14 de Novembro de 2024

Banco Central reforça, em ata, preocupação com inflação e fiscal


O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou o alerta de que uma deterioração adicional das expectativas de inflação pode levar a um prolongamento do ciclo de alta de juros. Na ata da reunião da semana passada, divulgada ontem pelo BC, o colegiado apontou ainda que o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas. 

A desancoragem das expectativas de inflação foi apontada como um fator de desconforto comum a todos os membros da diretoria da autoridade monetária. “O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardam a credibilidade e reflitam o papel fundamental das expectativas na dinâmica de inflação”, destaca. 

Na semana passada, o Copom intensificou o ritmo de elevação da taxa básica de juros (Selic), que subiu de 10,75% ao ano para 11,25% ao ano. A ata do encontro traz os argumentos que embasaram a decisão. 

A estimativa de inflação para 2024 mantém-se acima do teto da meta de inflação a ser perseguida pela autoridade monetária, de 3% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. 

Segundo os diretores do BC, os preços dos alimentos estão pressionados por diversos fatores, dentre eles a estiagem observada ao longo do ano. O dinamismo do mercado de trabalho nacional é outro ponto em destaque. De acordo com o texto, a queda do desemprego ao menor nível da história é avaliada com cautela, pois o cenário pode motivar altas na inflação.

De acordo com o colegiado, “uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”

Durante a reunião, foi enfatizado o desafio de estabilizar a dívida pública em virtude de aspectos mais estruturais do orçamento público. “Mencionou-se que a redução de crescimento dos gastos, principalmente de forma mais estrutural, pode inclusive ser indutor de crescimento econômico no médio prazo por meio de seu impacto nas condições financeiras, no prêmio de risco e na melhor alocação de recursos”, aponta o comunicado, que reforçou a defesa da adoção de medidas fiscais pelo governo, tema atualmente em discussão no governo, que prepara um pacote de corte de despesas obrigatórias. 

Segundo Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, assim como na ata anterior, a autoridade monetária se manteve no “modo dependente de dados”. “O Comitê explicita ainda que uma deterioração adicional das expectativas de inflação pode levar a um prolongamento do ciclo de aperto monetário, o que pode ser visto como uma indicação de um foco maior no orçamento total do ciclo do que numa eventual aceleração do ritmo de ajuste”, destacou. 

Em sua avaliação, a não ser que ocorra uma deterioração significativa do balanço de  riscos, a manutenção do ritmo de 50 pontos-base nas próximas reuniões seria o ideal. “Uma aceleração para 75 pontos-base, considerando o patamar já contracionista da taxa Selic, levaria o Comitê a se comprometer, de forma prematura, com um ciclo de aperto monetário muito agressivo num ambiente ainda marcado por muitas incertezas”, projetou. 

O comitê também aponta que o cenário externo se mantém desafiador, com incertezas econômicas e geopolíticas relevantes. O documento, menciona as incertezas com a conjuntura econômica dos Estados Unidos. Os diretores mencionam que eventuais mudanças na política econômica norte-americana trazem "adicional incerteza" ao cenário, com "possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação". 

A reunião do Copom foi finalizada no dia em que a eleição de Donald Trump foi confirmada. A avaliação prevê desaceleração da economia norte-americana. Sobre a China, o colegiado também debateu a desaceleração da segunda maior economia do planeta na tentativa de "decompor os aspectos cíclicos e estruturais envolvidos".

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Fonte: correiobraziliense

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