22 de Fevereiro de 2025

Câncer de pulmão: doença associada ao tabagismo tem queda no número de mortes


Em 30 anos, a mortalidade por câncer de traqueia, brônquios e pulmão (TBP) caiu 8% nos 10 países mais populosos do mundo, incluindo o Brasil, onde houve um decréscimo de 18% para 15,8%, segundo um estudo publicado na revista The Lancet. Baseado em informações de 1990 a 2019 do banco de dados Global Burden of Disease, o levantamento indica uma redução nos óbitos por tabagismo, que, porém, continua sendo a principal causa de morte pela doença. Já os casos associados à poluição atmosférica aumentaram, assim como os relacionados à exposição ao amianto. 

"Essa pesquisa nos permite avaliar melhor as tendências globais e destacar áreas onde políticas de saúde pública e mais pesquisas são necessárias para lidar com cânceres TBP", explica o brasileiro Gilberto Lopes, autor sênior do estudo e chefe da Divisão de Oncologia Médica da Sylvester Comprehensive Cancer Center, na Universidade de Miami. O câncer de pulmão é a principal causa de morte por doenças oncológicas no mundo. 

O estudo descobriu que a porcentagem de mortes por câncer TBP relacionada ao uso de tabaco passou de 72% em 1990 para 66% em 2019, embora certos países, como China e Indonésia, ainda estejam enfrentando aumento da mortalidade. Além disso, a taxa global de óbitos entre mulheres cresceu 2%. Os homens, porém, representam três quartos das vítimas. 

No Brasil, a mortalidade por câncer de traqueia, brônquios e pulmão caiu devido todas as causas em três décadas, com uma redução de óbitos por tabagismo de quatro pontos percentuais. "O Brasil ganhou uma estatística bastante favorável nesse aspecto, mostrando que proibir o fumo em lugares públicos, em ambientes fechados, colocando campanhas anti-cigarro, principalmente nos veículos de comunicação e nas embalagens de cigarro, realmente faz a diferença, principalmente para os mais jovens", opina o oncologista Igor Morbeck, da Oncoclínicas Brasília. 

Os casos de morte por poluição passaram de 3,2% para 1,5%, uma queda puxada pela redução acentuada dos episódios associados à poluição doméstica (1,9% para 0,3%), embora em relação à atmosférica, não houve alterações (1,5%). 

Globalmente, a poluição do ar é, agora, responsável por quase 20% da mortalidade global por câncer TBP. As mortes totais relacionadas aos poluentes diminuíram, mas aquelas associadas diretamente a partículas finas suspensas na atmosfera (PM2.5) aumentaram em 11%. Na China, a taxa foi o dobro da média mundial. 

"A associação entre mortalidade por câncer de pulmão e poluição do ar ainda é controversa, mas há um crescente corpo de evidências de que há uma conexão aqui que precisa ser observada", disse, em nota, Estelamari Rodriguez, pesquisadora da Universidade de Miami e coautora do artigo. Ela pediu políticas públicas mais fortes para lidar com a ameaça crescente. "O artigo fornece mais evidências de que este não é um problema limitado a um país; é um fenômeno global."

Uma conclusão do estudo é a necessidade de pesquisas contínuas para entender melhor os mecanismos que impulsionam o câncer de traqueia, brônquios e pulmão, incluindo como vários fatores de risco contribuem para as mudanças moleculares nas células cancerosas. "Entender todos esses fatores de risco e como eles estão impactando as alterações moleculares do câncer de pulmão é importante, porque então podemos ter uma medicina de precisão direcionada para pacientes com base nos fatores de risco que eles tinham", diz o artigo. 

Segundo os pesquisadores, as descobertas também destacaram a necessidade de revisar as diretrizes de triagem atuais, focadas na exposição ao tabaco, e aumentar o diagnóstico em pessoas mais jovens. "Atualmente, pacientes jovens com tosse são raramente considerados em risco de câncer de pulmão. Seus sintomas são frequentemente negligenciados, embora a triagem adequada possa detectar a condição mais cedo", destaca Rodriguez.

Igor Morbeck, oncologista da Oncoclínicas Brasília

O que pode explicar a queda na mortalidade entre homens, mas aumento entre as mulheres?

Houve um fenômeno mundial, e isso vem acontecendo há décadas, com os homens diminuindo a taxa de tabagismo e as mulheres começando a fumar. Principalmente na virada do século, isso foi refletido no aumento da incidência de câncer de pulmão em mulheres. Há outro detalhe: as mulheres têm câncer de pulmão não relacionados ao tabagismo muito mais frequentemente do que os homens, o que é visto principalmente na Ásia, o que pode ser atribuído a mecanismos genéticos. 

O que a redução da mortalidade por tabagismo no Brasil significa em termos de políticas públicas?

Todas aquelas campanhas e leis que aconteceram nos últimos anos levaram a uma redução do índice de novos fumantes e de fumantes ativos que deixaram de fumar. É um dado extremamente importante e significa muito para a questão da saúde pública, porque o câncer de pulmão é um dos tumores mais caros para o sistema único de saúde. Mas temos um longo caminho pela frente, porque em 70% dos casos, o diagnóstico é da doença avançada. A redução do risco de morte ainda é pouca, mas de certa forma é significativa e é um grande passo rumo a um controle melhor dessa doença.

Houve um aumento das mortes associadas à poluição. Como a população pode se proteger?

No Congresso Mundial de Câncer de Pulmão, que aconteceu no fim de 2024 em San Diego, um dos assuntos de maior destaque foi exatamente a poluição e o câncer de pulmão. Existem partículas no ar muito menores do que um fio de cabelo, que são inaladas e depositadas no pulmão. O ruim disso é que o indivíduo saudável que nunca experimentou cigarro ou qualquer outro fator de risco e que faz atividade física, faz o dever de casa, com a boa alimentação, mas mora num grande centro urbano, assim já começa a ter um risco de câncer de pulmão. Há uma preocupação, principalmente pela Organização Mundial de Saúde, de que a poluição vai ser um dos grandes vilões em breve, em relação ao câncer de pulmão.

Fonte: correiobraziliense

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