biodiversidade da região. Eles podem ser encontrados em muitos cenotes — até mesmo os frequentados pelos turistas.

É fundamental respeitar o espaço dos animais. Por isso, é muito importante manter uma distância segura, sem provocá-los.

Mas, às vezes, a curiosidade dos animais é maior e eles se aproximam para dar uma olhada no que aqueles estranhos seres humanos estão fazendo.

Em alguns cenotes, você irá encontrar uma camada de sulfeto de hidrogênio que separa a água doce da chuva acumulada e a água salgada do oceano, essencialmente formando uma nuvem subaquática.

Nadar em volta dessas nuvens e através delas oferece a clara impressão de que estamos atravessando o espaço sideral e penetrando em uma nebulosa.

Essas camadas são formadas por gases liberados pela matéria em decomposição, como árvores e folhas, que caem nos poços.

Algumas nuvens são formadas a poucos metros, perto da superfície. Já outras podem ser encontradas a até 30 metros de profundidade.

Essas camadas espessas e nebulosas apresentam leve cheiro de ovo podre. Elas são conhecidas por causar leve irritação nos lábios, se permanecermos nelas por muito tempo.

A nuvem da imagem se encontra a cerca de 28 metros de profundidade. Abaixo dela, ficam mais 28 metros de água salgada.

Pessoas de todas as idades e origens viajam para conhecer os magníficos cenotes mexicanos. A temperatura da água varia de 19 a 24 °C, o que representa um ótimo alívio para o calor tropical.

Muitos donos de cenotes investiram em infraestrutura, como plataformas, toaletes e lanchonetes. Eles também oferecem visitas guiadas e apresentações.

Com milhares de cenotes diferentes para escolher, você sempre terá novos lugares para visitar.

Viver em harmonia conosco mesmos e com o ambiente à nossa volta é algo que muitos de nós temos dificuldade para encontrar.

O mergulho em apneia exige imenso nível de compreensão da mente e do mundo à nossa volta. Por isso, a paixão dos mergulhadores por estes delicados ecossistemas não causa surpresas.

Os cenotes oferecem um território inigualável para nos aprofundarmos, física e mentalmente, em um ambiente natural e pacífico.

Para preservar estes lugares especiais, é fundamental protegê-los contra a contaminação e o desenvolvimento. E alguns mergulhadores vêm tomando a frente e protestando contra forças importantes como o Trem Maia, que prejudica imensamente o sistema de milhares de cenotes interligados.

Os turistas também podem ajudar a reduzir os danos causados aos cenotes, dando preferência a operadoras de ecoturismo sustentáveis e evitando o uso de bloqueadores solares e produtos para o cabelo que sejam prejudiciais ao meio ambiente.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.

Fonte: correiobraziliense

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