O dólar atingiu o maior valor de câmbio, nesta sexta-feira (1º/11), desde março de 2020. Diante disso, surgem especulações sobre qual vai ser o comportamento da moeda a partir de agora, como, por exemplo, se vai ultrapassar os R$ 6, ou se deve voltar a um patamar próximo a R$ 5,40, como em meados de setembro.
Nesse contexto, especialistas avaliam que é importante ficar atento e evitar gastos desnecessários, principalmente se envolverem diretamente produtos e serviços importados ou lastreados na divisa norte-americana. Na avaliação do doutor em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Benito Salomão, também é bom observar se o movimento de alta é algo mais pontual ou que deve se refletir a médio e longo prazo.
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“Se for um movimento causado pontualmente, nós não temos maiores preocupações a respeito disso. Porque o câmbio vai voltar e isso não vai ter maiores implicações”, explica Salomão.
“Agora, se não for um movimento pontual, se for um movimento persistente, aí há muitos problemas que isso pode trazer. O primeiro problema é o repasse disso para preços domésticos, através das importações mais caras”, acrescenta.
Ao considerar um cenário de alta duradoura, o aumento do dólar deve causar um efeito cascata sobre a economia brasileira, com impacto direto ou indireto sobre diversos setores, como explica o economista Samuel Dourado, especialista em macroeconomia. “Sob a perspectiva do consumidor final, o aumento do dólar tem aspecto inflacionário pois encarece itens básicos como alimentação, transporte, vestuário, itens de tecnologia”, expõe.
A curto prazo, o consumidor final sente o impacto nos setores de alimentação e transportes por serem commodities negociadas em dólar e com reajustes diários. Já em um espaço de tempo mais amplo, é possível observar impacto em itens importados, como vestuário e de tecnologia, explica Dourado.
“O consumidor final vai ser afetado pelos impactos diretos e indiretos. O impacto direto é o reajuste dos produtos e serviços, itens de alimentação, vestuário e tecnológicos. O impacto indireto é o repasse nos custos pelas empresas. Por exemplo, o dólar aumenta o valor da gasolina. As empresas que utilizam transporte rodoviário repassam este aumento de custo para o consumidor final”, conclui.
Para quem planeja viajar para o exterior, a indicação comum é comprar dólares — ou a moeda local — aos poucos. Neste momento, o conselho é mais contundente ainda para os que têm viagem programada para as férias do meio do ano que vem, por exemplo. O professor de Turismo na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Alexandre Biz, explica que essa é a melhor saída.
“Então, se você vai viajar em julho do ano que vem, vai comprando um pouquinho hoje, espera abaixar um pouco e vai comprando. Porque ter uma ideia de como vai estar o dólar ou a libra para daqui dois, três ou quatro meses é muito difícil”, considera.
Já para quem planeja viajar a curto prazo, a saída é um pouco mais difícil. Com a proximidade das eleições nos EUA, que ocorrem na próxima terça-feira (5/11), o mercado já precifica uma possível vitória de Donald Trump, que sobe nas pesquisas eleitorais, e é visto pelo mercado pelas políticas expansionistas e pela defesa de uma moeda forte.
Além disso, é necessário atentar-se ao valor do dólar turismo, que geralmente varia em cada cidade ou casa de câmbio no país. “Então se o valor do dólar comercial hoje é R$ 5,87, isso significa que amanhã, para as operadoras e para as companhias aéreas, o valor estará mais alto”, alerta.
Em um contexto de alta instabilidade e com poucas certezas, o mercado financeiro tem reagido de maneira mais rápida e contundente diante de movimentos pontuais da economia, tanto no exterior quanto no Brasil. Com essa percepção, o professor de Economia do Ibmec-DF William Baghdassarian, avalia que o mercado age de maneira “menos racional” do que em outros momentos.
“Ele se comporta de acordo com os incentivos que a gente espera. A gente tem incentivos que deveriam trazer o câmbio para baixo, mas outros incentivos que são, às vezes, muito mais frágeis e acabam fazendo com que o câmbio vá na outra direção”, analisa.
Já na avaliação do professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto Luciano Nakabashi, o principal motivo da depreciação cambial é a incerteza fiscal. Nesta última semana, o mercado reagiu mal diante das falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que disse que não havia data para o anúncio de novas medidas de corte de gastos. No dia seguinte, o chefe da Pasta adiantou que isso deve ser feito em novembro.
“A gente tem mais incerteza e isso afeta a expectativa de mais depreciação futura, você acaba reduzindo também o investimento do pessoal que faz investimento em carteira, investimento financeiro”, pontua o especialista.
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