21 de Novembro de 2024

Tratamento inovador traz avanço contra o linfoma de Hodgkin


Um estudo publicado no New England Journal of Medicine revela que um tratamento inovador, que mobiliza o sistema imunológico para combater o linfoma de Hodgkin avançado, consegue elevar a taxa de sobrevivência dos pacientes a 92% e diminuir os efeitos adversos associados a abordagens tradicionais. Para os cientistas, a nova técnica pode se estabelecer como terapia padrão para a doença, especialmente entre jovens.

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Tradicionalmente, o tratamento para linfoma de Hodgkin envolve quimioterapia e, em muitos casos, radioterapia, alcançando uma taxa de cura superior a 80%. Contudo, essa abordagem pode causar efeitos colaterais significativos a longo prazo, incluindo riscos aumentados de desenvolver outros cânceres e problemas cardíacos. Jonathan Friedberg, diretor do Wilmot Cancer Institute e líder do estudo, enfatiza que o novo tratamento "pode reduzir esses efeitos adversos, prometendo uma melhor qualidade de vida para os pacientes no futuro".

O estudo, que faz parte da pesquisa conduzida pela SWOG Cancer Research Network, envolveu quase 1.000 pacientes em diversas clínicas e instituições acadêmicas nos Estados Unidos. A abordagem incluiu um grupo que recebeu a terapia padrão e outro que, além da quimioterapia, foi tratado com o imunoterápico Nivolumab, que ataca uma alteração genética comum no linfoma de Hodgkin.

Os resultados foram encorajadores, com 92% dos pacientes que receberam imunoterapia sobrevivendo sem progressão da doença, em comparação com 83% do grupo de tratamento padrão.

Fernando Blumm, coordenador da hematologia do Hospital Santa Luzia, em Brasília detalhou como, no linfoma de Hodgkin, as células tumorais conseguem escapar do sistema imunológico. "As células tumorais expressam uma proteína chamada de PD-L1, que se ligam a uma proteína chamada PD-1. Quando a célula do sistema imune encontra as células do linfoma de Hodgkin, há a ligação da proteína PD L1 com a proteína PD-1, isso freia o ataque imunológico, permitindo que o linfoma de Hodgkin cresça. De maneira brilhante, o Nivolumab bloqueia a PD-1, impede que o câncer continue a usar essa estratégia de camuflagem."

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Os pesquisadores destacaram que os testes de fase 3 envolveram pacientes de diversas idades, incluindo adolescentes a partir de 12 anos e adultos com mais de 60. Segundo eles, essa amplitude é crucial, pois o tratamento convencional frequentemente tem efeitos colaterais severos em pacientes pediátricos.

Os dados preliminares do estudo foram tão convincentes que o ensaio foi interrompido antes do previsto para permitir uma análise mais rápida pela FDA, a agência reguladora estadunidense. A American Society of Clinical Oncology (ASCO) já reconheceu os resultados, o que reforça a expectativa de que o Nivolumab seja rapidamente integrado às diretrizes de tratamento para linfoma de Hodgkin.

Sergio Fortier, onco-hematologista, especialista em linfomas do Hospital Moriah, em São Paulo, destaca que se comprovado o ganho de sobrevida global pelo medicamento para esse tipo de tumor, "esse esquema (de tratamento) se tornaria mais uma alternativa para os pacientes. Possivelmente se tornando a alternativa de primeira escolha para a maioria".

Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, estão na vanguarda de uma nova abordagem para tratamento de câncer, desenvolvendo vacinas personalizadas baseadas em bactérias que têm o potencial de ativar o sistema imunológico para atacar células tumorais de forma específica. A novidade utiliza propriedades naturais de direcionamento cancerígeno desses microrganismos e representa uma nova classe de imunoterapia que pode ser adaptada para cada paciente, visando tanto a doença primária quanto as metástases.

Os resultados dos estudos feitos com camundongos, focando em câncer colorretal avançado e melanoma, mostraram que a vacina bacteriana foi capaz de suprimir, e, em alguns casos, até eliminar o crescimento de tumores, sem danificar os tecidos saudáveis. A pesquisa, publicada na revista Nature, ontem, destaca a eficácia dessa abordagem em comparação com vacinas terapêuticas baseadas em peptídeos que já foram testadas em ensaios clínicos.

De acordo com os pesquisadores, a vacina é eficaz porque consegue coordenar e ativar diferentes partes do sistema imunológico, conseguindo uma resposta antitumoral robusta. A personalização é um aspecto crucial da vacina. Cada tumor possui mutações genéticas específicas, e as bactérias são programadas para direcionar o sistema imunológico a essas características únicas.

Segundo Daniel Herchenhorn, oncologista clínico da Oncologia D'Or e professor da Universidade da Califórnia, San Diego, nos Estados Unidos, nos últimos dez anos, as imunoterapias se popularizaram no tratamento de tumores, mas a triagem é essencial para bons resultados. "Primeiro passo é identificar, por meio de biomarcadores, os pacientes que vão apresentar melhora ou piora com a abordagem. Alguns pacientes vão ser excelentes respondedores, outros não vão responder nada. Segundo, deve tentar utilizar a resposta imunológica, a imunoterapia funciona em uma a cada quatro pessoas somente."

Nicholas Arpaia, professor da Universidade de Columbia, ressalta que a estratégia envolve sequenciar o tumor de cada paciente e desenvolver vacinas que possam entregar alvos imunológicos precisos. "Com o contínuo aprimoramento da segurança por modificações genéticas, os pesquisadores esperam iniciar testes em humanos em breve, oferecendo uma nova esperança para o tratamento do câncer."

Marcela Crosara, oncologista do hospital DF Star, frisa que muitos estudos de vacinas e manipulação celular estão em andamento. "Para algumas patologias como linfomas e leucemias já é uma realidade, o Car-T cel, por exemplo. O tratamento consiste em retirar e isolar os linfócitos T, 'reprogramá-los' para identificar células do câncer e depois inseri-los de volta no organismo. Mas é importante lembrar que a estratégia apresentada nessa pesquisa ainda não foi testada em humanos." (IA)

"O estudo chamou bastante a atenção da comunidade científica e hematológica porque comparou uma imunoterapia, nesse caso nivolumabe, com 'um pouquinho' de quimioterapia AVD —que são três drogas, um esquema que até o momento é considerado padrão no linfoma de Hodgkin. O nivoAVD, em dados preliminares iniciais, já se mostrou superior, mas é muito raro a gente ver ganho de sobrevida, porque é uma doença que a gente já tratava com uma alta taxa de sucesso. Na maior parte dos pacientes, a gente conseguia não só, mas também fazer com que a sobrevida fosse ótima. Então, mostrar ganho de sobrevida quando ela já é alta com o tratamento padrão, é muito mais difícil. Quanto mais perto você chega do 100%, mais complicado é."

Phillip Scheinberg, líder da Hematologia na Beneficência Portuguesa (BP), de São Paulo

Fonte: correiobraziliense

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