19 de Janeiro de 2025

Ao votar em Trump eleitores decidiram que o preço dos ovos importa mais que a invasão do Capitólio, diz autor de 'Como as democracias morrem'


Há quatro anos, o cientista político americano Steven Levitsky, da Universidade de Harvard, foi um dos primeiros a caracterizar a insurreição no Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro como uma "tentativa de autogolpe" de Donald Trump.

Autor do livro clássico da ciência política Como as democracias morrem, Levitsky diz à BBC News Brasil que o retorno ao poder de Trump, quatro anos depois e pela via eleitoral, deve levar os Estados Unidos a deixar de ser uma democracia e se converter no que ele chama de "um regime autoritário competitivo", no qual as eleições seguem existindo, mas sem que as regras do jogo sejam devidamente cumpridas.

Levitsky, no entanto, recusa a ideia de que a maior parte dos cidadãos da mais longeva democracia moderna da história tenham decidido conscientemente por uma guinada autoritária.

Segundo ele, eleitores nas democracias latinas e europeias, assim como nos EUA, estão de mau humor com seus governos e votando contra o status quo. Para ele, em novembro passado, os eleitores americano decidiram que "o preço dos ovos importa mais do que a invasão do Capitólio", optaram por mudança e votaram contra o governo.

Para o pesquisador, que a opção na cédula fosse Donald Trump é o resultado de falhas sucessivas, tanto da elite política quanto de todas as instituições e seus mecanismos de pesos e contra-pesos, dos quais os EUA costumavam se orgulhar. "Nunca fomos o modelo de democracia que fingíamos ser", diz Levitsky.

Levitsky espera ver um governo Trump com muito mais condições de executar políticas públicas do que o republicano fez no primeiro mandato e chama de "besta feroz" a coalizão do líder carismático com os bilionários donos das maiores redes sociais, em especial Elon Musk, dono do X.

"Não regulamentadas, redes sociais podem ser uma ameaça real à qualidade e estabilidade das democracias", diz Levitsky.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Levitsky, concedida à BBC News Brasil via chamada de vídeo e editada por concisão e clareza:

BBC News Brasil - Você foi um dos primeiros pensadores a dizer que o 6 de janeiro foi uma tentativa de autogolpe de Trump. No momento em que o ataque ao Capitólio completa 4 anos, Trump está voltando para a Casa Branca, depois de vencer as eleições no voto popular e no colégio eleitoral. O que o atual momento político dos EUA significa?

Steven Levitsky - É um mau sinal. Uma das coisas críticas ou mais importantes para preservar uma democracia ao longo do tempo é que, quando há tentativas de subverter as instituições democráticas, seja um golpe presidencial ou uma tentativa de roubar uma eleição ou violência política, esses atos contra a democracia devem ser denunciados com força e rejeitados por toda a elite política. Como ocorreu no Brasil em 2023, muito mais do que nos Estados Unidos em 2021.

Mas o fato de termos Donald Trump como presidente novamente, apesar de ele ter tentado muito abertamente derrubar uma eleição e bloquear uma transferência pacífica de poder, em primeiro lugar, é um sinal de que nossas instituições falharam.

Os nossos alardeados controles constitucionais de que os americanos tanto se orgulham falharam sistematicamente: o Congresso dos EUA não conseguiu destituir e condenar Trump, o que o teria impedido de concorrer em 2024; a justiça norte-americana não conseguiu responsabilizar Trump; e, então, o Partido Republicano, apesar de uma tentativa de golpe, o nomeou candidato novamente.

E não há sequer um consenso realmente alargado contra a insurreição de 6 de janeiro, apesar de a maioria dos americanos a rejeitar. Donald Trump e muitos dos seus apoiadores continuam abraçando essa insurreição. Esse é um sinal do que os cientistas políticos chamam de democracia não consolidada.

BBC News Brasil - Ao longo de décadas, os EUA tomaram todo tipo de medidas ao redor do mundo justificando a necessidade de implantar e defender a democracia. Em alguma medida foi o que vimos com a China, na Venezuela, em relação a Cuba, etc. O senhor, no entanto, avalia que o país está enfraquecendo a sua própria democracia com Trump. O que as escolhas do eleitorado americano neste momento revelam?

Levitsky - O que aconteceu [com a eleição de Trump] foi um fracasso das instituições e das elites. Nenhuma sociedade pode confiar nos eleitores para defender a democracia. E isso foi essencialmente o que os políticos nos EUA fizeram.

Com raras exceções, os eleitores não votam a favor da democracia ou contra a democracia ou qualquer tipo de regime. Os eleitores votam por muitas e muitas outras razões. Votam por causa do estado da economia, porque gostam ou não do presidente, porque têm lealdade a um determinado partido. Mas os eleitores não votam pela democracia, que é abstrata demais, nunca é a coisa mais importante na mente dos eleitores.

Portanto, o fato de a maioria ter votado em Donald Trump não significa que a maioria dos americanos estivesse escolhendo o autoritarismo. O que 49,8% dos americanos fizeram foi votar contra o status quo, contra um partido incumbente com o qual estavam descontentes por causa dos efeitos persistentes da pandemia de covid-19, por causa da inflação.

Os eleitores em todo o mundo, inclusive no Brasil, estão mal-humorados, estão muito descontentes com o status quo. Na Europa, na América do Norte, na América Latina, os eleitores têm votado consistentemente na oposição. E fizeram isso nos Estados Unidos, mas não estavam escolhendo conscientemente um autoritário.

Agora, em termos de atuação no exterior, sempre foi um pouco hipócrita para os Estados Unidos se promoverem como padrão da democracia – nunca fomos o modelo de democracia que fingíamos ser. Mas vai ser cada vez mais difícil, eu acho, para os Estados Unidos promoverem a democracia no exterior com qualquer autoridade, dado o quão ruim, quão disfuncional sua democracia se tornou e quão gravemente suas instituições falharam.

Agora, isso não significa que somos equivalentes à Venezuela. Os EUA ainda condenarão a fraude eleitoral na Venezuela, que é, aliás, a pior fraude eleitoral da história moderna no continente americano. Mas certamente não temos o tipo de autoridade que tínhamos na década de 1990, quando promovíamos tão ativamente a democracia no exterior. Esses dias acabaram.

BBC News Brasil - Mas o senhor avalia que os cidadãos não conseguem ver a importância da democracia? A democracia não tem entregado para as pessoas, elas estão mal informadas?

Levitsky - Os políticos foram irresponsáveis, em particular os políticos republicanos, ao nomear um candidato que eles sabiam que era uma ameaça à democracia e deixar essa decisão para os eleitores.

Os eleitores tiveram uma série de opiniões diferentes sobre o dia 6 de janeiro. Cerca de 25% do eleitorado total pensava que a eleição [de 2020] foi realmente roubada e que este era um ato legítimo de defesa da democracia. Algumas pessoas realmente não sabem o que aconteceu, não prestam muita atenção às notícias, podem ter ouvido coisas mistas sobre o 6 de janeiro e realmente não sabem ao certo como interpretá-lo.

Alguns eleitores acham que tudo foi exagerado, que, sim, foi ruim, mas havia outras coisas que importam mais. No final das contas, o preço dos ovos, a inflação e o emprego importam mais do que a invasão do Capitólio.

Mais uma vez, os eleitores não são cientistas políticos. Cabe aos cientistas políticos determinar se algo é uma ameaça à democracia ou não. Cabe às elites políticas defender a democracia. Não é função dos eleitores.

BBC News Brasil - O primeiro governo Trump muitas vezes operava no caos e com pouco domínio da máquina burocrática. Isso, de acordo com os analistas, parece tê-lo impedido de implementar algumas políticas. Que diferença haverá entre o primeiro e o segundo mandatos do republicano na sua perspectiva?

Levitsky - Haverá uma diferença dramática. Da primeira vez, Trump não esperava ganhar, ele não tinha experiência, não tinha um plano e não tinha equipe. E por isso teve de governar em coligação com os republicanos tradicionais e os tecnocratas conservadores. A maioria de seu gabinete era de tecnocratas econômicos, empresários, militares aposentados e republicanos convencionais.

Trump ficou muito frustrado, assim como acho que Bolsonaro provavelmente também ficou, quando chegou ao cargo e percebeu que as instituições do Estado não se curvariam automaticamente à sua vontade, que havia uma institucionalidade e uma burocracia que ele não poderia simplesmente manipular da maneira que ele quisesse.

Mas ele aprendeu. E, oito anos depois, Donald Trump controla totalmente o Partido Republicano e sabe que, se quiser atingir os seus objetivos, precisa expurgar os funcionários do Estado e preencher os cargos públicos chave com pessoas que lhe sejam leais.

Ele aprendeu que precisa ser um Somoza [dinastia autoritária da Nicarágua], um [Rafael] Trujillo [ex-autocrata da República Dominicana] ou um [François] Duvalier [Papa Doc, líder autocrata do Haiti]. Ele não será capaz de destruir o Estado americano da noite para o dia, mas ele deixou muito claro que tem planos para enfraquecer o serviço público e ocupar todas as principais instituições estatais, do Departamento de Justiça ao Departamento de Estado, passando pelas agências reguladoras e pelas instituições fiscais.

Então, desta vez, você terá um Estado que é muito mais sensível às necessidades de Trump. Ainda será um governo bastante caótico, mas muito mais preparado, inclusive para se virar contra críticos e rivais de uma forma bastante autoritária, muito mais do que da primeira vez.

BBC News Brasil - Você diz que uma pessoa sozinha não pode destruir uma democracia. Donald Trump contará com maiorias na Câmara, no Senado e na Suprema Corte. Considerando sua avaliação sobre o republicano, temos um cenário em que a democracia americana está em risco?

Levitsky - Com o controle sobre o Partido Republicano, maioria no Congresso, que será cooperativo, e uma Suprema Corte aliada, Trump causará muito mais danos à democracia do que no primeiro mandato.

Penso que a democracia dos EUA não desmoronará a ponto de vermos uma ditadura tradicional. Não será um regime de partido único, não será fascismo, não será o Estado Novo [de Getúlio Vargas, no Brasil], mas será o que em outros trabalhos chamei de regime autoritário competitivo: um modelo em que ainda há eleições, mas no qual a concorrência é injusta porque o incumbente abusa sistematicamente do Estado e o instrumentaliza e usa contra seus rivais.

BBC News Brasil - Neste retorno de Trump ao poder, há um novo elemento em cena: o bilionário Elon Musk, dono da rede social X. Como vê seu papel político?

Levitsky - Por um lado, é algo incrivelmente perigoso porque em Musk você tem o homem mais rico do mundo, que possui um dos maiores e mais influentes sites de mídia social do mundo e que agora está em uma posição em que alguns já o chamam de copresidente dos Estados Unidos.

Trata-se um poder político maciço unido a um poder econômico e midiático monumentais. Isso é demasiado poder para qualquer indivíduo deter. E esse tipo de concentração de poder político, econômico e midiático é extraordinariamente perigoso para qualquer democracia.

Musk também introduz discórdia interna ou, pelo menos, potencial discórdia interna na coligação de Trump. Este é um governo populista e, como tal, é muito heterogêneo. Ele tem um líder personalista no topo e abaixo muitas tendências diferentes e até mesmo concorrentes.

Então, dentro do trumpismo, há esse tipo de facção populista nacionalista, etno-nacionalista e anti-imigrante que visa consolidar o apoio entre a classe trabalhadora, mas agora há esse novo grupo de bilionários com uma agenda muito diferente competindo por espaço. Os bilionários da tecnologia e os etno-nacionalistas anti-imigrantes vão provavelmente entrar em conflito.

E Donald Trump é um líder personalista clássico. Ele é como [o argentino Juan Domingo] Perón, [o venezuelano Hugo] Chávez, líderes mais carismáticos. Não gosta de partilhar o palco - ele quer 100% da atenção, 100% da adulação, e não vai querer dividir o palco com Elon Musk. E então eu acho que há um risco, uma boa chance de que haja tensão, que haja atrito entre Trump e Musk.

E eu não ficaria nada surpreso se, dentro de meses, Musk estiver fora do governo. Honestamente, ficaria surpreso se Trump partilhasse o palco pacificamente com alguém como Elon Musk durante quatro anos. Em última análise, acho que pode ser bastante desestabilizador para o governo Trump.

BBC News Brasil - Agora vemos Mark Zuckerberg, CEO da Meta, controladora do Facebook, Instagram e Whatsapp, tentando emular o comportamento de Musk, ao alterar as regras de suas redes sociais, defendendo a liberdade de expressão como na primeira emenda da Constituição americana. Qual é o peso das redes sociais no jogo democrático? Como elas deveriam ser vistas e reguladas?

Levitsky - Com a eleição de Trump, estamos vendo uma mudança dramática para a direita em muitas dimensões. Veremos provavelmente uma desregulamentação bastante dramática em favor das grandes empresas e das big techs. Ainda estamos aprendendo as consequências das mídias sociais na política democrática, mas há evidências crescentes de que as redes sociais não regulamentadas podem ser realmente problemáticas. O problema da desinformação, da polarização extrema e do isolamento dos indivíduos, dos cidadãos, é real.

E assim se pode argumentar, como bem fez o Supremo Tribunal Federal do Brasil, que as redes sociais precisam ser regulamentadas. Trata-se de uma nova tecnologia midiática com consequências importantes para o funcionamento da política, e todos os Estados democráticos têm de aprender a coexistir com ela. E, como todas as tecnologias de mídia, rádio, televisão, vamos ter que regulá-la.

E acho que é razoável dizer que, se completamente desregulamentadas, as mídias sociais podem ser uma ameaça real à qualidade e à estabilidade das democracias. E é por isso que as democracias na Europa e em partes da América Latina estão tomando medidas para regulá-las, de maneiras diferentes.

Graças à eleição de Trump e à resposta de Zuckerberg e Musk, os Estados Unidos foram empurrados numa direção radical, afastando-se da regulamentação, o que terá consequências negativas para a democracia.

A coalizão de ricos empresários das maiores mídias sociais com o poder político é uma besta feroz. Os bilionários da tecnologia em coligação com este novo governo são um poder formidável Pode não durar, pode não ser tão forte quanto parece, mas agora eles têm muito poder e vão se mover em uma direção de desregulamentação que é preocupante para a democracia.

BBC News Brasil - Trump é abertamente elogioso a Jair Bolsonaro, ao salvadorenho Nayib Bukele, ao argentino Javier Milei, todos cujas atuações são tidas como ameaçadoras da democracia por boa parte dos cientistas políticos. Que tipo de impacto o segundo mandato de Trump pode ter para democracias na América Latina?

Levitsky - Provavelmente nada muito bom. Há duas maneiras pelas quais Trump pode afetar negativamente as democracias na América Latina e em outros lugares, e ambas foram vistas durante seu primeiro mandato. A primeira coisa é que Trump não está nem aí para a democracia e, por vezes, admira autocratas. Então, o tipo de promoção da democracia que os Estados Unidos fizeram no passado, nem sempre de forma muito consistente, nem sempre de forma muito eficaz, isso vai abrandar, se não parar.

Os Estados Unidos não levantaram um dedo quando o governo de [Juan Orlando] Hernández roubou as eleições em Honduras durante o primeiro mandato de Trump. O governo Trump não fez nada para retardar a consolidação de uma ditadura na Nicarágua ou o estabelecimento de uma autocracia sob Bukele em El Salvador. A América Central se tornou muito mais autoritária sob Trump porque ele não fez o mínimo movimento para apoiar a democracia.

O tipo de comportamento que o governo Biden teve durante a crise no Brasil, ajudando a persuadir os militares brasileiros a ficarem de fora de qualquer tipo de tentativa golpista, isso não acontecerá sob Trump.

E, além de não protegerem a democracia, os EUA se tornarão cada vez mais um modelo autoritário. Se antes de 2020, quando Donald Trump se recusou a aceitar os resultados de uma eleição, era muito raro, com exceção de López-Obrador [México] no México, na América Latina os candidatos simplesmente dizerem: 'eu rejeito, eu não aceito os resultados'. As pessoas aceitavam a derrota. Mesmo em eleições apertadas em países como Bolívia, Equador, Argentina, Brasil, Chile e Peru, os candidatos aceitaram a derrota. É uma norma básica da democracia.

Mas quando o presidente dos Estados Unidos em 2020 se recusou a aceitar os resultados da eleição, políticos de outros lugares olharam e disseram: 'bem, se o presidente dos Estados Unidos não vai aceitar os resultados da eleição, talvez não haja problema em eu não aceitar os resultados de uma eleição aqui'. Então, Bolsonaro teve um comportamento muito semelhante. Keiko Fukimori, no Peru, recusou-se a aceitar a derrota nas eleições na sequência do comportamento de Trump. Os EUA tornaram-se um modelo negativo, um modelo de comportamento autoritário em vez de comportamento democrático.

Se Trump cumprir sua promessa de deportar milhões de pessoas, você pode ver líderes em outros países fazendo isso também com custos tremendos em termos de liberdades humanas e civis. Se Trump começar a travar, como já começou a fazer, processos judiciais contra a mídia, processos por difamação contra a mídia, isso se tornará algo que é feito com mais frequência também na América Latina. Alguns comportamentos autoritários que foram rejeitados na América Latina no passado podem agora ser legitimados novamente.

BBC News Brasil - Devemos esperar que Trump use sanções ou outras medidas para prejudicar os governos da América Latina com os quais ele não é próximo?Devemos esperar a deterioração da relação entre Brasil e EUA sob Lula e Trump?

Levitsky - Muito possivelmente. Vai depender um pouco da estratégia do governo Lula, se vai escolher enfrentar Trump ou não. Mas Trump gosta de se fazer de valentão no cenário internacional, gosta de fazer exigências e ameaças. Nem sempre realiza essas ameaças, mas muitas vezes consegue que os governos cooperem por causa delas.

E seu maior alvo na América Latina é o México, onde ele vai usar todos os tipos de ameaças de tarifas para tentar coagir o governo [Claudia] Scheinbaum a se comportar como ele quiser. Eu não ficaria surpreso se ele fizesse algo bem semelhante em relação ao Brasil, inclusive com o uso de tarifas.

BBC News Brasil - Ele também está se voltando contra o Canadá e o Panamá na região, mas também já mencionou a Groenlândia. Como vê essas intenções expansionistas?

Levitsky - Trump às vezes diz coisas malucas que ele acaba por não fazer. Às vezes, ele age de acordo com seus anúncios. E, às vezes, ele diz coisas e depois os seus apoiadores descobrem formas de materializá-las.

Honestamente, ainda não sabemos quão sério Trump é sobre o Panamá e a Groenlândia. Suspeito que não muito, que ele pode tentar usar essas ameaças para obter algumas concessões, talvez do Panamá em relação ao Canal, mas seria bastante radical se os EUA tentassem tomar o controle do Canal do Panamá ou da Groenlândia (militarmente). Mas se Trump realmente seguir em frente com isso, provavelmente ele conseguiria.

O Panamá nem sequer tem Forças Armadas. Os Estados Unidos poderiam, se quisessem, tomar o controle, roubar o Canal do Panamá. Acho que ninguém nos Estados Unidos está suficientemente ciente do perigo que isso representa para a ordem internacional. Foi assim que o mundo funcionou durante centenas e centenas de anos: os mais poderosos tiravam o que queriam dos mais fracos. Mas quando entramos na era industrial moderna, esse tipo de comportamento mercantilista se mostrou incrivelmente destrutivo. Isso nos levou à Primeira Guerra Mundial e à Segunda Guerra Mundial.

A ordem internacional que construímos após a Segunda Guerra Mundial foi precisamente um esforço para evitar um mundo anarquista brutal em que os poderosos faziam o que queriam aos fracos. Se Trump romper a ordem do pós-guerra, o que não é super provável, mas é possível, vai nos lançar em um lugar muito sombrio.

Fonte: correiobraziliense

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