Mais de 2,4 milhões dos 2,7 milhões de uruguaios aptos a votar foram às seções eleitorais, ontem, no primeiro turno do pleito presidencial e parlamentar — um índice de comparecimento às urnas de 89%. O Uruguai conta com 3,4 milhões de habitantes. O esquerdista Yamandú Orsi, 57 anos, professor de história, afilhado político do ex-presidente José "Pepe" Mujica e candidato do partido de oposição Frente Ampla, confirmou o favoritismo nas pesquisas, mas não evitou o segundo turno. Orsi e Álvaro Delgado (centro-direita), do Partido Nacional, de 55 anos e ex-secretário da Presidência, travarão nova disputa direta em 24 de novembro, indicaram pesquisas de boca de urna e projeções com base na apuração inicial.
A boca de urna divulgada pelo instituto Cifra, por volta das 20h30 deste domingo (27/10), mostra que Orsi teve 44% dos votos contra 27% para Delgado. Por sua vez, uma projeção da empresa Equipos traz 43,2% para a Frente Ampla e 28% para o candidato do Partido Nacional. Um terceiro instituto, o Opción, aponta vitória de Orsi, com 42,3%, enquanto Delgado tem 27,8%.
Ao votar em Canelones, o departamento que governou por quase 10 anos, Orsi destacou a "saúde democrática" do Uruguai. Por sua vez, Delgado gabou-se de não precisar "fazer pré-temporada" para buscar votos. "A vantagem que tenho é fui secretário da Presidência", declarou.
Mudança
Depois de votar, o presidente Luis Lacalle Pou anunciou: "Hoje, o governo começa a mudar de alguma maneira". Ele confessou que se emociona muito com o processo eleitoral, prometeu uma transição "ordenada" e não respondeu se assumiria a cadeira no Senado à qual concorre. "Nos últimos dias, estive trabalhando, fazendo o que sempre quis ser: presidente da República", declarou. "A transição será bem ordenada, com o governo eleito. Nossa democracia é nossa e é muito linda. De cada lugar do país, de cada condição social, econômica e cultural, todos vão às urnas para votar. Às vezes, não valorizamos tanto, mas quando vemos o povo, junto, tomando mate e repartindo as listas (de candidatos), é algo que me emociona muito." Com apenas 50% de aprovação, Lacalle Pou (centro-direita) não pode disputar um segundo mandato consecutivo de cinco anos, segundo as normas estabelecidas pela Constituição.
O aumento da violência vinculada às drogas é um dos temas que mais preocupa a população uruguaio e que pode influenciar na escolha do próximo presidente e dos congressistas. O Uruguai é uma nação predominantemente agrícola, com elevada renda per capita e com baixos níveis de pobreza e desigualdade social, em comparação com os outros países da América Latina.
Plebiscitos
Os eleitores também se pronunciaram em dois plebiscitos. O mais polêmico deles, promovido pela central sindical única Pit-CNT com o apoio de setores da Frente Ampla, propõe a redução da idade mínima de aposentadoria de 65 para 60 anos e a proibição dos planos de previdência privados. Com 40,6% de apoio, a proposta não foi aprovada, segundo as projeções com base na apuração.
Analistas alertam que essa mudança constitucional, cujo custo mínimo seria de US$ 460 milhões (pu R$ 2,62 bilhões) por ano, poderia prejudicar as finanças de um país que ainda está se recuperando das consequências da pandemia de covid-19 e de uma seca recorde em 2023. Também precisa reduzir o deficit fiscal (-4,4% do PIB em agosto).
Outra proposta controversa — que autoriza a polícia a realizar operações nas residências em período noturno — também acabou rejeitada, ao ter o aval de 39,9% dos eleitores.
Sentado em uma cadeira de rodas, o ex-presidente José "Pepe" Mujica, 89 anos, foi um dos primeiros a votar na Escola 149, em Villa del Cerro, bairro de Montevidéu. "Talvez este seja o meu último voto. Talvez... Não tenho vontade de que seja (o último), mas...", afirmou o líder esquerdista que governou o Uruguai entre 2010 e 2015. Depois de lutar contra um câncer de esôfago e com a saúde bastante debilitada, Mujica fez uma defesa da democracia, ao falar com jornalistas. "Temos que apoiar a democracia, não porque seja perfeita, porque até agora, nós, humanos, não inventamos nada melhor", declarou. Para ele, o principal desafio do próximo governo será a segurança e o aumento da riqueza. "Se você quer distribuir, é preciso ter mais", explicou. Ao falar sobre a próxima geração de líderes, Mujica fez uma autocrítica. "Acredito nos jovens. O fato de não se interessarem por política é relativo (…) Se não se interessam, é porque não os fazemos se apaixonarem por ela."
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