22 de Fevereiro de 2025

Por que tantas pessoas arriscam suas vidas para chegar ao topo das montanhas mais mortais do mundo?


Localizado na fronteira entre o Paquistão e a China, na cordilheira de Karakoram, o K2 é frequentemente chamado de "montanha selvagem".

Com 8.611 metros de altura e tocando os céus como uma pirâmide coberta de neve, o K2 é a segunda montanha mais alta do mundo (superada apenas pelo Everest) — e, talvez, a mais difícil de escalar.

Em Peak Danger, a segunda temporada do podcast Extreme, da BBC, a apresentadora e historiadora Natalia Mehlman Petrzela conta a história angustiante dos recém-casados ??Cecilie Skog e Rolf Bae, que escalaram o K2 em 2008 — e se viram no meio de uma tragédia que culminou na morte de 11 alpinistas em dois dias.

Para Skog, o fascínio pelas montanhas é de longa data. Ela nasceu cercada por picos enormes, e explica que, mesmo quando era criança, se sentia atraída pelos cumes alpinos ao seu redor. Assim como muitos alpinistas, ela chama a adrenalina de escalar montanhas de "viciante".

"Eu cresci em Ålesund, uma pequena cidade na costa oeste da Noruega, e ao redor desta pequena cidade há montanhas por toda parte. É muito bonito lá", diz Skog no podcast. "Eles deveriam colocar nessas montanhas uma espécie de sinal de alerta: 'Isso é muito viciante'."

Enquanto escalava montanhas ao redor do mundo, Skog também encontrou o amor, e se casou com o alpinista Rolf Bae.

Depois de anos aperfeiçoando suas habilidades, o casal decidiu que a lua de mel seria a oportunidade perfeita para se aventurar na Ásia, e tentar escalar o K2. A jornada deles começou no Paquistão, na geleira Baltoro, uma paisagem quase mítica que abriga seis picos com mais de 7.900 metros.

O belo cenário quase intocado é um atrativo, mas é acompanhado pela emoção da altitude elevada, dos penhascos íngremes e das subidas de tirar o fôlego — além do espectro sempre presente de enganar a morte.

"Se você vai enfrentar o K2, precisa estar no auge em termos de performance. É por isso que ele é conhecido, nos circuitos de escalada, como 'a montanha do montanhista'", explica Petrzela.

Skog e Bae estavam bem cientes desta reputação, assim como da possibilidade inevitável de enfrentar uma emergência de vida ou morte.

"O mais importante não pode ser chegar ao topo; o mais importante deve ser voltar para casa vivo", afirma Skog no podcast.

Ao chegarem à cordilheira de Karakoram, Skog e Bae se juntaram a cerca de 30 alpinistas esperançosos e otimistas de países distantes, como Sérvia, Irlanda, França, Holanda e Coreia do Sul, além de uma equipe de carregadores nepaleses e paquistaneses.

Eles eram experientes e conheciam bem as condições, os perigos e a possibilidade de intempéries.

Avalanches, desmoronamentos de pedras e nevascas imprevisíveis não seriam novidade, mas havia outro sinal: um memorial no início da jornada dedicado àqueles que perderam suas vidas ao tentar escalar o K2.

"Quando você chega, vê uma enorme pilha de pedras marrons, desgastadas pelo tempo, todas empilhadas umas sobre as outras. Ela é adornada com bandeiras entrelaçadas e fotos de alpinistas mortos", conta Petrzela.

O memorial não é suficiente para dissuadir os alpinistas, nem o baixo nível de oxigênio e as temperaturas extremamente baixas.

"O que eu senti foi: 'Por que estou aqui... estou no lugar certo? Eu me questionei. Questionei minha motivação para estar ali", relata o alpinista Eric Meyer no podcast.

"E, então, você começa a refletir... vale a pena correr o risco?"

Nunca foi tão fácil para intrépidos viajantes se desafiarem e enfrentarem o K2. Petrzela explica no podcast que uma pequena indústria se estabeleceu, e oferece tudo o que é necessário para quem deseja estar entre os poucos que podem dizer que chegaram ao topo da montanha.

No entanto, esse comércio gerou preocupações com a segurança dos alpinistas e com a abordagem, às vezes, de laissez-faire para o que é, sem dúvida, uma caminhada muito perigosa.

"Não existe um regulamento para escalar montanhas. Nenhuma associação internacional diz o que ou como escalar. E não há nada que impeça alguém de transformar o montanhismo em um grande negócio. Hoje em dia, pelo preço certo, você também pode comprar sua entrada para as encostas de um pico de 8.000 metros", afirma Petrzela.

Embora não exista uma associação que supervisione todos os alpinistas, existe a Federação Internacional de Escalada e Montanhismo (UIAA), que "desenvolveu padrões para mais de 25 tipos de equipamentos de segurança, incluindo capacetes, arnês [espécie de colete] e [crampons, peça com picos metálicos, acoplada ao calçado]".

Enquanto o grupo enfrentava alguns desafios inesperados — incluindo um caso curioso de falta de equipamento —, Skog explica que a possibilidade de dar meia-volta chegou a passar pela sua cabeça, mas ela ainda se sentia atraída pelo cume.

"[Achei] que deveríamos dar meia-volta, porque isso é loucura. Mas, novamente... estamos olhando para cima, e podemos ver o cume dali. Estamos muito perto", diz Skog.

"Quanto mais perto você chega do cume, mais difícil é dar meia-volta."

"É como uma espécie de compulsão, uma força inexorável que te puxa cada vez mais montanha acima", acrescenta Petrzela.

No que mais tarde seria conhecido como desastre do K2 de 2008 — depois de uma tragédia semelhante em 1986, que causou a morte de cinco pessoas na montanha —, uma avalanche de gelo gigantesca levou as cordas dos alpinistas, fazendo com que muitos caíssem de uma parte especialmente traiçoeira da montanha, conhecida como "Gargalo da Garrafa". O incidente matou 11 alpinistas, incluindo Bae.

Mesmo aqueles que tiveram a sorte de sair do K2 com vida, sofreram com frostbite (congelamento de tecido do corpo) e outros ferimentos. Os sobreviventes, explica Petrzela, estavam "em estado de choque, como um soldado voltando da guerra".

Os nomes dos alpinistas foram adicionados ao memorial improvisado no acampamento base. As reportagens chamariam o incidente de "uma das piores tragédias da história do Himalaia".

Ainda assim, Skog continuou se aventurando — em parte, diz ela, para sentir a mesma sensação de encantamento que compartilhava com o marido.

Ela convocou amigos para fazer uma trilha pela Groenlândia e, mais tarde, completou uma travessia sem assistência pela Antártida. Ela até voltou ao Himalaia, embora sua nova perspectiva tenha mudado tudo, até mesmo a "febre" do cume.

"Não tive a mesma sensação ao estar lá. Senti que aquilo não me pertencia mais", afirma.

*Este artigo foi adaptado de um roteiro de Natalia Mehlman Petrzela e Leigh Meyer.

Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.

Fonte: correiobraziliense

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