23 de Novembro de 2024

Escova de dente: qual é pior para o meio ambiente?


Quando eu trabalhava no escritório, mantinha sempre uma escova de dentes de plástico na gaveta da minha mesa. Meus colegas riam todas as tardes, enquanto eu caminhava diligentemente até o banheiro, com a escova na mão, após o almoço.

Em casa, eu tinha uma escova de dentes elétrica. Sempre cuidei dos meus dentes, mas, se alguém me perguntasse qual a marca da minha escova de dentes, o material da sua composição ou seu impacto ambiental, eu não saberia responder.

Minha relação com a escova se limitava à capacidade do instrumento de limpar meus dentes – e duvido que eu seja a única a pensar assim.

A Associação Dental Americana orienta as pessoas a substituir suas escovas de dentes a cada três ou quatro meses, ou em menos tempo se as cerdas estiverem desgastadas.

Bilhões de escovas de dentes são usadas e descartadas todos os anos. Elas são tão onipresentes que um grupo de acadêmicos do Instituto Dental Eastman do University College de Londres (UCL) e do Trinity College de Dublin, na Irlanda, publicou recentemente um relatório conjunto, comparando a sustentabilidade de diversos tipos de escovas de dentes.

Eles compararam escovas de plástico comuns, de plástico com cabeças substituíveis, escovas de bambu e elétricas.

O estudo empregou a determinação do ciclo de vida das escovas (LCA, na sigla em inglês), para considerar todos os aspectos da "vida" de uma escova de dentes, da fabricação até o descarte.

O polipropileno – um tipo de plástico derivado de combustíveis fósseis, usado para produzir os dois tipos de escovas de plástico – apresentou o maior impacto isolado sobre o meio ambiente, em relação à LCA das escovas.

No seu Panorama sobre o Plástico Global, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que cerca de 380 milhões de toneladas de resíduos plásticos são produzidas anualmente em todo o mundo.

Deste total, 43 milhões de toneladas vêm de produtos de consumo. E cerca de 14 milhões de toneladas, representando 3,7% dos resíduos plásticos, são compostos de polipropileno.

Em relação à escova de dentes elétrica, seu impacto ambiental foi 11 vezes maior que o da escova de bambu, considerando a LCA. Ela apresentou os piores resultados em todas as categorias, exceto uma (escassez de água). E o fator que mais contribuiu para o seu impacto ambiental geral foi o transporte, já que ela é mais pesada.

Mas, se a escova de dentes elétrica ficou em último, qual tipo de escova ficou em primeiro lugar?

A higiene oral foi retirada da equação.

O relatório e o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) afirmam que não há evidências de que algum tipo de escova de dentes seja clinicamente mais eficaz para evitar cáries e a deterioração dos dentes. Mas as escovas elétricas são mais eficazes para remover a placa bacteriana, em parte, devido à técnica, ao seu temporizador embutido e às cabeças mais ágeis.

O estudo do UCL e do Trinity College demonstrou que as escovas de dentes de plástico com cabeças substituíveis chegaram em primeiro lugar, seguidas muito de perto pelas de bambu.

Pode parecer surpreendente que as escovas de dentes de plástico, mesmo com cabeças substituíveis, sejam mais sustentáveis que as de bambu. Afinal, o bambu cresce rapidamente em condições adversas e também é um sifão de carbono natural.

"As escovas de dentes de bambu podem impedir que a terra seja colocada em melhor uso, como no aumento da biodiversidade ou no cultivo de árvores para compensar as emissões de carbono", diz o professor de odontologia pediátrica do UCL Paul Ashley, um dos autores do estudo.

"Portanto, elas não são necessariamente a melhor opção para o meio ambiente, ao contrário da crença popular. Mas é importante observar que o seu [impacto climático] ainda é muito menor do que as escovas de dentes elétricas e convencionais."

Patrick Verkland é CEO (diretor-executivo) da companhia sueca The Humble Co., que fabrica escovas de dentes de bambu e de outros produtos vegetais.

Ele afirma que, trabalhando em conjunto com os fornecedores, sua empresa garante que o bambu utilizado é cultivado de forma respeitosa ao seu ecossistema, sem invadir terras importantes para a biodiversidade, nem para a produção de alimentos.

"Sua biodegradabilidade diferencia o bambu como material para escovas de dentes, pois ele se decompõe naturalmente quando descartado de forma adequada", explica Verkland.

"Por outro lado, a maioria das escovas de dentes de plástico permanece no meio ambiente por séculos, se elas não forem totalmente recicladas – um processo que ainda é um imenso desafio em larga escala."

Cerca de 60% dos cabos de escovas de dentes da The Humble Co. são 100% de origem vegetal. O plano é que todos os cabos sejam totalmente produzidos com material vegetal nos próximos 12 meses.

O restante contém uma pequena quantidade de plástico, enquanto as cerdas são produzidas com nylon, um componente de plástico que a empresa procura substituir por alternativas atualmente em fase de pesquisas, segundo Verkland.

O fundador e CEO da fábrica de escovas de dentes elétricas britânica SURI, Gyve Safavi, enfrentou dificuldades enquanto tentava projetar uma escova de dentes elétrica sustentável.

Ele pesquisava a possibilidade de reciclar cabeças de escovas de dentes de plástico descartáveis. E, quando falou com diferentes empresas de reciclagem do Reino Unido, elas responderam que "as cabeças podem ser recicladas, mas são pequenas demais para serem processadas – por isso, elas não são".

Safavi encontrou o mesmo obstáculo ao procurar fabricantes que pudessem criar um cabo de escova de dentes que pudesse ser aberto pelos usuários. Inicialmente, eles ficaram incrédulos e confusos, sem saber por que ele queria uma escova de dentes que pudesse ser consertada.

Mas Safavi encontrou soluções para os dois problemas.

As cabeças das escovas de dentes da SURI são feitas de amido de milho e suas cerdas, de óleo de rícino. Os clientes podem enviar as cabeças usadas de volta para a SURI, em um envelope pré-pago, para que sejam recicladas. E o fabricante também irá receber todas as escovas no final da sua vida útil.

"Projetamos a nossa escova [com uma bateria] que dura duas a três vezes mais do que a maioria das escovas de dentes elétricas convencionais, com uma única carga", explica ele. "Isso significa que ela precisa ser carregada com menos frequência, o que amplia significativamente a vida útil da bateria e, com ela, a vida útil da escova de dentes."

"Nós as separamos e recuperamos todos os materiais que pudermos. As baterias não podem ser reutilizadas, mas nós as reciclamos até chegar aos melhores componentes brutos possíveis."

Uma reportagem publicada pela revista britânica de defesa do consumidor Which? indicou que a SURI "parece estar várias voltas à frente dos seus concorrentes, quando o assunto são suas credenciais verdes".

A especialista em design circular Sophie Thomas, professora visitante da Academia Real de Engenharia do UCL, afirma que "a escova de dentes elétrica recarregável da SURI certamente é um passo na direção certa, com melhor carregamento, assistência técnica – uma ótima forma de entender falhas comuns nestes produtos – e um esquema de devolução das cabeças para reciclagem".

"O impacto de carbono de qualquer escova de dentes elétrica é predominantemente ligado aos materiais do motor e da bateria", explica ela. "Por isso, quanto mais tempo eles puderem funcionar e ser consertados, melhor."

Na sua forma atual de plástico, as escovas de dentes nunca irão entrar no sistema de reciclagem em larga escala, segundo Thomas. Ela afirma que, em média, cada escova de dentes de plástico é composta de quatro tipos de polímeros moldados em conjunto, que não podem ser reciclados no mesmo fluxo.

"A reciclagem é sempre questão de economia", explica ela. "Os cabos das escovas de dentes são feitos de polietileno de alta densidade (HDPE, na sigla em inglês), que é tão barato que elas não têm valor."

"Precisamos nos livrar da nossa dependência do plástico e encontrar verdadeiras alternativas para produtos descartáveis e de pouca duração. Os materiais feitos de bambu e outros materiais vegetais são um passo positivo para sair do status quo do plástico. Precisamos também observar o potencial dos fluxos de resíduos para criar novos materiais."

O professor de saúde pública dentária Brett Duane, do Trinity College, foi o principal pesquisador do estudo. Ele afirma que até o plástico reciclado é problemático.

Duane indica um estudo de 2023, que concluiu que 13% do plástico reciclado acabam no esgoto na forma de microplástico, depois do processo de reciclagem.

"Precisamos de produtos [feitos de materiais que] possam ser cultivados naturalmente e repetidamente reciclados, para permitir que a terra seja usada para outros propósitos, ou seja, a reciclagem de produtos não originários de combustíveis fósseis é o caminho a seguir", explica ele.

"Acho que ainda haverá problemas significativos com a reciclagem do plástico", conclui Duane.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation.

Fonte: correiobraziliense

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