22 de Fevereiro de 2025

O marcador de AVC presente no organismo humano


Bactéria comum geralmente encontrada na boca e no trato gastrointestinal, a Streptococcus anginosis, quando em excesso, foi associada a um risco aumentado de acidente vascular cerebral (AVC) e de mortalidade por essa causa, segundo um estudo do Centro Nacional Cerebral e Cardiovascular de Osaka, no Japão. A pesquisa, ainda não publicada, será apresentada na Conferência Internacional de AVC, da Associação Norte-Americana de Derrame, que acontece em Los Angeles, de 5 a 7 de fevereiro. 

"No futuro, se houver um teste rápido para detectar bactérias nocivas na boca e no intestino, poderemos usar as informações para ajudar a calcular o risco de derrame", disse Shuichi Tonomura, que liderou o estudo. "Visar essas bactérias orais nocivas específicas pode ajudar a prevenir o acidente vascular cerebral", acredita.

Todas as pessoas têm trilhões de bactérias no intestino, conhecidas coletivamente como microbiota (conjunto dos micro-organismos presentes no sistema) intestinal. Há também outra comunidade de microrganismos na boca, a chamada microbiota oral. A maioria delas afeta positivamente o organismo e auxilia em processos normais, como a digestão. "No entanto, quando a quantidade de bactérias sai do equilíbrio, doenças podem acontecer", observa Tonomura.

Anteriormente, a equipe do pesquisador descobriu que uma bactéria diferente que causa cáries dentárias, a Streptococcus mutans, estava associada a um risco maior de sangramento cerebral. Na pesquisa atual, conduzida no maior centro de AVC do Japão, os cientistas quantificaram todos os microrganismos detectáveis na saliva e no intestino de 200 pacientes que sofreram algum tipo de derrame recentemente, comparando-os a 50 pessoas sem histórico do problema, de idade semelhante, que fizeram exames médicos de rotina. A idade média dos participantes foi 70 anos, sendo que 40% eram mulheres. Todos eram japoneses. 

Os pesquisadores descobriram que uma espécie de bactéria, a Streptococcus anginosus, era significativamente mais abundante na saliva e no intestino de pessoas com derrame agudo do que no grupo de controle. A presença excessiva do microrganismo foi associada a 20% mais chances de AVC. Além disso, a Anaerostipes hadrus (uma bactéria intestinal relacionada a efeitos benéficos) reduziu em 18% esse risco, e a Bacteroides plebeius (comum na microbiota da população japonesa) diminuiu em 14% a probabilidade de derrame cerebral.

Ao longo do acompanhamento de dois anos, os sobreviventes de AVC com níveis elevados de Streptococcus anginosus no intestino apresentaram um risco significativamente maior de morte e eventos cardiovasculares. Isso não aconteceu nos casos de pacientes de derrames com presença de Anaerostipes hadrus e Bacteroides plebeius.

"Nossas descobertas oferecem novas informações sobre a conexão entre bactérias orais e o risco de derrame, bem como estratégias potenciais para prevenção do AVC", afirma Tonomura. "Tanto o Streptococcus mutans quanto o Streptococcus anginosus são bactérias que contribuem para a cárie dentária ao produzir ácidos que quebram o esmalte dos dentes. Isso destaca a importância da prevenção da cárie dentária, o que pode ser alcançado reduzindo a ingestão de açúcar e usando creme dental que atue contra essas bactérias. Manter uma boa higiene oral é essencial", disse.

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Os pesquisadores esperam conduzir estudos semelhantes em pessoas que não sofreram um derrame, mas que têm fatores de risco vascular. "Estender a análise para populações em risco de derrame é crucial para entender implicações mais amplas e desenvolver potenciais estratégias preventivas para aqueles suscetíveis a derrame", destaca o cientista japonês.

Como o estudo foi conduzido em uma população japonesa com uma amostra relativamente pequena, os resultados podem não ser totalmente generalizáveis para outros grupos étnicos, observa Tonomura. "O microbioma oral e intestinal é fortemente afetado pelo estilo de vida. Outras bactérias podem ser as principais responsáveis pelo AVC em outros países", ressalta.

Louise D. McCullough, codiretora do UTHealth Neurosciences da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, destacou a importância da saúde bucal para prevenção de doenças. "A má saúde bucal pode levar à inflamação e aumentar o risco de derrame. Os níveis aumentados de  Streptococcus anginosus  encontrados no intestino de pacientes com derrame recente são intrigantes, e o fato de terem sido associados ao aumento da mortalidade dois anos após o AVC sugere que isso pode desempenhar um papel no risco contínuo", destacou, em um comunicado da Associação Norte-Americana de Derrame. 

Segundo McCullough, pesquisar, futuramente, um grupo maior de pessoas que ainda não tiveram um derrame, mas têm fatores de risco, pode aumentar a compreensão de como essas bactérias estão relacionadas ao AVC. "Esse conhecimento pode ajudar a melhorar as estratégias de prevenção", diz a médica, que recentemente publicou um artigo sobre derrame e microbioma.

 


 

Fonte: correiobraziliense

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