Um novo estudo da Universidade de East Anglia, nos Estados Unidos, revela um aumento alarmante de 60% nas emissões de dióxido de carbono (CO2) decorrentes de incêndios florestais globalmente desde 2001. Essa elevação é ainda mais acentuada em regiões sensíveis, como as florestas boreais do norte, onde as emissões quase triplicaram. Publicada na revista Science, a pesquisa analisa como os padrões de incêndios florestais são afetados por diversos fatores, agrupando diferentes áreas do mundo em "piromas" — regiões com características ambientais e climáticas semelhantes.
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O trabalho indica que, em um dos maiores piromas, que abrange florestas boreais na Eurásia e na América do Norte, as emissões de gases em razão de queimadas cresceram drasticamente. "Aumentos tanto na extensão quanto na gravidade dos incêndios florestais levaram a um aumento dramático na quantidade de carbono emitido globalmente", afirmou Matthew Jones, autor principal do estudo.
A pesquisa destaca que o aumento das emissões está associado a condições climáticas favoráveis a incêndios, como ondas de calor e secas. As florestas, que desempenham um papel crucial na remoção de CO2 da atmosfera, estão enfrentando desafios sem precedentes. O estudo indica ainda que a taxa de combustão de carbono, que mede a gravidade dos incêndios, aumentou em quase 50% em todo o mundo, desde 2001. "Mudanças surpreendentes na geografia global dos incêndios estão em andamento, explicadas principalmente pelos impactos crescentes das mudanças climáticas", acrescentou Jones.
Além das florestas boreais, o estudo também frisa que as emissões de incêndios extratropicais cresceram meio bilhão de toneladas anuais em comparação com duas décadas atrás. Conforme os cientistas, essa é uma preocupação significativa para as metas climáticas internacionais, especialmente considerando que queimadas mais intensas e frequentes podem ameaçar os esforços de reflorestamento e a capacidade das matas de armazenar carbono.
Os pesquisadores alertam que o sucesso das iniciativas de reflorestamento depende da preservação do carbono armazenado nas matas. "Incêndios florestais mais generalizados e severos indicam que as emissões estão desequilibradas com o carbono capturado pela recuperação pós-incêndio", afirmou o autor principal.
O estudo também destacou uma dinâmica interessante: enquanto as emissões de incêndios florestais aumentaram, a queima de savanas tropicais diminuiu em 25% desde 2001. Essa redução poderia mascarar os impactos crescentes das queimadas, levando a uma falsa sensação de segurança sobre a situação. "Até agora, a redução na queima nas savanas já propensas a incêndios mascarou aumentos na extensão e gravidade dos incêndios florestais que são extremamente consequentes para a sociedade e o meio ambiente", reforçaram os cientistas.
Conforme Marco Moraes, geólogo, autor do livro Planeta Hostil e divulgador científico, está muito clara a necessidade de um esforço global para que a detecção e o combate aos incêndios florestais sejam mais rápidos. "É preciso aprimorar o uso de satélites, drones, câmeras e outros meios de detecção. Possibilitar o deslocamento rápido das equipes de combate ao fogo, educar e treinar as comunidades para auxiliarem as equipes de combatentes e inibir os casos de incêndios provocados pela ação humana. Atualmente, combatemos incêndios com procedimentos e tecnologias que funcionavam, ainda que precariamente, num mundo menos aquecido. Precisamos adaptar nossas estratégias em função da nova realidade climática."
Para mitigar os impactos, os pesquisadores enfatizam a importância de uma mudança na gestão de incêndios. Segundo eles, um financiamento substancial é necessário para apoiar programas estratégicos de gestão florestal e engajamento comunitário.
Juliano Bueno, doutor em riscos e emergências ambientais, diretor técnico do Instituto Internacional Arayara, sublinha que as emissões de carbono na atmosfera pelo Brasil, em razão de incêndios, acumulam este ano. "(Verifica-se) um volume de 183 milhões de toneladas, dos quais um terço, 65 milhões de toneladas, foram apenas no mês de setembro. Temos, atualmente, elementos da ampliação de incêndios e o mascaramento de emissões em pastagens e savanas", disse.
De acordo com Bueno, ao final, o saldo é negativo. "No final do dia, temos o somatório das florestas incendiadas a um pós-El Niño e uma La Niña que, pela primeira vez, não baixou a temperatura planetária. Estamos em uma nova zona de risco climático", ressaltou. Raimundo Fabrício Paixão Albuquerque, professor de direito ambiental do centro de ensino Wyden e pesquisador de regularização de grandes terras e de crédito de carbono, ressalta que, no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 164.543 focos de incêndios florestais em 2024, um aumento de 107% em relação ao mesmo período de 2023.
"A maioria das queimadas ocorreu na Amazônia, 50,1%, seguida pelo Cerrado, 32,4%. Embora as autoridades atribuam mais de 90% desses incêndios a atividades humanas, a questão vai além, envolvendo o uso de combustíveis fósseis e a falta de políticas de energia renovável. No país, o tema frequentemente vira alvo de disputas político-partidárias, sem avanços concretos." Com o clima cada vez mais favorável a incêndios, a implementação de barreiras e áreas prioritárias para manejo florestal se torna indispensável. A pesquisa sublinha ainda que, para proteger ecossistemas florestais vitais e alcançar emissões líquidas zero, é fundamental agir rapidamente e de forma coordenada.
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