Depois de Israel concluir a chamada "Operação Dias de Arrependimento" e atacar o Irã, o Oriente Médio aguarda, com suspense, uma possível contra-ofensiva. A mídia saudita informou que os caças israelenses bombardearam uma usina iraniana de combustível sólido crucial para as indústrias de mísseis balísticos em Kheibar e em Qasem. O ataque destruiu por completo a instalação, deixou prejuízo de US$ 40 milhões e interrompeu a produção pelos próximos dois anos. Um balanço do Exécito iraniano indica que quatro militares foram mortos na retaliação israelense, a qual teria danifciado "sistemas de radar".
Fontes israelenses também relataram que também foram atingidas quatro baterias de defesa antiaérea S-300, estratégicas para proteger instalações nucleares e de energia. Outro alvo foi uma fábrica de drones. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Irã declarou que o regime teocrático islâmico "se considera no direito e na obrigação de se defender", ao denunciar uma "clara violação do direito internacional".
"A República Islâmica do Irã enfatiza o uso de todas as capacidades materiais e espirituais da nação iraniana para defender sua própria segurança e seus interesses vitais, bem como cumprir com seus deveres em relação à paz e à segurança regionais", acrescentou a chancelaria. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou que os bombardeios israelenses contra alvos militares "não alcançaram" as instalações nucleares iranianas. "Apelo à prudência e à moderação em relação às ações que possam colocar em perigo a segurança dos materiais nucleares e de outros materiais radioativos", declarou o diretor-geral da agência, Rafael Grossi.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou esperar que este seja "o fim", em uma alusão a uma possível resposta iraniana. Por sua vez, o ganinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descartou que a ofensiva tenha sofrido qualquer influência dos EUA.
Morador da região leste de Teerã, o cineasta Hesam Eslami, 46 anos, despertou às 4h deste sábado (26/10; 22h de sexta-feira em Brasília) ao som do sistema de defesa antiaéreo iraniano. "Não ouvi as explosões, que foram percebidas mais no oeste da capital. Mas, permaneci acordado por uma hora e procurei ler as notícias, em sites iranianos e na BBC. Às 5h, o Exército israelense comunicou que o ataque tinha sido concluído e, então, voltei para a cama", relatou ao Correio. Pela manhã, Eslamir se desparou com vários memes e piadas sobre a retaliação israelense nas redes sociais. "A cidade estava completamente normal. Busquei meu filho no jardim de infância e percebi que muitos pais tinham preferido deixar suas crianças em casa. Os jornais iranianos enalteceram o poder do sistema de defesa antiaérea."
Neutralização
Especialista em Oriente Médio pela Universidade de Harvard, o cientista político Majid Rafizadeh explicou ao Correio que a retaliação israelense restrita a instalações militares se encaixa na política de longa duração de neutralização das ameaças vindas do Irã e de seus aliados regionais. "Israel visa reduzir a influência do Irã na Síria e no Líbano, particularmente por meio do movimento xiita libanês Hezbollah e de outras milícias. Os ataques podem aumentar as tensões no Oriente Médio, ao refletirem a intenção de Israel de dissuadir as operações iranianas e sua vontade de responder preventivamente."
Para Rafizadeh, o risco de o Oriente Médio ser arrastado para uma guerra de larga escala aumentou de forma significativa. "Esse perigo se deve, em grande parte, às profundas rivalidades existentes entre as potências regionais e às alianças estratégicas que estão em jogo. O apoio militar ao Hezbollah e a milícias na Síria posiciona o Irã contra Israel e seus aliados ocidentais, especialmente os Estados Unidos", avaliou. O professor de Harvard acrescentou que qualquer escalada de um dos lados pode desencadear um conflito mais amplo e atrair atores regionais, como a Arábia Saudita e países do Golfo Pérsico, que se opõem às ambições regionais de Teerã. "Dada a complexa rede de alianças e inimizades, um conflito local poderá rapidamente evoluir para um confronto muito maior, com repercussões humanitárias e geopolíticas devastadoras", advertiu.
Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM, crê que a resposta de Israel possa inviabilizar uma justificativa maior do Irã para uma retaliação ao ataque da madrugada de ontem. "Isso se deve não apenas por pressão dos EUA, mas muito mais da China. Com uma economia ruim para os padrões chineses, em nada interessaria a Pequim ter uma escalada dos preços do petróleo. Por isso, não deve haver uma escalada da guerra regional", disse à reportagem. Ele não descarta uma ação bélica iraniana de menor proporção, talvez mais focada em interesses israelenses no Oriente Médio.
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