Pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC) propuseram um método para conter a extração ilegal de madeira. O professor Luis Gustavo Nonato pontuou que a base do estudo está na análise da rede de comércio madeireiro no Brasil.
“Ao implementar mecanismos de controle e regulamentações, o governo brasileiro conseguiu impactos positivos nas taxas de desmatamento. Ao mesmo tempo, produziu dados importantes sobre o comércio madeireiro, uma vez que todos os produtos resultantes da extração de madeiras, desde toras brutas até madeira processada, que devem ser registrados nos sistemas de controle a fim de serem transportados e comercializados. Isso permite a modelagem e análise da rede madeireira ao longo do tempo", explicou professor, em comunicado divulgado nesta quarta-feira (12/2).
O estudo mostrou que certos componentes da rede de comércio de madeira operam sem conexões com florestas licenciadas, o que sugere que material não registrado é inserido nesses componentes. “Mostramos ainda como a análise da cadeia de suprimentos pode aumentar consideravelmente a confiança de consumidores na legalidade dos produtos de madeira adquiridos”, destaca Luis Gustavo.
A abordagem proposta usa dados já existentes nos sistemas de controle, evitando o emprego de tecnologias economicamente custosas e de difícil implementação. “Sistemas de rastreamento mais eficientes tendem a reduzir fraudes. Além da redução do desmatamento ilegal em si e preservação da biodiversidade, a confiabilidade sobre a origem dos produtos adquiridos aumenta a competitividade da madeira amazônica no mercado global, atraindo investimentos sustentáveis que fortalecem o setor", frisa o estudo.
"Estamos contribuindo ainda com a melhoria nas condições de trabalho e beneficiando as comunidades locais, uma vez que a extração e o comércio ilegal fomentam conflitos sociais que impactam principalmente as populações mais vulneráveis”, acrescenta.
O principal desafio foi a integração dos dados dos sistemas de controle no Brasil. “Este estudo integra dados desses sistemas para criar redes de comércio de madeira, que ajudam a identificar empresas ou grupos que operam fora dos padrões esperados. Também propomos um método para rastrear prováveis cadeias de suprimentos de empresas madeireiras, abordando preocupações governamentais de longa data sobre a rastreabilidade da madeira”, afirma Luis Gustavo.
Conforme o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a área com extração ilegal de madeira na Amazônia passou de 106 mil hectares entre agosto de 2021 e julho de 2022 para 126 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023. O total equivale à retirada de madeira em 350 campos de futebol por dia sem autorização dos órgãos ambientais.
O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. O artigo foi publicado na revista científica Nature Sustainability.
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