21 de Novembro de 2024

Israel elimina Yahya Sinwar, arquiteto do massacre de 7/10


O drone das Forças de Defesa de Israel (IDF) penetrou o segundo andar do prédio em ruínas, no bairro de Tel Sultan, em Rafah (sul da Faixa de Gaza), na tarde de quarta-feira (16/10). A câmera se voltou para o homem ferido no braço, com o rosto coberto por um lenço. Sentado em um sofá da sala empoeirada, ele pegou um pedaço de madeira e arremessou em direção ao aparelho. Minutos depois, um tanque disparou contra o prédio, matando o suspeito e duas pessoas. Na manhã desta quinta-feira (17/10), outro drone localizou o corpo do homem filmado na véspera, muito parecido com Yahya Sinwar, líder do grupo terrorista Hamas. Soldados colheram amostras de DNA e as digitais. Os exames confirmaram: o corpo era do mentor do massacre de 7 de outubro de 2023. A morte de Sinwar impõe um golpe sem precedentes ao Hamas, fragilizado em sua cadeia de comando. 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, celebrou a eliminação de Sinwar. "Yahya Sinwar está morto. Foi morto em Rafah pelos corajosos soldados das Forças de Defesa Israelenses. Embora não seja o fim da guerra em Gaza, é o começo do fim. (...) O Hamas não mais  controlará Gaza. Este é o início do dia seguinte ao Hamas", avisou. 

Netanyahu admitiu que "o mal sofreu um duro golpe". "A guerra não terminou. É difícil e nos impõe um alto preço", declarou o chefe de governo israelense, que aproveitou para enviar um recado dos militantes palestinos na Faixa de Gaza: "Quem depuser suas armas e devolver nossos reféns, garantiremos que sua vida será preservada". Para Netanyahu, a eliminação de Sinwar é "um marco importante na decadência do regime maligno do Hamas". Na noite de ontem, israelenses se reuniram diante do necrotério de Tel Aviv, para onde foi levado o corpo. 

Uma das últimas imagens de Sinwar vivo, flagrada por drone: acuado, ferido no braço e com o rosto coberto
Uma das últimas imagens de Sinwar vivo, flagrada por drone: acuado, ferido no braço e com o rosto coberto (foto: IDF)
 

Israel "não vai parar" até capturar todos os autores do ataque de 7 de outubro e conseguir o retorno de "todos os reféns", afirmou o chefe do Estado-Maior, Herzi Halevi. No maior atentado da história do país, o Hamas invadiu o sul do território israelense, matou 1.206 pessoas e sequestrou 251. O grupo mantém 101 reféns em Gaza.

Em entrevista ao Correio, Rafael Rozensjan, major e porta-voz das IDF, contou que, na quarta-feira, soldados avistaram suspeitos entrando e saindo de um prédio em Tel Sultan. "Quando a força ativou tanques e a infantaria, foram identificadas três figuras com um drone em movimento. Provavelmente, eram os guarda-costas de Sinwar", relatou. Atingidos por tiros, os três se dispersaram. "Um tanque disparou um projétil contra o prédio. No momento em que um dos comandantes foi examinar o local, duas granadas foram atiradas contra ele e seus soldados. Eles recuaram e continuaram operando com drones." Pouco depois, o tanque voltou a atacar e matou Sinwar. 

"Este é um bom dia para Israel, para os Estados Unidos e para o mundo", disse o presidente dos EUA, Joe Biden. "Como líder do Hamas, Sinwar foi responsável pelas mortes de milhares de israelenses, palestinos, americanos e cidadãos de 30 países. Foi o mentor dos massacres, dos estupros e sequestros."

Biden vê a oportunidade de "um dia seguinte" em Gaza, sem o Hamas no poder, e de um acordo político que forneça um futuro melhor para os israelenses e palestinos. "Sinwar era um obstáculo intransponível para alcançar essa metas", admitiu. Ele e Netanyahu conversaram por telefone e acordaram uma cooperação para libertar os reféns. A vice-presidente e candidata democrata à Casa Branca, Kamala Harris, afirmou que "a justiça foi feita". "EUA, Israel e o mundo estão melhores. Hoje, apenas espero que as famílias das vítimas do Hamas experimentem uma certa sensação de alívio", declarou. 

Na cidade costeira de Netanyaha, festa com dança e ostentação da bandeira israelense
Na cidade costeira de Netanyaha, festa com dança e demonstrações de patriotismo, com a bandeira (foto: Jack Guez/AFP)

Consultados pelo Correio, parentes e amigos de vítimas de atentados cometidos pelo Hamas comemoraram. "Depois de 7 de outubro de 2023, ficou claro para todos, inclusive para Sinwar, que sua eliminação seria a missão de Israel. O mundo é um lugar melhor sem ele", disse Itay Dror, 32 anos, amigo de Inbar Segev Vigder, 33, assassinada durante ataque em um terminal de ônibus de Jaffa, bairro de Tel Aviv, em 2 de outubro passado. "Não gosto de celebrar a morte de ninguém. Sinwar era um monstro." Inbar foi fuzilada ao amamentar o filho. 

O roteirista Hen Avigdori, 54, morador de Hod Sharon (a 22km de Tel Aviv), viveu 48 dias de horror a partir daquele 7 de outubro. A mulher, Sharon, e a filha Noam foram sequestradas pelo Hamas. "Estamos muito felizes pela eliminação do assassino em massa, do novo Hitler do Oriente Médio, da pessoa responsável pela morte de meus familiares e pelo sequestro de oito deles. É hora de libertar todos os reféns. Este é o ponto de ruptura que Israel esperava há muito tempo."

Gil Dickman, 32, estudante de psicologia e morador de Tel Aviv, teve quatro familiares levados pelo Hamas: dois foram executados; e dois, libertados. Ele crê que Sinwar tenha ordenado pessoalmente a morte da prima Carmel Gat e de cinco reféns, em um túnel de Haza. "A morte de Sinwar é uma conquista, mas não estamos totalmente contentes. Ficaremos completamente felizes quando todos os sequestrados retornarem para Israel."

Rafael Zimerman, 28 anos,brasileiro, sobrevivente do massacre de 7 de outubro. Ele participava do festival de trance Supernova Sukkot, no kibbutz de Re'im, a 5km da fronteira com Gaza
Rafael Zimerman, 28 anos,brasileiro, sobrevivente do massacre de 7 de outubro. Ele participava do festival de trance Supernova Sukkot, no kibbutz de Re'im, a 5km da fronteira com Gaza (foto: StandWithUS)

"A morte do terrorista do Hamas Yahya Sinwar pode levar a guerra para outra direção, e isso inclui a volta dos reféns. Não acredito que nenhuma morte deva ser comemorada. No entanto, nesse caso, sabemos que a morte dele evita uma ameaça futura a Israel e aos palestinos. Ele foi o mentor do massacre de 7 de outubro e usava os civis palestinos como escudos humanos. De certa forma, eu me sinto aliviado com a eliminação de Sinwar, provavelmente um dos maiores assassinos da história."

Rafael Zimerman, 28 anos,brasileiro, sobrevivente do massacre de 7 de outubro. Ele participava do festival de trance Supernova Sukkot, no kibbutz de Re'im, a 5km da fronteira com Gaza 

Hen Avigdori (D), com a mulher, Sharon, e os filhos, Noam e Omer (E), após a libertação pelo Hamas
Hen Avigdori, com a mulher e os filhos Noam e Omer (E), após soltura (foto: Arquivo pessoal )
 

"A missão foi cumprida, com a eliminação do líder do Hamas. Mas a real — e principal missão — é salvar as vidas dos reféns. Isso ainda não foi conseguido. Se o governo Netanyahu deseja fazer a coisa certa, esta coisa é resgatar todos os sequestrados. Toda a minha preocupação, agora, é com a vida e o bem-estar dos reféns. O resgate deles deveria ocorrer nas próximas horas, não nos próximos dias ou semanas. Devemos fazer o possível para tirar essas pessoas de lá. Todo o restante é secundário." 

Hen Avigdori, 54 anos, roteirista, morador de Hod Sharon, 22km a nordeste de Tel Aviv. A esposa, Sharon, e a filha, Noam, ficaram 48 dias no cativeiro, em Gaza

Gil Dickmann, 32 anos, estudante de psicologia, morador de Tel Aviv. Quatro familiares foram sequestrados pelo Hamas. Dois, executados; e dois libertados.
Gil Dickmann, 32 anos, estudante de psicologia, morador de Tel Aviv. Quatro familiares foram sequestrados pelo Hamas. Dois, executados; e dois libertados. (foto: Arquivo pessoal )

"Em alguns locais do planeta, pessoas celebram quando alguém é eliminado. Nós, israelenses, comemoraremos quando os reféns retornarem para casa, vivos. Existe uma oportunidade para uma libertação em massa de todos os sequestrados. É nossa obrigação aproveitá-la. Sinwar era um psicopata, um terrorista e um assassino em massa." 

Gil Dickmann, 32 anos, estudante de psicologia, morador de Tel Aviv. Quatro familiares foram sequestrados em 7 de outubro: dois acabaram executados; e dois, libertados

Maia Chmiel, 31, moradora de Tel Aviv. Prima dos irmãos Iair Horn, 46, e Eitan, 38, capturados do kibbutz de Nir Oz em 7 de outubro
Maia Chmiel, 31, moradora de Tel Aviv. Prima dos irmãos Iair Horn, 46, e Eitan, 38, capturados do kibbutz de Nir Oz em 7 de outubro (foto: Arquivo pessoal )

"A eliminação de Sinwar se soma a outros assassinatos, como parte da guerra pela qual atravessamos no decorrer do último ano. Essas eliminações não trazem alegria ao povo israelense. Apenas a devolução de todos os sequestrados nos trará felicidade! Por isso, devemos considerar a morte de Sinwar um ponto de inflexão e chegar a um acordo que liberte todos os 101 sequestrados. Os vivos, para a recuperação (física e mental); os assassinados, para o enterro." 

Maia Chmiel, 31, moradora de Tel Aviv. Prima dos irmãos Iair Horn, 46, e Eitan, 38, capturados do kibbutz de Nir Oz em 7 de outubro

Um terrorista forjado na prisão

Yahya Sinwar, executado depois de um ano de rastreamento por Israel
Yahya Sinwar, executado depois de um ano de rastreamento por Israel (foto: EPA)

Yahya Sinwar se forjou nas prisões israelenses e no aparato de segurança do Hamas antes de se tornar líder do movimento terrorista. Um dos arquitetos do ataque de 7 de outubro de 2023, foi rastreado por mais de um ano. Em agosto passado, Sinwar, 61 anos, sucedeu Ismail Haniyeh, assassinado em Teerã em um atentado atribuído a Israel. No entanto, desde 2017, ele liderava o Hamas na Faixa de Gaza.  Em 1987, quando a primeira Intifada (levante contra a ocupação israelense) eclodiu em um campo de refugiados no norte da Faixa, Sinwar, nascido em Khan Yunis, se juntou ao Hamas. Aos 25 anos, dirigia a unidade de inteligência do Hamas que punia os "colaboradores" palestinos com Israel. Em 1988, fundou o Majd, o serviço de segurança interna do Hamas. Um ano depois, foi preso e se tornou líder dos prisioneiros. Apesar de ter sido condenado várias vezes à prisão perpétua, foi solto em 2011 com mil outros detidos por um acordo com Israel em troca da libertação de Gilad Shalit, um soldado israelense feito refém pelo Hamas durante cinco anos. A mídia israelense publicou trechos dos interrogatórios de Sinwar. Em um deles, falava sobre o sequestro de um "traidor": "Nós o levamos para o cemitério de Khan Yunis (...), o coloquei em uma sepultura e o estrangulei com um keffiyeh (lenço palestino). Estava certo de que sabia que merecia morrer". 

Por Efraim Inbar

"Uma vitória para Israel"

"A eliminação de Yahya Sinwar tem o significado de uma vitória para Israel. O líder de uma organização terrorista foi morto. Isso é um golpe importante no Hamas. Eles perderam muitos de seus líderes. Sinwar não será o último, mas é óbvio que o Hamas está em apuros. É importante entender que a substituição de Sinwar não será fácil. Sinwar mostrava qualidades de grande liderança e coragem. Ele organizou os ataques de 7 de outubro. Não está claro se o Hamas será capaz de nomear um sucessor que chegue aos pés de Sinwar. Normalmente, a decapitação de uma organização terrorista a paralisa por um tempo. É mais provável que Mohammed Ibrahim Hassan Sinwar, irmão de Yahya, o suceda, mas ele não tem a mesma liderança."

Presidente do Instituto para Estratégia e Segurança de Jerusalém (JISS)

Por Barak Medina

Possibilidade de acordo 

"A esperança é de que a eliminação de Sinwar facilitará com que o governo israelense aceite um acordo para pôr fim à guerra. Um pacto que inclua a libertação dos reféns; o repasse do controle de Gaza para a Autoridade Palestina; a libertação de prisioneiros palestinos; a retirada de Israel do território palestino. Não está claro como isso ocorrerá, mas a probabilidade de algo assim é alta. O assassinato de Sinwar fornece a Netanyahu um 'panorama de vitória' do qual precisava. Não houve uma operação militar planejada. Os soldados simplesmente responderam a disparos efetuados de dentro do prédio onde Sinwar estava. Quanto ao Hamas, provavelmente haverá uma mudança de poder para um comando no exterior. Mas é muito cedo para dizer se isso mudará a objeção do Hamas a renunciar ao controle sobre Gaza."

Professor de direito na Universidade Hebraica de Jerusalém

 

Fonte: correiobraziliense

Participe do nosso grupo no whatsapp clicando nesse link

Participe do nosso canal no telegram clicando nesse link

Assine nossa newsletter
Publicidade - OTZAds
Whats

Utilizamos cookies próprios e de terceiros para o correto funcionamento e visualização do site pelo utilizador, bem como para a recolha de estatísticas sobre a sua utilização.