O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, apresentou aos membros do Parlamento na quarta-feira (16/10), em Kiev, o que considera ser o "plano de vitória" para acabar com a guerra com a Rússia.
Zelensky já havia revelado este plano aos seus principais aliados, incluindo os Estados Unidos, nas últimas semanas, mas até agora seu conteúdo era secreto.
De acordo com especialistas, o plano busca fortalecer a posição da Ucrânia em um futuro cenário de negociações com a Rússia, em um momento em que a comunidade internacional pressiona por uma solução acordada, e a situação no campo de batalha não indica um vencedor claro a médio prazo.
O presidente ucraniano garante que o plano pode pôr fim, no mais tardar no próximo ano, à guerra iniciada pela Rússia em fevereiro de 2022 com sua invasão da Ucrânia.
Os principais elementos da proposta de Zelensky incluem um convite formal para ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan); a suspensão, por parte dos aliados, das proibições de ataques de longo alcance com armas fornecidas pelo Ocidente contra a Rússia; a recusa em negociar os territórios e a soberania da Ucrânia; e a continuação da incursão na região russa de Kursk.
O Kremlin rejeitou o plano, e um porta-voz disse que Kiev precisava "ficar sóbria".
Em seu discurso ao Parlamento, Zelensky também criticou a China, o Irã e a Coreia do Norte por seu apoio à Rússia, descrevendo os três países como uma "coligação de criminosos".
Ele disse que apresentaria o "plano de vitória" em uma reunião de cúpula da União Europeia nesta quinta-feira (17/10).
"Estamos em guerra com a Rússia no campo de batalha, nas relações internacionais, na economia, na esfera da informação e nos corações do povo", afirmou Zelensky aos parlamentares.
A seguir, estão são os cinco pontos-chave da proposta:
- Convite à Ucrânia para aderir à Otan;
- Reforço da defesa ucraniana contra o Exército russo, incluindo a obtenção de permissão dos aliados para usar suas armas de longo alcance no território do país vizinho, e a continuação das operações militares ucranianas em território russo para evitar a criação de "zonas-tampão" (regiões consideradas neutras, entre dois Estados em conflito) na Ucrânia;
- Contenção da Rússia por meio de um pacote de dissuasão estratégica não nuclear implantado em solo ucraniano;
- Proteção conjunta pelos EUA e pela União Europeia dos recursos naturais essenciais da Ucrânia e uso conjunto de seu potencial econômico;
- Apenas para o período pós-guerra: substituição de algumas tropas dos EUA posicionadas na Europa por soldados ucranianos.
Três pontos permanecem em segredo — e só vão ser compartilhados com os aliados da Ucrânia, disse Zelensky.
Ele apresentou o plano ao presidente americano, Joe Biden, e aos candidatos à Casa Branca, Kamala Harris e Donald Trump, em setembro.
Também teria compartilhado o plano com aliados importantes como Reino Unido, França, Itália e Alemanha.
Na noite de quarta-feira, Zelensky conversou com Biden sobre seu "plano de vitória". Ele também agradeceu aos Estados Unidos por um novo pacote de assistência de defesa de US$ 425 milhões para a Ucrânia, que inclui sistemas de defesa aérea e armas de longo alcance.
Sobre o "plano da vitória" de Zelensky, a Casa Branca disse que "os dois líderes encarregaram suas equipes de realizar mais consultas sobre as próximas etapas".
No mês passado, autoridades americanas foram citadas pelo Wall Street Journal como tendo dito que o governo Biden estava preocupado com o fato de o plano não ter uma estratégia abrangente e ser pouco mais do que uma solicitação repaginada de mais armas e da suspensão das restrições ao uso de mísseis de longo alcance.
Analistas da Ucrânia e do Ocidente também sugeriram que a Casa Branca está interessada em mostrar que deseja evitar uma escalada maior da tensão com a Rússia no período que antecede as eleições presidenciais dos EUA.
No entanto, as condições de Zelensky para a paz contrastam cada vez mais com a situação na Ucrânia após mais de dois anos e meio de guerra.
O presidente ucraniano reconheceu, diante dos parlamentares, a crescente exaustão em seu país.
O cansaço estava estampado em seu próprio rosto quando disse que "a vitória se tornou para alguns uma palavra desconfortável, e não é fácil de alcançar".
A Ucrânia tem visto um declínio gradual no moral de seus soldados e cidadãos devido ao aumento do número de mortos, a uma controversa lei de mobilização, e aos constantes ataques russos em seu território.
As Forças Armadas ucranianas não conseguem derrotar os russos no campo de batalha, especialmente na região de Donetsk, no leste do país.
À medida que a Ucrânia pede mais ajuda aos seus aliados ocidentais, os especialistas acreditam que pode ser limitada por questões internas, como as iminentes eleições presidenciais nos EUA e as novas frentes de batalha abertas no Oriente Médio.
Quanto à Otan, os 32 membros da aliança militar declararam em sua reunião de cúpula em Washington, em julho, que a adesão da Ucrânia era um caminho "irreversível", mas não está previsto nenhum avanço até, pelo menos, a próxima reunião de cúpula, em junho do ano que vem, na Holanda..
Por enquanto, nenhum dos aliados ocidentais da Ucrânia manifestou publicamente apoio ao "plano de vitória".
Cada vez mais se sugere que qualquer acordo de paz deve envolver concessões territoriais por parte da Ucrânia, em troca de garantias de segurança.
No entanto, não há qualquer indício de um acordo para abreviar o fim da guerra.
Pelo contrário, Zelensky insistiu na ideia de fortalecer suas Forças Armadas, para obrigar a Rússia a negociar, e não ceder território da Ucrânia.
Ele também afirmou que seu ambicioso plano poderia ser implementado com a aprovação de seus aliados, sem a Rússia.
Em público, Zelensky evidentemente ainda vê esta guerra como existencial, e alertou que o presidente russo, Vladimir Putin, vai continuar fortalecendo sua posição.
Ele também pareceu promover seu projeto como uma oportunidade de investimento para os aliados ocidentais, em termos de recursos naturais e potencial econômico.
O presidente ucraniano quer que as suas tropas exaustas continuem lutando.
Mas, com seu Exército tão dependente da ajuda ocidental, seu "plano de vitória" vai precisar da aprovação do próximo presidente dos EUA.
Ao comentar o plano de Zelensky, o novo secretário-geral da Otan, Mark Rutte, o descreveu como um "forte sinal" de Kiev.
"Isso não significa que eu possa dizer que apoio todo o plano — isso seria um pouco difícil porque há muitas questões que precisamos entender melhor."
"Estou absolutamente confiante de que, no futuro, a Ucrânia vai se juntar a nós [Otan]", acrescentou.
Logo após Zelensky terminar de falar, o Kremlin desdenhou do seu "plano de paz efêmero", dizendo que Kiev precisava "ficar sóbria".
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a única maneira de acabar com a guerra, é a Ucrânia "perceber a futilidade da política que está adotando".
Fonte: correiobraziliense
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