"Estamos cansados, mas ainda temos bastante ânimo para ajudar nesse terceiro dia", diz a paulista Andrea Bonin.
Enquanto caminha por mais de uma hora com um grupo que carregava pás e rodos nas mãos, Bonin atende uma ligação da BBC News Brasil para contar como está a situação nos arredores de Valência, terceira maior cidade da Espanha.
Ela mora a poucos quilômetros de uma das áreas mais afetadas pela enchente histórica que fez grandes estragos na parte leste do país na última terça-feira.
Como boa parte das estradas continuam bloqueadas por conta de carros abandonados e várias pontes caíram, o acesso a esses locais só é possível a pé.
Através da sua conta do Instagram a brasileira conseguiu reunir um grupo de 30 pessoas que na manhã desta sexta-feira estava caminhando até as pequenas cidades mais afetadas da região para levar doações.
O grupo carregava itens de primeira necessidade, fraldas, água, lenços umedecidos, leite, alimentos que já preparados e produtos de higiene.
Uma cena que se repetiu ao longo do dia na região leste da Espanha, centenas de voluntários caminharam quilômetros pelas estradas para ajudar nessa força-tarefa conjunta.
A ajuda de voluntários tem sido tão grande que a?Defesa Civil do país pediu para que as pessoas deixem de caminhar até as regiões afetadas para que o fluxo de pessoas não atrapalhe nos resgates.
Até agora o número de vítimas já passou de 205, nessa que já é considerada a pior catástrofe climática dos últimos 60 anos na Espanha.
Andrea, que mora em Valência há seis anos, conta que começou a ajudar quando recebeu o pedido de uma amiga brasileira que estava presa dentro da sua própria loja com seu bebê. "Ela ligou desesperada pedindo ajuda já com a água na cintura. Na hora entrei em contato com os serviços de emergência, mas eles disseram que não poderiam chegar até lá porque as pontes tinham caído e o acesso era difícil. Então eu e meu marido fomos para lá, conseguimos resgatá-la e a trouxemos para a nossa casa", relembra.
Desde então, Andrea não parou de receber pedidos de outros brasileiros que estão precisando de ajuda ou querem encontrar familiares. Ela tenta chegar até a casa dessas pessoas para comprovar que estão bem. "A maioria dos pedidos que recebo é de brasileiros, já que tudo o que posto nas redes sociais é em português", explica.
Como algumas estradas seguem bloqueadas, caminhões não estão conseguindo abastecer o comércio dessa região. Andrea conta que faltam produtos e alimentos nos supermercados, até mesmo na capital Valência que não foi afetada.
"Não tem mais nada nas prateleiras porque as pessoas começam a se desesperar e compram o que não precisam por medo de ficarem sem, então acabam pegando mais do que é necessário e faltam produtos para quem realmente está precisando neste momento", desabafa.
A voluntária não consegue calcular o número de pessoas que já conseguiu ajudar até agora. "A maioria das pessoas que a gente tem socorrido são brasileiras. Conheço várias amigas que perderam loja, carros e até mesmo as suas casas", conta.
Durante a forte tempestade, em poucas horas caiu o equivalente a um ano de chuva. Três dias já passaram do início da tragédia e alguns lugares seguem sem água potável e algumas casas continuam sem energia elétrica. O governo da região de Valência anunciou que vai liberar nos próximos dias dinheiro para que as vítimas possam comprar móveis e reparar sus casas. "O governo está fazendo a sua parte, mas se não fosse pela população que está aqui com a mão na massa a situação seria bem pior", diz a brasileira.
A polícia espanhola segue fazendo buscas com drones e helicópteros nas áreas mais afetadas. Militares também foram enviados para a ajudar na região. Dezenas de corpos já foram retirados de dentro dos carros. Na hora da tempestade as pessoas quiseram salvar seus veículos e acabaram ficando presas dentro das garagens.
Até agora o governo não divulgou um número oficial de desaparecidos, mas calcula-se que esse número seja grande.
"A gente que está aqui desde o primeiro dia sabe que o número de vítimas vai aumentar ainda mais. Tem lugares que continuam inacessíveis, muito barro, muita gente incomunicável. É muito grande esta catástrofe, maior do que muita gente pode imaginar", se emociona ao contar.
Andrea diz que o plano é continuar atendendo as chamadas que forem chegando e ajudar a população a retirar o barro das casas.
"Estou em estado de choque, estou me movendo para fazer o que tem que ser feito e ainda não parei realmente para ver como estou. A gente está para o que der e vier. Cada dia é um cenário, cada dia é uma história", diz.
Na Espanha a população segue doando alimentos e roupas em várias cidades. Em Valência um dos pontos de recolhida é o estádio de futebol, o Mestalla. Várias partidas de futebol, entre elas a do Real Madrid contra o Valência, que deveriam ser disputadas neste fim de semana, foram adiadas por causa das inundações.
Fonte: correiobraziliense
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