23 de Fevereiro de 2025

Prisão de María Corina eleva a tensão antes da posse de Maduro


A tensão política na Venezuela, à véspera da posse de Nicolás Maduro para um novo mandato, recrudesceu com a detenção momentânea de María Corina Machado. A líder da oposição e vice na chapa de Edmundo González Urrutia, autoproclamado presidente eleito, rompeu 133 dias de clandestinidade e participou de uma manifestação em Chacao, na região metropolitana de Caracas. Pouco depois de discursar e empunhar a bandeira do país, a deputada inabilitada politicamente foi fotografada por um agente da Polícia Nacional Bolivariana, no momento em que deixava o local na garupa de uma motocicleta. De acordo com a oposição, uma operação envolvendo cerca de 20 policiais motorizados e drones interceptou María Corina. Os agentes dispararam contra a motocicleta que a levava, fazendo com que ela caísse no chão, antes de a capturarem. 

Cerca de uma hora e meia depois, o Comando Nacional de Campanha de María Corina Machado anunciou a libertação da líder opositora. "Hoje, 9 de janeiro, ao sair da concentração em Chacao, Caracas, María Corina Machado foi interceptada e derrubada da modo que a levava. No incidente, foram disparadas armas de fogo. Durante o período de seu sequestro, foi forçada a gravar vários vídeos e, depois, liberada. Nas próximas horas, ela se dirigirá ao país para explicar os fatos", afirmou a nota publicada na rede social X.

O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, negou a detenção da adversária de Maduro. "Queriam alarmar toda a Venezuela, mentindo que o governo a havia capturado... Ela está louca para que a capturem", declarou. "Este era o plano dela: dizer que foi capturada, para verem que pode se levantar", acrescentou o número dois do chavismo. Cabello chamou a história de "uma invenção, uma mentira". "Se a decisão fosse prendê-la, já estaria detida. (...) Não mobilizaram as pessoas, precisavam de uma faísca e disseram: a melhor centelha é a prisão de María Corina Machado." 

Diosdado Cabello, ministro do Interior da Venezuela: "mentira e invenção" da "louca"
Diosdado Cabello, ministro do Interior e número dois do chavismo: "mentira e invenção" da "louca" (foto: Pedro Mattey/AFP)

Exigência

Assim que a notícia sobre a prisão foi divulgada, Edmundo González enviou um recado a Maduro. "Como presidente eleito, exijo a libertação imediata de María Corina Machado. Aos corpos de segurança que a sequestraram, eu lhes digo: não brinquem com fogo". Mais tarde, o autoproclamado presidente eleito classificou o incidente como "muito grave". "O fato de María Corina estar livre não minimiza o que aconteceu com ela. Foi sequestrada em condições de violência", advertiu. 

Cientista político da Universidad Simón Bolívar (USB, em Caracas), José Vicente Carrasquero Aumaitre não se surpreendeu com a captura de María Corina. "Essa gente não tem limites. Eles farão todo o possível para acabar coma oposição e, se puderem assassinar María Corina, o farão", disse ao Correio, por telefone. "Não há nenhuma razão para terem disparado contra uma pessoa para detê-la. Aqui, não usamos mais a palavra 'detenção', mas 'sequestro'. Ela não foi detida, mas sequestrada." Para Aumaitre, o que ocorreu com a opositora "faz parte da colheita". "Quando você atua com firmeza contra uma ditadura, ela responde com mãos sujas", acrescentou. 

O especialista acredita que a captura de María Corina sinaliza a disposição do regime de Maduro em ampliar a repressão. Nesta quinta-feira (9/1), milhares de pessoas saíram às ruas de Caracas e das principais cidades do país, atendendo a uma convocação da própria ex-deputada. Também houve protestos a favor da democracia e da posse de Edmundo González envolvendo exilados em Madri e na América Latina, inclusive no Brasil. Em Chacao, pouco antes de ser detida, María Corina subiu em um carro, empunhou a bandeira da Venezuela e afirmou que "hoje toda a Venezuela foi para as ruas". Ao cantar o hino nacional com os manifestantes, ela repertiu, em coro, com os presentes: "Não temos medo!". "Chegamos até aqui porque tivemos uma estratégia robusta. A partir de hoje, estamos em uma nova fase. A Venezuela é livre, vamos continuar."

Em texto publicado na plataforma Truth Social, da qual é dono, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que María Corina Machado e González "expressam, pacificamente, as vozes e os desejos do povo venezuelano". "Esses guerreiros da liberdade não devem ser feridos, devem permanecer a salvo e vivos!", escreveu. Trump referiu-se a Edmundo González como "presidente eleito".

Cerca de 50 exilados venezuelanos em Brasília participaram de um protesto convocado por María Corina Machado em vários países. Com cartazes com as frases "Venezuela livre" e "Maduro assassino", os manifestantes se reuniram na plataforma superior da rodoviária do Plano Piloto. Jesus Alberto Sifontes, coordenador do protesto, considerou a participação "muito boa". "Houve uma boa assistência de venezuelanos de diferentes regiões do Distrito Federal. Conseguimos mostrar, falar e expressar a situação na Venezuela. Muitos brasilienses assistiram à manifestação com interesse", disse ao Correio. "Quero parabenizar as pessoas que estiveram conosco, pela coragem delas. É a luta pela liberdade de nossa Venezuela."

Fonte: correiobraziliense

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