22 de Novembro de 2024

Depois de chegar ao poder, Trump pode escapar dos tribunais


Antes mesmo de retornar à Casa Branca, o republicano Donald Trump começa a ter o caminho traçado para a impunidade. O presidente eleito responde a pelo menos seis casos na Justiça: fraude no valor de suas propriedades para pagar menos impostos; abuso sexual contra a escritora E. Jean Carroll; falsificação de documentos para ocultar propina à ex-atriz pornô Stormy Daniels; posse de documentos confidenciais da Casa Branca; tentativa de manipular as eleições de 2020, na Geórgia; e tentativa de permanecer no poder após a derrota para Joe Biden, com a incitação de seus simpatizantes a invadirem o Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

Nesta sexta-feira (8/11), a juíza do caso contra Trump por conspiração para reverter os resultados eleitorais de 2020 acatou o pedido do procurador especial, Jack Smith, e suspendeu todos os prazos do calendário prevista para os trâmites no tribunal. Smith alegou a necessidade de dar à acusação "tempo para analisar essa situação sem precedentes e determinar o rumo a seguir em conformidade com a política do Departamento de Justiça". A previsão é de que Smith apresente "o resultado das deliberações" até 2 de dezembro.

O ataque ao Capitólio também pode ficar impune. Os acusados pela invasão aguardam um indulto presidencial. Nas últimas 72 horas, advogados de vários deles entraram com recursos pedindo o adiamento da audiência, uma tentativa de atrasar a leitura da sentença, apesar de terem sido declarados culpados.

Segundo a agência France-Presse, Anna Lichnovski, uma das acusadas, contra quem os promotores pediram um ano de prisão, recorreu, sem sucesso, ao juiz para que adiasse a sentença, marcada para a sexta-feira "após a posse" de Trump, "a fim de permitir que ela solicite um indulto presidencial". Durante a campanha eleitoral, o republicano chegou a descrever o 6 de janeiro de 2021 como "o dia do amor" e do "transbordamento de afeto" por ele.

Perdão

O iraniano-americano Neama Rahmani, ex-procurador federal e advogado, disse ao Correio que, com o retorno à Casa Branca, os problemas de Trump e dos réus condenados por invadirem o Capitólio deixarão de existir. "Espero que Trump cumpra com a promessa e perdoe os acusados pelo ataque ao Congresso, ao menos aqueles que não se engajaram em atos de violência", afirmou.

Simpatizantes de Trump, incluindo o "Xamã", dentro do Congresso
Simpatizantes de Trump, incluindo o "Xamã", dentro do Congresso (foto: AFP)

Ele ressaltou que um presidente em exercício não pode ser processado. "O caso envolvendo a tentativa de manipulação das eleições de 2020, na Corte Distrital do Distrito de Colúmbia, será encerrado. O Departamento de Justiça também abandonará a apelação contra o arquivamento do caso envolvendo a posse ilegal de documentos confidenciais da Casa Branca na mansão de Mar-a-Lago, na Flórida", explicou Rahmani. Segundo ele, se por algum motivo, o procurador especial Jack Smith se recusar a encerrar os casos, Trump poderá ordenar que o procurador geral o demita. 

Quanto ao caso envolvendo a fraude de documentos para ocultar o pagamento de suborno para a ex-atriz pornô Stormy Daniels, uma tentativa de silenciá-la sobre um relacionamento extraconjugal, Rahmani disse ter dúvidas de que o juiz Juan Merchan sentencie Trump à prisão. "A vitória do republicano nas eleições torna uma detenção logisticamente impossível. Certamente, Trump não cumprirá uma pena de prisão em momento algum", comentou. 

Ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York, Roland Riopelle aposta que Trump buscará a impunidade. "Os casos federais serão encerrados, enquanto os casos estaduais serão suspensos", admitiu ao Correio. "Quanto ao caso da invasão ao prédio do Congresso, acho que Trump perdoará os réus. Durante a campanha, ele anunciou que tomaria a medida. Eu acredito que ele, provavelmente, o fará." Por sua vez, Ronald Sievert — professor da Faculdade Bush de Governo e Serviço Público da Universidade Texas A&M — concorda com os colegas que os casos investigados por Jack Smith serão derrubados. Segundo ele, a acusação pelo pagamento de propina a Stormy Daniels tem "camadas de erro reversível". "O juiz chegará a uma sentença, o caso irá à apelação, e o presidente provavelmente ganhará o recurso. Os erros no julgamento são descarados e prejudicias", observou.

2018. Crédito: Arquivo Pessoal. Mundo. Roland Riopelle, ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York.
2018. Crédito: Arquivo Pessoal. Mundo. Roland Riopelle, ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York. (foto: Arquivo pessoal)

"Trump não precisará conceder o autoperdão. Ele instruirá o Departamento de Justiça a encerrar os casos contra ele. A respeito dos casos estaduais em Nova York (envolvendo Stormy Daniels) e na Geórgia, Trump não poderá se perdoar, pois a premissa envolveria casos federais. Na teoria, os casos permanecerão vivos. Na prática, serão suspensos. Nenhum juiz quer agir contra um presidente em exercício."

Roland Riopelle, ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York

Neama Rahmani, ex-procurador federal e advogado nos Estados Unidos
Neama Rahmani, ex-procurador federal e advogado nos Estados Unidos (foto: Kylie Chang)

"Trump tentou levar o caso de suborno para uma Corte Federal ou anulá-lo, pois o juiz permitiu que atos oficiais fossem usados como evidências, incluindo seus tuítes enquanto presidente. A decisão da Suprema Corte sobre a imunidade presidencial foi muito ampla. Não só os ex-presidentes não podem ser processados por atos oficiais, mas a opinião maioritária sustenta que atos oficiais não podem nem sequer ser apresentados em julgamento."

Neama Rahmani, ex-procurador federal e advogado nos Estados Unidos


Fonte: correiobraziliense

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