Um estudo publicado na revista International Journal of Molecular Sciences aponta que os vapes — também conhecidos como cigarros eletrônicos — alteram a composição da saliva dos usuários, resultando no aumento do risco de doenças bucais, como cáries, lesões da mucosa e doença periodontal.
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O cigarro eletrônico foi desenvolvido para facilitar o processo de interrupção do tabagismo, porém se mostrou ineficaz. Ao contrário do que se esperava, esses dispositivos aumentam a dependência de nicotina e causam sérios danos para a saúde, como lesões agudas nos pulmões e alterações nos vasos sanguíneos — aumentando o risco cardiovascular, além das mesmas doenças e riscos provocados pelo cigarro comum, como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e enfisema pulmonar. Substâncias cancerígenas também estão presentes no cigarro eletrônico.
Realizado pelo Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (ICT-Unesp), com a colaboração de cientistas das universidades de São Paulo (USP) e de Santiago de Compostela (Espanha), o estudo contou com 50 jovens, entre 26 e 27 anos, sem alterações clínicas visíveis na mucosa oral. Metade dos selecionados eram usuários regulares e exclusivos de cigarros eletrônicos há, pelo menos, seis meses, enquanto os integrantes do outro grupo não utilizavam o dispositivo.
Em 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o consumo e a venda de cigarros eletrônicos, o que dificultou o trabalho de encontrar voluntários para o estudo.
Os jovens forneceram amostras de saliva para que fossem feitas análises de sialiometria (avaliação de saliva), viscosidade, pH e concentração de nicotina — que está relacionada a maiores níveis de dependência quando há altas doses dessa substância na saliva, urina ou sangue. Também foram feitas análises clínicas nos participantes, onde foi medida a frequência cardíaca, a oximetria, a glicemia, a concentração de monóxido de carbono (CO) no ar exalado e o consumo de álcool.
A análise da saliva permitiu que os pesquisadores identificassem uma alta concentração de cotinina (metabólito da nicotina) nos usuários de cigarros eletrônicos, além da presença de 342 metabólitos salivares — que resultam do metabolismo de substâncias na saliva —, mas a análise apenas considerou os encontrados em pelo menos 70% das amostras, resultando em 101 metabólitos.
61 dos 101 metabólitos eram exclusivos dos usuários de cigarro eletrônico e os restantes eram compartilhados entre os dois grupos. Após essa análise, foram identificados sete biomarcadores: quatro específicos, que aumentaram no grupo dos usuários do dispositivo — sendo eles o ácido esteárico, ácido elaídico, valina e ácido 3-fenilático — e três compartilhados entre os dois grupos — galactitol, glicerol 2-fosfato e glucono-1 e 5-lactona).
Outra descoberta foi a diminuição do fluxo salivar dos usuários de cigarros eletrônicos em comparação ao segundo grupo. Isso pode ser relacionado à presença de substâncias que irritam as vias aéreas superiores e provocam ressecamento das mucosas — como o propilenoglicol e glicerina nos aromatizantes. Também foi apontado que os usuários apresentaram baixa viscosidade da saliva — característica que tem um papel fundamental na proteção e hidratação da mucosa bucal.
O exame físico revelou que os usuários de vapes apresentaram um nível maior de monóxido de carbono exalado e menor saturação de oxigênio que o outro grupo. Os pesquisadores também notaram que as taxas de consumo de álcool foram maiores nos consumidores do dispositivo — 76% dos usuários relataram terem combinado os dois produtos e 52% disseram que o consumo de álcool aumentou a frequência do uso de cigarros eletrônicos.
Apenas 24% dos jovens que participaram da pesquisa eram ex-fumantes de cigarro comum. Esses usuários relataram que fumavam os cigarros eletrônicos por pelo menos 2,13 anos — 52% utilizavam de forma diária e 60% de sete a dez vezes por dia. O estudo também aponta que os vapes de sabores frutados e doces são os mais consumidos, seguidos pelos sabores mentolados.
Clique aqui e leia o artigo original na íntegra.
*Estagiário sob a supervisão de Luciana Corrêa
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