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Jimmy Carter: de produtor de amendoim a presidente dos EUA e ganhador do prêmio Nobel da paz
Relação com o Brasil
Na Casa Branca, Carter adotou uma abordagem inovadora e corajosa nas relações exteriores dos Estados Unidos, colocando os direitos humanos no centro de sua política externa. Essa postura teve impactos diretos no Brasil e em outros países da América Latina, então sob regimes autoritários. Os contatos com o Brasil ocorreram durante a ditadura militar (1964-1985). Ele foi responsável por cobrar do governo brasileiro a adoção de práticas mais transparentes e respeitosas aos direitos fundamentais.
Em 1977, durante uma visita de representantes brasileiros a Washington, Carter deixou claro que os Estados Unidos não iriam mais tolerar abusos sistemáticos de direitos humanos. Essa mensagem repercutiu no governo militar brasileiro, gerando desconforto, mas também abrindo espaço para um diálogo mais franco sobre a transição democrática. A política externa de Carter fortaleceu movimentos internos no Brasil que buscavam a redemocratização, dando legitimidade internacional às vozes que pediam mais liberdade e justiça.
Em 2002, o ex-presidente Jimmy Carter recebeu o Prêmio Nobel da Paz como reconhecimento dos seus esforços para encontrar soluções pacíficas para conflitos internacionais. Ele fez a mediação em várias situações de tensão política, como negociações de paz no Oriente Médio e na Coreia do Norte, utilizando sua influência para promover a diplomacia e a resolução pacífica de disputas.
Carter enfrentou crises econômicas e diplomáticas, como a Revolução Islâmica no Irã e a invasão do Afeganistão pela União Soviética. Mas ele se destacou ainda mais pelo trabalho humanitário, defesa dos direitos humanos e mediação de conflitos, incluindo o Acordo de Camp David entre Egito e Israel.
Para especialistas, o norte-americano foi guiado pela ética, retidão e integridade, marcas que deixou por onde passou. Sempre sensível, o ex-presidente criou o Carter Center. Por intermédio da fundação, promoveu campanhas para erradicar doenças negligenciadas, como a oncocercose (cegueira provocada por picada de insetos) e a filariose linfática, popularmente conhecida como elefantíase.
Carter se empenhou ainda pelo combate de doenças, como a dracunculíase (verme da Guiné) e na supervisão de eleições em países em desenvolvimento.
Não satisfeito em promover ações globais, o ex-presidente e sua mulher, Rosalynn, foram voluntários ativos na Habitat for Humanity. A organização constrói e reforma casas para famílias de baixa renda. (VO e RG)
Diplomatas e políticos lamentaram a morte de Jmmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos, aos 100 anos. Para os negociadores acostumados com as articulações internacionais, ele será lebrado por suas qualidades de estadista, como a defesa pela democracia e a paz. Eles lembraram que, no comando da Casa Branca de 1977 a 1981, foi um grande crítico das ditaduras latino-americanas, inclusive, a do Brasil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou as redes sociais para se manifestar. “Acima de tudo, (era) um amante da democracia e defensor da paz”. “No fim dos anos 1970, pressionou a ditadura brasileira pela libertação de presos políticos. Depois, como ex-presidente, continuou militando pela promoção dos direitos humanos, pela paz e pela erradicação de doenças na África e na América Latina”, escreveu.
“Carter conseguiu a façanha de ter um trabalho como ex-presidente, ao longo de décadas, tão ou mais importante que o seu mandato na Casa Branca, criticou ações militares unilaterais de superpotências e o uso de drones assassinos”, afirmou. Lula ainda lembrou que o norte-americano trabalhou ao lado de representantes do Brasil na mediação de conflitos na Venezuela e na ajuda ao Haiti.
Rubens Ricupero, diplomata ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, destacou que Carter introduziu a questão dos direitos humanos no centro da agenda política internacional. Segundo ele, o ex-presidente jamais perdeu a simplicidade, participando da escola dominical da Igreja Batista.
“Ele colocou a União Soviética na defensiva, abrindo caminho para os acordos de Helsinque cujas implicações de médio prazo conduziram gradualmente a volta da democracia aos antigos países comunistas. Carter aplicou uma pressão eficaz contra as ditaduras latino-americanas dos anos 1970”, afirmou, em entrevista ao Correio.
Para Ricupero, Carter deixou um extenso legado, sobretudo pelo acordo de paz entre Egito e Israel, o principal até hoje no Oriente Médio. Além disso, o diplomata destacou o acordo de devolução do Canal ao Panamá, “ora ameaçado pelo presidente eleito dos EUA Donald Trump”; e a adoção de postura de aceitação das mudanças na América Central como a queda da ditadura de Anastasio Somoza, na Nicarágua.
“Ao deixar a presidência, Carter realizou uma obra incansável na promoção da paz, de eleições limpas e democráticas, dos direitos humanos, que lhe valeram o Prêmio Nobel da Paz e a descrição como o ‘melhor ex-presidente dos Estados Unidos’”, destacou Ricupero. “Por todas essas razões foi sempre unanimemente respeitado pelos cidadãos norte-americanos.”
O ex-embaixador do Brasil em Washington e CEO do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), Rubens Barbosa, reiterou a simplicidade de Carter, que assinou o acordo de Camp David que previa a paz entre o Egito e Israel. “Foi um defensor dos direitos humanos, muito crítico do governo Ernesto Geisel nessa questão. Depois da presidência, atuou no Carter Center na defesa da democracia, dos direitos humanos e da transparência das eleições, inclusive nos países sul americanos”, afirmou Barbosa ao Correio.
O ex-governador e ex-senador Cristovam Buarque contou ter conhecido Carter em um jantar na embaixada dos EUA em Brasília. “Lembramos a carta enviada a ele por estudantes da UnB, denunciando a violência da ditadura, colocada emoldurada em uma parede do Centro Carter, em Atlanta. Jimmy Carter foi um raro estadista que seguia ética antes da politica”, afirmou.
Fonte: correiobraziliense
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