Defensora do direito de as norte-americanas fazerem escolhas sobre o próprio corpo, inclusive de tomarem a decisão de abortarem, Kamala Harris atacou o rival Donald Trump por declarações que considerou "muito ofensivas" sobre as mulheres. Durante comício em Green Bay, no estado de Wisconsin, na noite de quarta-feira (30/10), o magnata republicano prometeu proteger as mulheres, "quer elas gostem ou não". "Eu quero proteger as mulheres do nosso país. (...) Eu vou proteger as mulheres, quer elas gostem ou não. Eu vou protegê-las dos migrantes que chegam, dos países que querem nos atingir com mísseis, e de muitas outras coisas", afirmou Trump.
De acordo com Kamala, os comentários de Trump são "ofensivos para todos os americanos". "São muito ofensivos para as mulheres, pois ele (Trump) não entende o poder que elas têm", sublinhou. Em Madison, (Wisconsin), onde teve compromissos de campanha, Kamala comentou a retórica do republicano, ao ser abordada por jornalistas. "Acho muito ofensivas (as declarações de Trump) para as mulheres, em termos de ele não entender a autonomia delas, a autoridade, o direito e a capacidade de tomarem decisões sobre as próprias vidas, incluindo seus corpos", afirmou. "Esta é apenas a mais recente de uma série de revelações do ex-presidente sobre como ele pensa sobre as mulheres e sua autonomia, de achar que as mulheres devem ser punidas por suas escolhas."
A democrata acusou o adversário de criar uma situação na qual uma em três mulheres vive em um estado onde ele proibiu o aborto ou que tenha restrições legais sobre o direito que elas deveriam ter de tomar decisões sobre o próprio corpo.
Mais tarde, no comício em Phoenix (Arizona), Kamala tornou a criticar o republicano. "Todos ouviram o que ele disse ontem (quarta-feira), que fará o que quiser, quer as mulheres gostem ou não?", perguntou aos simpatizantes. "Há um ditado que diz que você tem que ouvir as pessoas quando elas dizem quem são. Ele (Trump) não acredita que as mulheres devam ter autonomia e autoridade para tomar decisões sobre seus próprios corpos", ressaltou. Kamala afirmou, ainda, que o rival não respeita a liberdade ou a inteligência das mulheres para saber o que é do interesse delas.
Mary Ziegler, professora de direito da Universidade da Califórnia, Davis, e especialista em políticas reprodutivas, disse ao Correio não ter certeza sobre o que Trump quis dizer com a fala sobre a proteção às americanas. "Presumo que ele quis dizer que saberá o que é melhor para as mulheres do que as próprias eleitoras saberão — e que as suas políticas nas fronteiras ou tarifárias as beneficiarão", avaliou. "Pela fala de Trump, existe claramente uma suposição de que as mulheres precisam de proteção e não de poder para si mesmas."
De acordo com Ziegler, o ex-presidente republicano tem se mostrado bastante vago sobre a questão do aborto. "No entanto, sua posição em geral tem sido a de que todos adoram o que ele faz sobre o aborto, e que as mulheres irão se beneficiar das políticas de seu governo", observou. "Essas declarações nem sempre estão alinhadas com os fatos e posicionam as mulheres como pessoas muito fracas para se protegerem."
A cinco dias das eleições, Trump e Kamala priorizaram a crise migratória em seus compromissos de campanha. O republicano visitou Albuquerque, no Novo México, e tentou se retratar de declarações feitas pelo humorista Tony Hinchcliffe, em que comparou Porto Rico a uma ilha flutuante de lixo. "Amo os hispânicos. São muito trabalhadores e empreendedores, e são grandes pessoas. E são carinhosos, às vezes carinhosos demais para dizer a verdade", declarou Trump.
As mais recentes pesquisas mostram que Kamala vencerá no Novo México. No entanto, o magnata tornou a atacar os estrangeiros não documentados. "Os migrantes ilegais que chegam a este país matam gente todos os dias" e "estão desatando uma violenta onda de assassinatos por todos os Estados Unidos", afirmou em Albuquerque, sem provas. No comício, ele silenciou em relação à fala sobre as mulheres. No fim da tarde, ele desembarcou em Henderson, no estado de Nevada, e fez um comício no qual atacou a adversária. "Ninguém sabe quem é Kamala Harris", ironizou.
"O 5 de Novembro será o dia da libertação dos Estados Unidos", ressaltou, ao avisar que levará adiante o maior programa de deportação em massa da história dos Estados Unidos. Uma promessa que Trump tem feito em todos os comícios, nas últimas semanas. O republicano responsabilizou Kamala pela crise migratória e pela entrada de "criminosos" nos Estados Unidos. "Nós queremos que as pessoas entrem legalmente, não queremos assassinos nem traficantes de drogas", declarou, ao equiparar os estrangeiros não documentados a marginais.
Trump cedeu o púlpito aos pais de Nicholas Douglas Quets, um fuzileiro naval assassinado em uma rodovia do México, supostamente por integrantes de um cartel do narcotráfico. Ambos agradeceram ao ex-presidente pela visibilidade do caso. O magnata disse que, depois de expulsar os ilegais do país, trabalhará pelo crescimento da economia norte-americana.
Por sua vez, Kamala visitou, ainda, Las Vegas, também em Nevada, e fez comício com a participação da cantora Jennifer López e da banda mexicana Maná. Antes, em Phoenix (Arizona), ela contou com a apresentação de Los Tigres del Norte, uma banda muito popular entre os mexicanos. Historicamente, os latinos votam em peso nos democratas. Uma pesquisa do The New York Times/Siena, que se centrou nessa parcela da população, mostra que Kamala tem 52% das intenções de votos frente a 42% para Trump.
Duas sondagens da CNN, conduzidas pelo instituto SSRS, indicam que Trump tem vantagem de um ponto percentual em relação a Kamala — 48% a 47% — na Geórgia. Kamala vence na Carolina do Norte com a mesma margem: 48% a 47%.
"É justo assumir que o aborto e os direitos reprodutivos serão uma questão importante nesta eleição. Sabemos que está no topo das questões para as eleitoras, especialmente aquelas em idade reprodutiva. Os temas estão tornando competitiva uma eleição na qual os eleitores parecem descontentes com a direção do país e da economia. Se é o suficiente para empurrar Kamala Harris para a vitória ainda não está claro."
Mary Ziegler, professora de direito da Universidade da Califórnia, Davis; especialista em políticas reprodutivas e atenção à saúde
Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington), ficou conhecido por ter acertado previsões sobre as eleições presidenciais norte-americanas dos últimos 40 anos. Lichtman se baseia em um sistema de 13 chaves desenvolvido pelo geofísico russo Vladimir Keilis-Borok, em 1981. Se seis ou mais chaves são falsas, o partido no poder deve perder a eleição, segundo o método. Ao Correio, o estudioso garantiu que mantém a previsão de vitória de Kamala Harris nas eleições da próxima terça-feira. "Minha previsão não segue as pesquisas nem os especialistas, também não oscila com eventos de campanha", afirmou, por e-mail. "Quatro das chaves são falsas, relacionadas a mandato, incumbência, fracasso estrangeiroo ou militar e carisma do titular no poder. São duas chaves a menos do que as necessárias para prever a derrota de Kamala e dos democratas", acrescentou.
Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, que chegou a ser republicano, oficializou o endosso a Kamala e anunciou que votou na democrata "sem hesitação". Ele afirmou que, apesar de discordar da democrata em alguns temas, aplaudiu a posição da vice-presidente em relação a políticas sobre direitos reprodutivos das mulheres, imigração, armas e crise climática. Bloomberg instou os eleitores indecisos de "todas as vertentes políticas" a cerrarem fileiras em torno de Kamala. Na quarta-feira, o ator e ex-governador republicano da Califórnia Arnold Schwarzenegger declarou voto na democrata. Ontem, foi a vez do astro do basquete LeBron James.
O executivo bilionário Elon Musk se ausentou de uma audiência na Filadélfia, na qual a Justiça condena sua decisão de sortear US$ 1 milhão aos eleitores que se registrarem para votar nas eleições da próxima terça-feira. O advogado de Musk ironizou que seu cliente não poderia "se materializar" no tribunal depois de receber a convocação apenas na véspera. "Advogado, ele não vai entrar em um foguete e pousar no prédio", respondeu o juiz Angelo Foglietta. Musk teria concedido 13 cheques de US$ 1 milhão dentro da iniciativa.
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