O ex-presidente da Bolívia Evo Morales disse, nesta sexta-feira (1º/10), que iniciará uma greve de fome até que o governo do presidente Luis Arce estabeleça o diálogo acerca das crises política e econômica do país.
Morales ainda denunciou a perseguição política da atual gestão. “Decidi, para viabilizar o diálogo, iniciar uma greve de fome até que o governo instale duas mesas de diálogo. Primeiro, para o tema econômico, e segundo, para o tema político. Tem dirigentes injustamente presos, processados”, declarou.
Ele ainda pediu para os apoiadores liberarem as estradas, que estão bloqueadas há 19 dias, para evitar conflitos "de sangue" e problemas econômicos na Bolívia.
O anúncio ocorreu no mesmo dia em que apoiadores de Morales ocuparam três quartéis e fizeram militares reféns na região de Cochabamba. Um deles fica em Chapare, onde 20 militares foram sequestrados. O caso foi denunciado pelas Forças Armadas do país.
"Lembramos que qualquer pessoa que pegue em armas contra a pátria é considerada traição e levante armado contra a segurança e soberania do Estado", informou a instituição.
O comandante interino das Forças Armadas, o general Gerardo Zabala, fez um alerta aos sequestradores. "Não toquem nos meus soldados nem em seus instrutores", afirmou.
As ocupações dos quartéis ocorreram em resposta ao envio de batalhões e tratores, nesta sexta, para desmontar barricadas de apoiadores de Morales que obstruem estradas na região da Cochabamba.
Os manifestantes denunciam uma suposta "perseguição judicial" contra Evo, investigado pelo suposto abuso de uma menor de idade durante mandato (2006-2019). Ele nega as acusações. O ex-presidente passou de aliado a inimigo do atual governante do país, Luis Arce, no ano passado.
As manifestações começaram em defesa de Evo, mas agora também reivindicam a renúncia do presidente Luis Arce, pois ele ainda não encontrou uma saída para a crise econômica causada pela falta de dólares — o que restringiu as importações de combustível vendido pelo país.
Arce exigiu o mapeamento de todos os pontos de bloqueio de estradas na quarta-feira (30/10) e ameaçou exercer os "poderes constitucionais" para retirar os protestantes.
O atual presidente foi ministro da Economia no governo de Morales e indicado por ele na primeira eleição após o golpe de Estado de 2019, no qual Evo foi pressionado pelas Forças Armadas a renunciar.
A aliança entre os dois foi estremecida pelas ambições de Evo de disputar a próxima eleição presidencial, em 2025, que causaram uma divisão no Movimento ao Socialismo (Mas). Arce foi expulso da sigla.
A tensão aumentou quando o Ministério Público pediu a prisão de Morales devido a uma investigação sobre um suposto abuso de uma menor de idade em 2015. O ex-presidente acusou o governo Acre de orquestrar "uma mentira" para tirá-lo do pleito presidencial, uma vez que o caso foi encerrado em 2020.
No domingo (26/10), Evo Morales publicou um vídeo nas redes sociais em que relatava ter sido alvo de um ataque a tiros durante uma tentativa de prisão. Na gravação, o ex-presidente aparece ao lado do motorista. "Estão atirando em nós, estão nos detendo; rapidamente, mobilizem-se".
As imagens mostram marcas de tiros no veículo e o motorista ferido. A rádio boliviana Kawsachun Coca disse que 14 tiros foram disparados. Morales denunciou o episódio à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e exigiu a demissão do ministro de Governo e do de Defesa.
O governo Arce, por sua vez, acusou Evo de armar um "teatro" com o suposto atentado, indicando que os tiros disparados contra o carro que aparece na gravação foram feitos depois de ele tentar furar um posto de controle da polícia.
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