21 de Novembro de 2024

A misteriosa empresa de Malta por trás do 'Jogo do Tigrinho'


“Joguei o jogo e a plataforma não me pagou. Zerou minha banca.”

“Conseguiram acabar com a minha vida. Arrecadam dinheiro às custas de roubar tudo o que a pessoa tem, isso quando não leva a vida também.”

Esses comentários — e dezenas de outros — aparecem em postagens da empresa de softwares PG Soft, sediada em Malta, uma país insular no sul da Europa. Há muitos comentários de brasileiros, mas também de pessoas de diversos países do mundo, como Tailândia, Indonésia, China, Filipinas, Paquistão e Coreia do Sul.

A PG Soft é a empresa criadora do Fortune Tiger, o jogo de apostas no celular que no Brasil é conhecido como Jogo do Tigrinho e virou uma febre — e que também está no centro de dezenas de investigações sobre golpes.

O game é um caça-níquel para celulares e para jogá-lo é preciso entrar em uma casa de aposta (as chamadas “bets”) que o ofereça. Mas no Brasil, isso é ilegal, porque jogos de caça-níquel — sejam eles para celular ou de verdade — são proibidos. Algumas casas de apostas estão “driblando” a legislação e oferecendo o Jogo do Tigrinho mesmo assim — já que várias dessas bets estão baseadas no exterior, em países como Malta e Curaçao.

Mas o que fez o jogo se popularizar mesmo no Brasil ao longo dos últimos dois anos foi que ele viralizou nas redes sociais, graças a influenciadores que promovem “táticas especiais” para se vencer no jogo. Mas investigações policiais revelaram que muitos desses influenciadores estavam agindo, na verdade, sob a orientação de criminosos que promoviam golpes usando o jogo (leia mais abaixo em detalhes como funciona o golpe). Essa promoção nas redes sociais por influencers fez com que o jogo chegasse a milhões de brasileiros em todo o país.

Em Alagoas, a operação Game Over prendeu cinco influencers que promoviam golpes do Jogo do Tigrinho e ostentavam carros como Porsche, Pajero e Land Rover, que foram apreendidos pela polícia. Houve operações semelhantes em Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais e Pará.

A escala de alguns golpes é impressionante. Um delegado no Alagoas contou à BBC News Brasil que um único influencer preso no Estado conseguiu arrecadar R$ 38 milhões com golpes. As vítimas são de todas as classes sociais — desde beneficiários do Bolsa Família a médicos e empresários. Uma das vítimas chegou a perder R$ 730 mil jogando o Jogo do Tigrinho falso.

O Jogo do Tigrinho falso costuma ser apenas uma versão de demonstração do jogo. O apostador pode achar que está ganhando ou perdendo, mas na verdade aquilo que acontece no jogo falso não se traduz em lucros ou prejuízos. Ao tentar sacar o dinheiro depositado com supostos lucros, o usuário percebe que não há nada a ser sacado, pois seu dinheiro foi roubado.

A BBC News Brasil não encontrou indícios de que a fabricante PG Soft tenha qualquer participação nos golpes. Mesmo assim, suas redes sociais estão inundadas com reclamações de usuários que perderam dinheiro com o jogo, ou que ganharam mas não conseguiram sacar seu lucro.

A empresa nunca se pronunciou oficialmente sobre os golpes que vem sendo dados usando seu jogo como isca. E também não deu respostas às dezenas de pessoas — brasileiros e estrangeiros — que reclamam nas suas plataformas.

Recentemente a PG Soft colocou no ar uma ferramenta para auxiliar usuários a se certificarem que estão jogando uma versão oficial do jogo.

“Não deixe que jogos falsificados estraguem sua diversão — continue com a experiência confiável da PG Soft®”, diz a postagem da empresa, em inglês.

A BBC News Brasil tentou entender quem é a empresa por trás do Jogo do Tigrinho — e como a popularidade do jogo no Brasil se encaixa no modelo de negócios. A empresa tem lucrado com o jogo no país — que não é oferecido oficialmente no Brasil, já que jogos de caça-níquel são ilegais? A empresa tem algo a falar sobre as diversas reclamações de jogadores no Brasil e no resto do mundo?

A PG Soft não retornou nenhum dos nossos contatos.

A BBC News Brasil obteve documentos referentes à PG Soft e conversou com especialista no mundo de jogos de azar por celular, autoridades no Brasil que investigaram o jogo para entender o fenômeno.

O Fortune Tiger, ou Jogo do Tigrinho, é um jogo de caça-níquel para celular — com cores bastante chamativas, uma alegre música oriental e um carismático tigre animado.

Semelhante aos jogos de caça-níquel tradicionais, o jogador não faz nada além de apertar um botão. O botão faz girar três “rolos” na tela — cada rolo com símbolos diferentes, como tangerinas, potes de ouro ou joias. Quando os rolos param de girar, é possível ver nove símbolos na tela, exibidos em três linhas com três colunas.

Caso haja algum alinhamento de três símbolos semelhantes, o jogador ganha um pouco de dinheiro. O jogo também possui multiplicadores aleatórios. Às vezes, o jogador é brindado com um desses "presentes", e seu lucro pode ser multiplicado por dez vezes – um dos grandes atrativos do jogo.

Games como o Jogo do Tigrinho são conhecidos como RNG, sigla em inglês para gerador de números aleatórios. Na prática, é uma loteria pura e simples: o software do caça-níquel está gerando números e distribuindo prêmios aleatoriamente.

Uma coisa importante a se falar sobre o Jogo do Tigrinho é que, no longo prazo, os jogadores sempre sairão perdendo. Isso acontece com todos os caça-níqueis, sejam eles de celular ou em cassinos de verdade. As promessas de influenciadores que aparecem na internet de ganho sustentável são falsas.

O próprio Fortune Tiger divulga que seu retorno ao jogador (RTP, na sigla em inglês) é de 96,81%. Isso significa que, no longo prazo, quem jogar o Fortune Tiger por muito tempo tende a receber apenas R$ 96,81 para cada R$ 100 apostados.

No curto prazo, porém, alguns jogadores podem ganhar algum dinheiro — e é essa perspectiva que atrai muitos jogadores.

Nos países onde jogos de azar são legais, o retorno ao jogador (RTP) costuma ser auditado por órgãos governamentais especializados em cada país.

Mas, como os jogos de azar são ilegais no Brasil, eles não são auditados aqui. Isso pode mudar no próximo ano, na medida em que o setor está sendo regulado por novas leis e portarias do Ministério da Fazenda.

O Fortune Tiger foi lançado em 2016 por uma empresa sediada em Malta chamada Pocket Games Soft, ou PG Soft.

Malta é conhecida por ser uma espécie de “Vale do Silício” da indústria de jogos de azar, onde centenas de empresas estão baseadas, atraindo programadores e empresários.

Malta foi pioneira em legislar sobre apostas online no começo dos anos 2000 e desde então implementou leis que facilitam que empresas de jogos de azar se instalem no país. Dados da Eurostat (braço de estatísticas da União Europeia), indicam que a indústria de jogos de azar responde por 16% da economia do pequeno país — em outros países europeus esse setor corresponde a menos de 1% da economia, em média.

Malta também tem a reputação de ser um paraíso fiscal — que são países que atraem empresas com baixos impostos. No caso de Malta, empresas internacionais costumam pagar um imposto corporativo de 5%, em vez da média da União Europeia, que é de mais de 20%.

No seu site oficial na internet, a PG Soft afirma ser "líder mundial de jogos eletrônicos, a primeira a cruzar o desenvolvimento de jogos eletrônicos online e offline" e que recruta especialistas “formados em Cambridge e Oxford”.

A PG Soft diz que seus mais de cem jogos, disponibilizados em 23 línguas, são usados por mais de 500 mil pessoas no mundo. Vídeos da empresa na internet mostram que a empresa ocupou um estande grande na ICE London 2023, a maior feira do mundo da indústria de jogos de azar, realizada no Excel Centre de Londres.

Mas, apesar das credenciais, a empresa ainda não está entre as mais conhecidas no ramo, segundo jornalistas especializados da indústria de jogos de azar com quem a BBC News Brasil falou.

A PG Soft produz dezenas de jogos de caça-níqueis para celular. Os canais da empresa na internet divulgam diversas linhas de jogos que têm exatamente a mesma mecânica do Jogo do Tigrinho, mas com gráficos e músicas diferentes. O próprio Fortune Tiger é parte de uma série de jogos da empresa inspirados no horóscopo chinês. Há também os jogos do rato (“Fortune Mouse”), do dragão (“Fortune Dragon”), entre outros.

No LinkedIn, a empresa diz ter sido fundada em 2015 em Malta e que conta com mais de 200 empregados.

Mas há poucos sinais de uma grande estrutura em Malta. Documentos da junta comercial de Malta vistos pela BBC News Brasil mostram que o endereço listado pela empresa é de um pequeno prédio com diversos outros escritórios.

Outros documentos obtidos pela BBC (veja abaixo na seção Paradise Papers) revelaram que mais de 60 empresas diferentes, sem aparente ligação com a PG Soft, foram registradas no mesmo andar do pequeno prédio no centro de Valeta, a capital de Malta.

Os dados disponíveis no LinkedIn revelam que há 24 pessoas na plataforma que colocam a PG Soft como empregador: a grande maioria delas fora de Malta, em países como Tailândia, Indonésia e Singapura. A formação da maioria dos funcionários também é em universidades asiáticas.

O único funcionário que aparece no LinkedIn como baseado em Malta é o fundador da empresa, Ken Zhang. Em seu perfil, ele aparece como diretor (“managing director”) da PG Soft desde 2016 aos dias atuais. Seu perfil parece não ter nenhuma atividade há cinco anos.

As postagens da empresa no LinkedIn e em outras plataformas são cheias de reclamações de pessoas que dizem ter perdido dinheiro com o Jogo do Tigrinho.

Apesar de o Jogo do Tigrinho ser um fenômeno no Brasil, não há nenhuma menção no site da empresa sobre o país— nem mesmo para promover seus produtos junto ao público brasileiro. Também não há nenhuma resposta direta para as reclamações dos usuários.

Neste mês, a PG Soft começou a promover uma ferramenta para verificação dos seus jogos — para que os usuários se certifiquem que não estão jogando uma versão falsificada do jogo.

A BBC News Brasil tentou contato com com Ken Zhang e com um outro diretor da empresa — tanto pelos canais oficiais da empresa como pelo LinkedIn, mas não obteve resposta.

Dados da Malta Gaming Authority (a autoridade reguladora de jogos de azar de Malta) mostram que em setembro de 2020 a PG Soft chegou a ter sua licença de operação suspensa.

“A Pocket Games Software Limited não está mais autorizada a realizar quaisquer operações de jogo, registrar novos jogadores ou aceitar novos depósitos de clientes, mas é obrigada a reter e fornecer acesso a todos os jogadores registrados às suas contas de jogador e a reembolsar todos os fundos creditados aos jogadores, de acordo com a lei aplicável”, diz o documento da MGA de 2020.

A suspensão foi dada porque a empresa não teria informado mudanças no seu quadro acionário e por não ter informado dados de desempenho econômico. Mas desde então a situação foi regularizada.

A PG Soft é mencionada seis vezes no Paradise Papers, um grande vazamento de documentos de uma das principais firmas de criação de empresas offshores no mundo, a Appleby. Os documentos do Paradise Papers foram obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung em 2016 e disponibilizados ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) — que deu acesso à BBC News Brasil.

Offshores são companhias em lugares não submetidos às leis e regulamentações de um país, para onde indivíduos e empresas podem mandar recursos para tirar vantagem de impostos mais baixos ou inexistentes.

O uso de paraísos fiscais não é ilegal.

Estas jurisdições são conhecidas como paraísos fiscais ou "centros financeiros offshore (OFCs, na sigla em inglês)", no jargão da indústria financeira. Geralmente são lugares com estabilidade política e regras que garantem o sigilo e a confiabilidade dos depósitos. Malta é um dos chamados paraísos fiscais no Paradise Papers.

Os documentos revelam que o representante legal da PG Soft é Michael Spiteri Bailey, diretor da AE Business Advisors, empresa que ajuda outras empresas a abrirem seus negócios em Malta. Bailey também aparece no Paradise Papers como representante legal de diversas outras empresas em Malta.

O endereço da AE Business Advisors, o Valletta Buildings, na capital de Malta, é o mesmo da PG Soft — e o mesmo de várias outras empresas que aparecem no Paradise Papers.

Os documentos do vazamento revelam que no mesmo endereço da PG Soft e da AE Business Advisors foram registradas mais de 60 empresas diferentes entre 2009 e 2016. Algumas delas também listam Bailey como representante judicial.

A BBC News Brasil tentou contato com Bailey para esclarecer a relação da PG Soft com sua empresa e com a Appleby, mas não recebeu nenhum retorno.

Um dos pontos que a BBC News Brasil levantou junto à PG Soft é se a empresa está ciente que seu jogo está sendo usado em diversos golpes no Brasil.

Autoridades brasileiras dizem que o Jogo do Tigrinho está sendo usado por golpistas e influencers para roubar dinheiro em diversos Estados brasileiros.

O delegado Lucimério Campos, da Polícia Civil do Alagoas, explicou como a maioria desses golpes funcionam.

O golpe começa com influenciadores brasileiros sendo abordados em redes como Instagram ou Telegram por pessoas no exterior — geralmente baseadas nos Emirados Árabes — com uma proposta de dinheiro para gravar e promover um vídeo em suas redes sociais, na qual “ensinam” como ganhar no Jogo do Tigrinho.

Alguns influenciadores que fecharam acordo com promotores disseram acreditar que muitos dos criminosos que os abordaram eram estrangeiros, pois o português usado nas mensagens parecia ter sido traduzido por um tradutor automático, como Google Translate.

A “lição” ensinada nos vídeos é sempre a mesma: o influenciador diz ter descoberto uma casa de apostas onde é possível jogar uma versão com defeito do jogo (“o jogo está bugado”, como costumam falar). A plataforma bugada estaria pagando muito dinheiro aos jogadores. Nos vídeos, o influencer aparece ganhando diversas rodadas em sequência.

“Vamos lá, galera, a plataforma está bugada e eu estou forrando (ganhando muito dinheiro)”, diz um dos vídeos. Também há vídeos e postagens de influencers com carros de luxo e joias.

Alguns vídeos ainda “ensinam” truques falsos, como horários específicos a se jogar o Jogo do Tigrinho na suposta plataforma bugada. Mas é tudo mentira: não existe nenhuma habilidade em jogos de caça-níqueis. O jogador só aperta o botão e o sorteio determina se ele ganha ou não. E no longo prazo, ele sempre perde.

No vídeo, o influenciador diz que o link da “plataforma bugada” está publicado nos comentários ou na descrição do vídeo. Os comentários também são povoados com mensagens tipo “eu consegui ganhar”, “também forrei!” — mas ao clicar em muitos desses perfis é possível ver que são bots.

O link leva a uma plataforma falsa, onde o usuário faz um cadastro e deposita um dinheiro por Pix. Os investigadores dizem que, na medida em que as plataformas ilegais são derrubadas, esse link é trocado para outras plataformas ilegais.

Mas não existe uma “plataforma bugada”, segundo os investigadores. A plataforma ilegal usa uma versão de demonstração do jogo, em que dinheiro fictício é apostado — mas o usuário acha que está jogando o jogo de verdade.

E também não existe retorno financeiro. Quando os jogadores tentam sacar os valores que teriam supostamente ganho no Jogo do Tigrinho, eles não conseguem sacar nada. O dinheiro fica todo com os criminosos, que usam uma parte para aliciar novos influencers.

O golpe é um tradicional esquema de pirâmide financeira, diz o delegado. Os influencers servem como recrutadores para atrair novos jogadores. Enquanto houver novos jogadores entrando na base da pirâmide, o dinheiro do Pix vai sendo distribuído entre criminosos e influencers.

Priscila Ferreira, pesquisadora da ENV Media — empresa irlandesa que faz pesquisas sobre a indústria de jogos de azar e que recentemente foi comprada pela casa de apostas KTO, sediada em Curaçao — escreveu artigos sobre a popularidade do Jogo do Tigrinho no Brasil.

Ela diz que um dos motivos pelos quais esses golpes se tornaram tão populares no Brasil é que eles foram vendidos como uma forma de se ganhar dinheiro — e não como entretenimento.

“Os influenciadores vendem o Jogo do Tigrinho como uma solução financeira. Eles dizem: ‘joguem que isso dá dinheiro, jogue em tal horário que você vai conseguir’, ‘gira tantas vezes’, etc.. Mas nós sabemos que não é assim que funcionam os jogos de caça-níqueis”, diz ela.

“Os jogos são aleatórios e são feitos testes em laboratórios para comprovar isso. O Fortune Tiger tem o certificado da Gamings Associates Europe que comprova que não tem como manipular o jogo de jeito nenhum.”

As polícias de diversos Estados do Brasil conseguiram prender diversos influencers, que são quem faz a publicidade enganosa do Jogo do Tigrinho.

Mas os outros elos da cadeia de criminosos estão no exterior. Os donos das fintechs — onde são feitos os depósitos brasileiros de Pix das plataformas ilegais — também ficam baseados no exterior, apesar de muitos serem brasileiros com um endereço registrado no país. E a polícia diz que os donos das plataformas ilegais são estrangeiros, muitos deles baseados nos Emirados Árabes.

Não há indícios do envolvimento da PG Soft de Malta nos golpes ou em qualquer atividade ilegal. Mas as autoridades brasileiras ainda querem entender como o Jogo do Tigrinho consegue ser usado pelos golpistas no Brasil.

“Durante a investigação, nós percebemos que existia o artifício de uso de uma conta demo, que é uma conta onde se demonstra como se deve jogar o Jogo do Tigrinho. Ali, você não ganha; você simula ganhos. O dinheiro que é mostrado ali é apenas virtual”, diz o delegado Lucimério Campos, da Polícia Civil de Alagoas.

“A dúvida que ainda permeia nossa cabeça é: essa empresa cria o jogo e dá o código fonte a outros, que manipulam o jogo? Ou o jogo [que aparece nos vídeos dos influencers, com grandes ganhos] é o mesmo que as pessoas jogam? Nem mesmo os influencers [presos] souberam nos dizer isso.”

A BBC News Brasil tentou entrar em contato com a PG Soft para saber se a empresa está ciente dos golpes envolvendo seu jogo, mas não obteve retorno. Recentemente, a empresa lançou um verificador para que as pessoas confiram a autenticidade do jogo. Há um tutorial no canal da empresa no YouTube sobre como usar o verificador — mas apenas em inglês.

Kyle Goldsmith é jornalista do site especializado iGaming Business e vem cobrindo o setor de apostas no Brasil.

“Não é o conteúdo do jogo que tem sito o problema. Ele não está fazendo nada particularmente fora dos padrões. É o marketing do jogo que é o grande problema, que está sendo liderado por influenciadores.”

Para Priscila Ferreira, da ENV Media, a empresa provavelmente não antecipou que o jogo seria tão popular entre brasileiros — e que seria usado para tantos golpes.

“Eu acredito que a PG Soft nunca ia imaginar que o jogo deles ia tomar toda essa proporção aqui no Brasil. Eles são uma empresa que faz vários jogos de slot (caça-níqueis)”, diz Priscila Ferreira, da ENV Media. “Eu nunca vi eles dando declarações sobre o que eles acham sobre tudo isso.”

O jornalista Kyle Goldsmith afirma que mesmo com a empresa não estando envolvida nos golpes, todo o esquema de influencers no TikTok beneficiou muito a marca Fortune Tiger — já que o jogo se tornou popular em todo o Brasil graças a esse “marketing orgânico”.

“Esses links [de plataformas ilegais] estão atraindo as pessoas e beneficiando os influencers. Todo mundo está ganhando. Você tem o operador cujos jogos estão sendo jogados, você tem a PG Soft que fornece os jogos e o influenciador”, diz Goldsmith.

Uma das perguntas não respondidas é: quanto os jogos realizados no Brasil com a versão oficial do jogo representam no faturamento da PG Soft? Ou seja: quanto do dinheiro perdido por apostadores brasileiros nas versões oficiais do Jogo do Tigrinho vira lucro da empresa em Malta?

Especialistas da indústria dizem que os provedores de jogos, como a PG Soft, costumam ganhar um percentual do lucro que as bets têm com seus games.

Priscila Ferreira explica que nos acordos comerciais entre as bets e os provedores dos jogos, como a PG Soft, é estipulado quanto cada parte ganha do dinheiro apostado.

“Os jogos têm um RTP, que é o retorno ao jogador. Toda vez que um jogo arrecada um dinheiro, ele precisa distribuir um percentual para os jogadores. Não é tudo apenas para um jogador — o dinheiro é distribuído a todos que estão jogando ao longo de um tempo”, explica Ferreira.

“Nos cassinos, esses jogos costumam ter uma média de 97%. Se uma operadora [a “bet”] acumulou R$ 100 mil, então R$ 97 mil são distribuídos entre os jogadores, e o resto é o lucro do cassino. Do percentual que resta, o montante também é usado para cobrir gastos. E dentro disso, está o percentual do provedor do jogo — que eu não sei dizer quanto é.”

Muitas bets que estão legalizadas no Brasil oferecem o Jogo do Tigrinho em suas plataformas.

Para o delegado Lucimério Campos, as bets se aproveitam do fato de apostas esportivas — principalmente em futebol — terem sido legalizadas, para oferecer também o Jogo do Tigrinho. Mas ele frisa que isso é ilegal.

“As grandes bets nacionais fazem muita propaganda das apostas esportivas, e essas sim estão legalizadas. Mas quando ela fornece algo como o Jogo do Tigrinho, que ainda não foi certificado pelo Estado, ela está fazendo algo ilegal”, diz Campos.

Priscila Ferreira, pesquisadora da ENV Media, explica que muitas bets oferecem o Jogo do Tigrinho por estarem ainda baseadas no exterior.

Mas essa situação deve mudar no próximo ano com a regulamentação do setor pelo governo — que é necessária para não deixar que os consumidores brasileiros fiquem expostos a regras definidas no exterior.

“Acaba virando essa bagunça que está hoje em dia porque não tem regras no Brasil. Depois que houver regras nacionais, aí sim poderá haver penalizações e investigações de todas essas polêmicas para proteger os consumidores brasileiros”, diz Ferreira.

“Para os cassinos online, eles poderiam continuar operando do jeito que está que seria vantajoso. Agora eles terão que ter uma sede no Brasil com representante legal.”

Com a regulamentação, diz ela, empresas como a PG Soft, que operam no exterior, também precisarão se formalizar no país para ter seu jogo auditado no Brasil.

A BBC News Brasil entrou em contato com cinco bets no Brasil questionando por que elas oferecem o Jogo do Tigrinho em suas plataformas — mas nenhuma delas retornou nosso contato.

O delegado Lucimério Campos acredita que se o Jogo do Tigrinho for permitido no Brasil — como estudam as autoridades que estão trabalhando na regularização de apostas — ficará mais fácil obter respostas sobre as dúvidas que cercam o jogo e a empresa.

“Com a secretaria que foi criada dentro do Ministério da Fazenda para fazer a fiscalização técnica [dos jogos de azar] talvez seja mais fácil a partir do ano que vem saber se esses jogos eles estão ou não manipulados. Vivemos na era virtual e na era virtual, não deve ser tão difícil manipular um jogo desses”, diz o delegado.

Fonte: correiobraziliense

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