O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) está associado à mortalidade precoce, especialmente entre pacientes do sexo feminino, segundo um estudo da Universidade College London, na Inglaterra. A pesquisa, publicada na revista The British Journal of Psychiatry, constatou uma redução na expectativa de vida que varia de 4,5 anos (homens) a 11 anos (mulheres). Os resultados baseiam-se em dados de mais de 330 mil pessoas, sendo 30 mil com TDAH diagnosticado.
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A pesquisa é observacional, ou seja, não estabelece uma relação de causa e efeito. Os autores, porém, desconfiam de que a mortalidade precoce esteja associada não ao transtorno em si, mas à falta de apoio e tratamento.
Os cientistas destacam que, no Reino Unido, onde o estudo foi conduzido, apenas um terço dos jovens e adultos de 16 anos a 64 anos com TDAH recebem medicamentos ou têm algum acompanhamento de profissionais da saúde mental. Oito por cento dos diagnosticados afirmaram ter buscado ajuda especializada, sem sucesso. Já entre pessoas sem o transtorno, apenas 1% dos que procuraram tratamento psiquiátrico e/ou psicológico no mesmo período ficaram sem recebê-lo.
O TDAH tem componentes genéticos e neurobiológicos e caracteriza-se por sintomas como falta de atenção, inquietude e hiperatividade. Embora seja mais associado à infância, 60% dos diagnósticos ocorrem entre adultos, segundo o Ministério da Saúde. No Brasil, a prevalência do transtorno é estimada em 7,6% (6 a 17 anos), 5,2% (18 a 44 anos) e 6,1% (acima de 44 anos). Cerca de 11 milhões de brasileiros são afetados pela condição, de acordo com dados de 2022.
"É profundamente preocupante que alguns adultos com TDAH diagnosticado estejam vivendo vidas mais curtas do que deveriam", disse, em nota, Josh Stott (UCL Psychology & Language Sciences). "Pessoas com TDAH têm muitos pontos fortes e podem prosperar com o suporte e tratamento certos. No entanto, muitas vezes, eles não têm apoio e são mais propensas a vivenciar eventos estressantes na vida e exclusão social, impactando negativamente sua saúde e autoestima."
Para o estudo, os autores compararam dados de 30.029 adultos do Reino Unidos diagnosticados com TDAH ao de 300.390 pessoas sem o diagnóstico. Após ajuste por idade, sexo e acesso a cuidados primários de saúde, eles descobriram que a redução na expectativa de vida varia entre 4,5 a 9 anos (homens) e 6,5 a 11 anos (mulheres).
Stott explica que pessoas com TDAH concentram a atenção de maneira particular. "Elas geralmente têm muita energia e capacidade de se concentrar intensamente no que lhes interessa. No entanto, podem achar difícil se concentrar em tarefas mundanas", diz. As consequências são maiores níveis de impulsividade, inquietação e diferenças no planejamento e gerenciamento do tempo, com diversos impactos negativos.
"Quando não tratado, o TDAH pode afetar áreas na vida do paciente, como o resultado e a produtividade no trabalho, relações de amizade, profissionais, familiares e amorosas, assim como diminuir o desempenho nos estudos", destaca o neurologista, professor e pesquisador Mauro Muzkat, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Isso tudo causa baixa autoestima nos pacientes, e os impactos podem desencadear transtornos de humor, como a depressão, transtornos de ansiedade. Para pessoas com tendências genéticas a outros problemas, como bipolaridade e borderline, o TDAH pode ser o fator desencadeante", explica.
A neurocientista Wanessa Moreira, mestre em fisiopatologia de clínica médica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), ressalta que a falta de tratamento pode, inclusive, levar o paciente ao suicídio. "Os pensamentos ameaçadores e as ideações suicidas não vêm do sintoma da falta de atenção, mas acontece principalmente devido ao excesso de ansiedade, dopamina, cortisol, que aumentam os pensamentos impulsivos, intensificando as ideias de sobrevivência, que é um mecanismo instintivo de proteção do indivíduo quando está sob ameaça", diz.
Segundo os pesquisadores da Universidade College London, o tratamento e o suporte adequados para TDAH estão associados a bons prognósticos, como redução de problemas de saúde mental e de uso de substâncias, uma comorbidade comum na condição. Eles insistem que mais pesquisas são necessárias para explicar a redução na expectativa de vida verificada no estudo. "É crucial que descubramos as razões por trás das mortes prematuras para podermos desenvolver estratégias para preveni-las no futuro", afirma a principal autora, Liz O'Nions, do Instituto de Pesquisa em Saúde Bradford, no Reino Unido.
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