12 de Novembro de 2024

Kemi Badenoch: quem é a 1ª mulher negra a liderar um grande partido político no Reino Unido


Assim como sua heroína política, Margaret Thatcher, Kemi Badenoch — que é a nova líder conservadora no Reino Unido — divide opiniões até mesmo dentro de seu próprio partido.

Suas opiniões robustas, valores "anti-woke" e estilo prático fizeram dela uma queridinha da direita conservadora e das bases do partido. Eles a escolheram em vez do colega de direita Robert Jenrick.

Como primeira mulher negra a liderar um grande partido político do Reino Unido, ela fez história. Mas ela não é fã da política identitária e provavelmente não falará muito disso enquanto se prepara para trabalhar na tarefa formidável de restaurar a abalada fortuna de seu partido.

A análise da ex-secretária de negócios sobre o que deu errado para os conservadores na eleição geral é que eles "falaram sobre direita, mas governaram como esquerda" e precisam "parar de agir como trabalhistas" para reconquistar o poder.

É uma promessa que ela colocou no centro de sua campanha de liderança conservadora, que se concentrou em mudar a mentalidade do Estado britânico, em vez de estabelecer políticas detalhadas.

Nascida em Wimbledon, em 1980, Olukemi Adegoke era uma das três crianças de pais nigerianos. O pai dela trabalhava como clínico geral e a mãe era professora de fisiologia.

Kemi é casada desde 2012 com o banqueiro Hamish Badenoch, que cresceu em Lagos, na Nigéria, e nos Estados Unidos, onde a mãe dava aulas. O casal têm três filhos.

Aos 16 anos, Kemi voltou para o Reino Unido para morar com uma amiga da mãe por causa da piora da situação política e econômica na Nigéria. Ela estudou em uma faculdade no sul de Londres enquanto trabalhava no McDonald's e em outros lugares.

Depois de concluir um curso de engenharia da computação na Universidade de Sussex, trabalhou em TI, enquanto também fazia uma segunda graduação em direito.

Ela então mudou para a área de finanças, tornando-se diretora associada do banco privado Coutts. Mais tarde, trabalhou como diretora digital da influente revista de apoio conservador The Spectator, uma função não editorial.

De acordo com Blue Ambition, uma biografia escrita pelo colega conservador Lord Ashcroft, foi na Universidade de Sussex que Badenoch adquiriu o gosto pela política de direita. Lá ela seguiu pela direção oposta da cultura de esquerda do campus.

Mais tarde, ela descreveu os ativistas estudantis de lá como a "elite metropolitana mimada e privilegiada em treinamento".

Badenoch se juntou ao Partido Conservador em 2005 — aos 25 anos — e concorreu sem sucesso ao Parlamento, em 2010, e à Assembleia de Londres, em 2012.

Quando dois membros da Assembleia Tory, incluindo Suella Braverman, foram eleitos MPs (Membro do Parlamento) em 2015, ela assumiu uma cadeira vaga na Assembleia.

Ela apoiou o Brexit no referendo de 2016, antes de realizar sua ambição de se tornar uma MP um ano depois, para a cadeira conservadora segura de Saffron Walden, em Essex.

Badenoch passou três anos pulando entre cargos governamentais juniores quando, em 2022, ela se juntou ao rápido êxodo ministerial que derrubou Boris Johnson.

Para a surpresa de muitos de seus colegas, Badenoch então se juntou à disputa para suceder Johnson, apesar de nunca ter estado no gabinete.

O que começou como uma campanha de longo prazo, com o apoio principalmente de amigos leais que também entraram no Parlamento em 2017, rapidamente ganhou força e apoio de peso na forma de Michael Gove.

Badenoch finalmente ficou em quarto lugar com o apoio de 59 parlamentares — mais do que os 42 que foram suficientes para ela terminar no topo da fase parlamentar da atual eleição de liderança.

Sua abordagem direta, instruindo seus colegas a "dizer a verdade", rendeu a Badenoch um papel maior no Partido Conservador e era inevitável que Liz Truss escolhesse nomeá-la para o gabinete — tornando-a secretária de comércio internacional.

Rishi Sunak a manteve no cargo, adicionando os briefings de negócios, mulheres e igualdades.

O tempo dela no Parlamento foi caracterizado por sua franqueza e disposição para se envolver em questões polêmicas.

Como ministra júnior de igualdades sob Johnson, ela enfureceu muitos na esquerda quando desafiou a noção de que havia racismo institucional generalizado na Grã-Bretanha.

Em uma entrevista à LBC, ela disse que havia sofrido preconceito apenas de esquerdistas.

"Vim para este país com 16 anos e agora estou concorrendo a primeira-ministra — não é incrível? Nasci neste país, mas não cresci aqui.”

"Não entendo por que as pessoas querem ignorar todas as coisas boas e focar apenas nas coisas ruins, e usar as coisas ruins para contar a história", acrescentou.

Ela se autodenomina uma feminista crítica de gênero e tem sido uma oponente declarada de movimentos para permitir a autodeclaração da identidade transgênero.

Como ministra do gabinete responsável por mulheres e igualdades, ela liderou o bloqueio do governo do Reino Unido ao Projeto de Lei de Reforma do Reconhecimento de Gênero na Escócia.

Respondendo ao relatório Cass sobre serviços de identidade de gênero no NHS, ela disse que eles foram "sequestrados por ideólogos" enquanto os críticos foram "amordaçados", resultando em crianças sendo machucadas.

Ela também se opôs a banheiros neutros, em termos de gênero.

Em 2021, membros do próprio governo incentivaram num painel que ela “reconsiderasse sua posição” em relação aos direitos LGBT+, por entregar uma promessa de manifesto para proibir a chamada terapia de conversão.

Badenoch é frequentemente rotulada como uma "guerreira cultural", mas ela contesta a etiqueta.

Às vezes acusada de querer começar uma briga em uma sala vazia, ela diz que não gosta de brigar — mas está preparada para lutar para defender os princípios conservadores.

Isso é simultaneamente o que a torna querida pelos parlamentares conservadores e o que deixa alguns deles ansiosos.

Durante os estágios iniciais da eleição de liderança, vários parlamentares conservadores disseram à BBC que estavam inclinados a apoiar Badenoch, mas foram desencorajados por interações turbulentas enquanto ela estava no governo.

Para seus apoiadores, esse é o ponto: ao contrário de outros ministros, ela estava disposta a dizer aos parlamentares o que acreditava e defender isso abertamente.

Na véspera da conferência do partido deste ano, em Birmingham, ela ganhou as manchetes com uma afirmação de que nem todas as culturas eram "igualmente válidas", citando como exemplo "culturas onde as mulheres são informadas de que não devem trabalhar".

Ela também chamou a atenção em Birmingham por brincar que 5 a 10% dos servidores públicos eram tão ruins que deveriam estar na prisão. Ela negou veementemente ter intimidado funcionários.

Mas ela voltou atrás após uma entrevista na qual pareceu sugerir que o nível atual de salário-maternidade era "excessivo". Kemi alegou que suas palavras foram "deturpadas", dizendo que estava falando sobre regulamentação empresarial excessiva e que o salário-maternidade era "uma coisa boa".

Em 2018, Badenoch admitiu que, uma década antes, havia invadido o site da então líder da Câmara dos Comuns e vice-líder trabalhista, Harriet Harman, por brincadeira. Harman aceitou o pedido de desculpas.

Entre as brigas públicas, em fevereiro, ela acusou o presidente dos Correios, que ela havia demitido, de buscar "vingança" ao "inventar" alegações de que ele teria sido instruído a atrasar os pagamentos de indenização para subchefes de correios afetados pelo escândalo Horizon IT.

Henry Staunton disse que pediram para que ele atrasasse os pagamentos para permitir que o governo "entrasse mancando na eleição", aparentemente para aliviar as finanças públicas.

Badenoch também não se esquivou de conflitos públicos com parlamentares do seu próprio lado ideológico — incluindo quando ela rejeitou os apelos para tornar ilegal a discriminação contra pessoas que passam pela menopausa.

Ao comparecer perante um comitê da Câmara dos Comuns, ela disse à presidente Caroline Nokes que "muitas pessoas" queriam usar a lei de igualdade como "uma ferramenta para diferentes agendas e interesses pessoais".

Durante sua campanha de liderança, Badenoch falou sobre o conservadorismo estar "em crise" —sob ataque de uma nova "ideologia progressista" envolvendo "política de identidade" (política baseada em uma identidade específica, como raça, religião ou gênero), intervenção constante do Estado e "a ideia de que burocratas tomam melhores decisões do que indivíduos" ou políticos eleitos.

Apesar dos conservadores estarem no poder há 14 anos, ela argumenta que aumentos nas regulamentações governamentais e gastos públicos prejudicaram o crescimento econômico e polarizaram o país.

Ela rejeitou o apelo de Robert Jenrick para que as principais políticas do partido fossem resolvidas agora, dizendo que o "sistema do Reino Unido está quebrado" e precisa de uma redefinição.

O Partido Conservador, diz ela, precisa voltar aos seus valores essenciais e criar novas políticas que reconheçam essa realidade.

Fonte: correiobraziliense

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