Era a última entrega da noite quando Alan José de Lima, de 35 anos, foi atacado por dois adolescentes em Dublin, na Irlanda.
O entregador brasileiro conta que, logo após fazer a entrega de comida em uma das casas da rua, às 22h, ele foi cercado por dois adolescentes - que gritavam e usavam touca ninja para cobrir o rosto - e foi golpeado com uma lixeira de ferro na perna esquerda.
Alan conta que caiu no chão na hora e não conseguiu mais levantar.
"Dava pra sentir que eles tinham ódio. Gritei help (ajuda, em inglês) o mais forte que consegui, senão eles iam me matar. A dor era insuportável. Eles quebraram o meu celular e levaram a minha bicicleta elétrica, que é o meu instrumento de trabalho."
O caso ocorreu em 12 de outubro, no bairro de Finglas, na zona norte de Dublin.
Alan foi socorrido por quatro irlandeses que passavam de carro na hora.
Ele foi levado para o hospital de Connolly Blanchardstown, onde foi operado e ficou internado por uma semana.
Alan sofreu ferimentos graves, incluindo fraturas na tíbia e no joelho, e precisou fazer cirurgia para inserção de placas de metal na perna.
“O médico me explicou que a lesão foi grave e muito próxima de uma artéria perto do joelho. Foram mais de 6 horas de cirurgia. Vou precisar de muita fisioterapia.”
A polícia irlandesa, que investiga o caso, não informou se os suspeitos foram localizados.
O caso foi amplamente noticiado pela imprensa irlandesa, publicado em jornais tradicionais, como o The Irish Times e o Irish Mirror, e foi mencionado como um ato de violência severa contra imigrantes.
Até 2021, antes de se mudar para Dublin, Alan era maratonista amador no Rio de Janeiro, e agora tem dúvidas se poderá voltar a correr.
Ele é de Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, e diz que decidiu imigrar para fugir da violência.
“Resolvi vir para a Europa em busca de descanso e paz. Vendi a minha casa própria do Brasil, que construí com muito esforço e sacrifício, para me mudar, porque eu não aguentava mais ser assaltado toda semana.”
O carioca que coleciona medalhas de corridas trabalhava no Brasil como vendedor de roupas e também salva-vidas.
Alan diz que o mais recente episódio de violência não é caso isolado.
“Não é a primeira violência que sofro aqui, sempre sou xingado e já jogaram ovo no meu olho no ano passado. Os 'nanas' nos agridem pela cor da nossa pele, porque somos estrangeiros”, diz.
'Nanas' é o apelido dado pela comunidade brasileira aos jovens que atacam indivíduos, frequentemente estrangeiros, na Irlanda. O relato é de que eles costumam andar sempre juntos, se dizem integrantes de gangues e usam moletons e tênis.
“Sinto muito medo. E é uma sensação de impotência. A gente não pode revidar nem em legítima defesa, senão toma cadeia.”
Na internet, a comunidade brasileira na Irlanda se mobilizou.
Como Alan ficará meses sem conseguir exercer a atividade de entregador, um grupo de amigos organizou uma vaquinha virtual que já arrecadou mais de 10 mil euros, com aproximadamente 400 doações. A ideia é que os recursos sejam destinados para o sustento de Alan nesse período e para a sua recuperação, como os custos de medicamentos, fisioterapia e também a compra de uma nova bicicleta.
Procurada pela reportagem, a Embaixada do Brasil em Dublin disse que tem prestado assistência consular e mantido contato com o Alan José de Lima.
“Foi-lhe oferecida a possibilidade de atendimento psicológico e fornecidas orientações para o encaminhamento jurídico do caso, bem como apoio na interlocução com as autoridades policiais. A Embaixada seguirá acompanhando o caso e prestando a assistência cabível ao brasileiro.”
A embaixada afirmou, ainda, que “acompanha com atenção todos os episódios de violência contra cidadãos brasileiros na Irlanda”.
“Neste ano de 2024, em pelo menos três ocasiões, representantes da Embaixada se reuniram com autoridades irlandesas, inclusive com o Comandante Geral da Polícia Nacional (Garda Síochána), para tratar do tema e solicitar medidas preventivas e informações sobre os encaminhamentos judiciais de casos que envolveram ataques a cidadãos brasileiros.”
“O Embaixador do Brasil na Irlanda também manteve reuniões com representantes da comunidade brasileira para colher informações e discutir com as autoridades irlandesas medidas em favor da segurança dos brasileiros.”
Fonte: correiobraziliense
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