A pandemia de covid-19 e a recente epidemia de ebola destacaram os danos que a intervenção humana pode causar à vida selvagem. Diante desse cenário, na Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica 2024 (COP16), em Cali, na Colômbia, especialistas e ativistas pedem que ações sejam tomadas para evitar episódios semelhantes. "Desmatamento, agricultura intensiva, comércio e exploração de animais selvagens são os principais responsáveis pela perda de biodiversidade e pelo surgimento de zoonoses", doenças que são transmitidas de animais para humanos, detalhou à AFP Adeline Lerambert, da ONG britânica Born Free e participante da conferência.
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Para os especialistas, é fundamental que os governos tomem medidas urgentes, especialmente diante dos avisos sobre a possibilidade de pandemias mais frequentes e mortais no futuro. "Quanto mais os humanos e seus rebanhos adentram áreas até então intocadas, com grande biodiversidade, maiores são as chances de surgirem novas cepas de vírus, que estão em constante mutação", afirmou Colman O'Criodain, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
Na COP16, será debatido um "plano de ação" que liga biodiversidade e saúde, a ser adotado pelos 196 países-membros da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB). O plano inclui compromissos para limitar a agricultura e a silvicultura, diminuir o uso de pesticidas, fertilizantes e produtos químicos prejudiciais, além de reduzir a utilização de antibióticos na criação de animais.
"Precisamos mudar nossa relação com a natureza se quisermos evitar novas epidemias e pandemias", destacou Sue Lieberman, vice-presidente da Wildlife Conservation Society, que está promovendo a adoção do plano.
"As pandemias do futuro serão mais comuns, vão se espalhar mais rapidamente, causarão danos maiores à economia global e resultarão em mais mortes do que a covid-19, a menos que mudemos nossa abordagem na luta contra doenças infecciosas", alerta a plataforma intergovernamental sobre diversidade biológica e serviços dos ecossistemas (IPBES).
Conforme os cientistas, as doenças zoonóticas podem surgir quando os humanos invadem florestas intocadas ou quando animais selvagens são transportados e comercializados, especialmente para consumo. "Quando os animais estão estressados em cativeiro, uns sobre os outros, eles liberam fluidos corporais que contêm vírus. Tudo está interligado. Tudo está conectado", ressaltou Lieberman.
O relatório do IPBES de 2020 pediu uma "mudança transformadora na abordagem global para o enfrentamento de doenças infecciosas". Estima-se haver 1,7 milhão de vírus em mamíferos e aves esperando ser descobertos, dos quais até 827 mil podem ter potencial para infectar humanos.
O plano em discussão na COP16 terá a autoridade moral de um documento adotado por consenso entre 196 países. "O texto está quase finalizado para adoção", afirmou a WWF, destacando que é "um passo positivo para a COP".
A ata menciona explicitamente os riscos de zoonoses causadas pela destruição de habitats e pela introdução de espécies exóticas invasoras. "Um plano de ação voluntário não terá efeito se um governo decidir ignorá-lo", enfatizou Lieberman, que é membro do grupo de trabalho. Contudo, ela acredita que o temor de uma nova pandemia motivará ações, especialmente em meio ao surto recente do vírus de Marburg, transmitido a humanos por morcegos, que aflige Ruanda. "Se nada for feito, se não houver mudanças, outra pandemia ocorrerá. A questão não é se, mas quando", alertou.
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