22 de Fevereiro de 2025

Os desafios do Banco Central em 2025


O cenário econômico brasileiro é desafiador para as autoridades, com a inflação resistente, o aumento nos preços dos combustíveis e os sinais ambíguos do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o futuro da taxa Selic. A decisão recente do Banco Central de elevar os juros para 13,25% ao ano reflete a preocupação com a persistência da alta de preços. Especialistas alertam que a política monetária pode enfrentar obstáculos adicionais diante da tributação sobre combustíveis e da conjuntura internacional.

A sinalização do Copom sobre os próximos passos da Selic gerou interpretações diversas no mercado financeiro. Segundo o economista e sociólogo Vinicius do Carmo, a comunicação do Banco Central manteve um tom condicional ao projetar um novo aumento na próxima reunião, indicando que a decisão não está completamente definida.

"O comunicado do Copom apresenta sinais ambíguos sobre a continuidade do ciclo de alta dos juros. Embora reforce a necessidade de uma política monetária mais contracionista diante da resiliência da atividade econômica e da desancoragem das expectativas de inflação, o tom condicional utilizado ao projetar um novo aumento na próxima reunião sugere que a decisão não está completamente definida", analisa.

Essa incerteza pode gerar insegurança entre investidores e empresários, afetando a credibilidade da política monetária. Carmo também destaca um fator de risco pouco enfatizado pelo Banco Central: o impacto do reajuste do ICMS sobre combustíveis.

"A tributação estadual mais elevada tende a aumentar o custo do transporte e da produção, gerando um efeito de segunda ordem sobre os preços e dificultando a convergência da inflação para a meta. Isso pode frustrar os planos do Copom de encerrar o ciclo de alta dos juros, tornando necessária a manutenção de uma Selic elevada por mais tempo", alerta o economista.

O professor César Bergo, especialista em mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB), aponta que a inflação segue sendo um desafio significativo, impulsionada não apenas pelos alimentos, mas também pelo preço dos combustíveis. Segundo ele, apesar de uma aparente estabilidade no câmbio e no preço do petróleo no mercado internacional, os reajustes internos podem continuar pressionando os índices de preços.

"O foco do Banco Central é o combate à inflação, mas alguns fatores estão tornando essa missão bastante difícil. Uma delas é a questão dos preços, não só dos alimentos, mas também dos combustíveis. Entramos numa fase em que há um certo equilíbrio no preço do dólar e do petróleo, o que pode ajudar a reduzir essas pressões nos próximos meses. No entanto, o Banco Central já precificou um novo aumento da Selic de 1% na próxima reunião", destaca.

A inflação no país continua acima da meta estabelecida pelo Banco Central. A previsão é que feche 2025 em 5,5%. A alta nos preços das tarifas de transporte urbano e a persistência do encarecimento dos alimentos contribuem para esse quadro, tornando difícil a adoção de uma política monetária menos restritiva.

Bergo lembra que o cenário internacional adiciona desafios extras à economia brasileira. A postura do Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, em manter as taxas de juros elevadas limita as possibilidades de flexibilização da política monetária no Brasil.

"As novas políticas implementadas pelo governo Trump e a resistência do Federal Reserve em reduzir as taxas de juros criam um ambiente instável para os mercados emergentes. Esse cenário faz com que o Banco Central adote uma política cautelosa e prudente. A redução da Selic não está no radar, pelo menos no primeiro semestre de 2025", conclui.

Outro fator determinante para a política monetária e o comportamento da inflação é a taxa de câmbio. O professor Benito Salomão, da Universidade Federal de Uberlândia, aponta que a valorização do real pode ser um fator positivo para aliviar a pressão inflacionária nos próximos meses.

"A expectativa é que a ata do Copom traga as preocupações com a resiliência da inflação e o impacto da alta dos combustíveis, mas há um fator que pode ajudar a controlar os preços: o retorno da taxa de câmbio para o patamar observado antes do fim do ano", avalia.

Caso o real se fortaleça frente ao dólar, os preços de produtos importados e insumos industriais podem registrar queda, o que contribuiria para amenizar a inflação e reduzir a necessidade de novas altas na Selic. No entanto, essa variável está atrelada a fatores externos, como a política monetária dos Estados Unidos e a confiança dos investidores na economia brasileira.

O cenário econômico para os próximos meses segue incerto. A inflação segue pressionada por reajustes em itens essenciais, enquanto o Banco Central mantém uma postura rígida para conter os preços. A Selic elevada encarece o crédito e desacelera o consumo, afetando diretamente a atividade econômica. O comportamento da taxa de câmbio será um fator crucial para determinar os rumos da inflação e da política monetária. Caso o real continue fraco, o impacto dos produtos importados seguirá pressionando os preços. Por outro lado, uma valorização da moeda brasileira poderia abrir espaço para um alívio nos juros.

 


Fonte: correiobraziliense

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