Ao fim de uma longa e conturbada tramitação, marcada por forte pressão dos democratas, a indicação do advogado ambiental Robert F. Kennedy Jr. para o cargo de secretário da Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos foi aprovada pelo Senado. As comunidades científica e política norte-americanas recebem com apreensão a escolha de Donald Trump, com críticas à inexperiência do sobrinho do presidente John Fiztgerald Kennedy, além de declarações negacionistas. Em entrevista ao Correio, Victor Ambros — professor de medicina molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts e Prêmio Nobel de Medicina em 2024 pela descoberta do microRNA e seu papel na regulação gênica pós-transcricional — disse que Kennedy não tem formação científica, nem experiências na área de saúde ou em liderar uma grande organização ou administrar um grande orçamento.
"Além disso, em centenas de declarações públicas, ele expressou oposição à vacinação e a outros programas de saúde pública, além de ter expressado crença em teorias da conspiração não científicas e infundadas. Kennedy também é desonesto, exemplificado por seu recente depoimento perante o Congresso, onde negou declarações públicas anteriores de suas crenças", disse Ambros, 71 anos. "Não se pode confiar que ele leve em consideração os interesses de ninguém, exceto os seus."
Ainda de acordo com Ambros, é difícil prever o quão profundamente Robert Kennedy poderia corromper o empreendimento da saúde e das ciências biomédicas dos EUA. "Kennedy poderia tentar instalar um aparato político dentro dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) e dos Centros de Controle de Doenças (CDC) e moldar a política e a prática institucional de acordo com a postura política anticientífica do governo Trump. Se bem-sucedido, isso teria efeito inibidor na eficácia da pesquisa dessas instituições; prejudicaria sua capacidade de servir ao interesse público com base em princípios e práticas científicas; e corroeria, ainda mais, a confiança da opinião pública. É francamente assustador considerar como o país se sairia diante de outra pandemia viral com Kennedy — que despreza a ciência e se opõe à vacinação — no comando da Secretaria de Saúde e Serviços Humanos."
Por fim, Ambros entende que a postura anticientífica de Kennedy e suas tentativas de politizar as instituições científicas, corroerão o empreendimento de pesquisa biomédica mais amplo nos EUA, que inclui pesquisa privada e pública baseada em universidades, muitas das quais são financiadas pelo NIH, e as indústrias de biotecnologia e farmacêutica, que dependem da capitalização de pesquisa financiada publicamente. "Isso pode desencadear uma "fuga de cérebros" de cientistas dos EUA para outros países."
Aos 89 anos, Harvey Alter, ganhador do Nobel de Medicina em 2020 pela descoberta do vírus da hepatite C e cientista do NIH, também não poupou críticas ao escolhido de Trump. "Robert Kennedy tem crenças e ações que não são fundamentadas na ciência e que o tornam a antítese de alguém que deveria liderar as principais organizações relacionadas à saúde dos Estados Unidos", declarou ao Correio, por e-mail. "Suas crenças são baseadas em anedotas, em vez de ciência, e são medievais, em sua concepção. Décadas de avanços científicos e iniciativas positivas de assistência médica estão em perigo."
Fonte: correiobraziliense
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