Ao sentir as primeiras contrações, a ursa polar Aurora se afastou do companheiro Peregrino e se isolou em uma sala escura. Instintivamente, preparou um berço com feno.
Às 7h20 do dia 17 de novembro de 2024, uma cena rara então foi registrada no Aquário de São Paulo, na zona sul da capital paulista: o nascimento de uma ursa polar no Brasil. Agora, prestes a completar três meses, a bebê ursa que recebeu o nome de Nur (luz em árabe) inaugura uma estatística.
Especialistas em ursos polares de diferentes países consultados pela BBC News Brasil disseram ser oficialmente a primeira vez que o nascimento de um filhote de urso polar é registrado não apenas no Brasil, mas também na América Latina.
A ursa Aurora, no entanto, já tinha dado à luz a um filhote anteriormente, em 2023, mas ele não resistiu aos primeiros dias de vida. Um estudo publicado no Canadian Journal of Zoology aponta que 44% dos ursos polares não chegam a completar um ano.
O nascimento registrado no Aquário de São Paulo é tão raro que, segundo levantamento feito pela instituição, a bebê de 400 gramas foi o sexto urso polar nascido em todo o mundo em 2024. Foram quatro em território russo, um na Alemanha e o filhote brasileiro.
A estimativa dos órgãos especializados é de que entre 250 e 300 ursos polares vivam em zoológicos em todo o mundo.
Imagens obtidas com exclusividade pela BBC News Brasil mostram desde a cópula do casal formado por Aurora e Peregrino, em maio de 2024, até o parto, cinco meses e meio depois.
Os vídeos também mostram os cuidados da mãe nas primeiras semanas do bebê e os passos ainda desajeitados da cria.
Assim que Nur repousou sobre a cama de feno preparada pela mãe, em seus primeiros minutos de vida, o celular da veterinária Laura Reisfeld tocou no domingo de manhã.
Do outro lado da linha, o diretor do Aquário de São Paulo, Anael Fahel, disse eufórico: "Você viu as câmeras? Olhe rápido".
Reisfeld é chefe do departamento veterinário e porta-voz do Aquário de São Paulo.
Ela acompanha ao vivo em seu smartphone as imagens das câmeras do recinto onde ficam os ursos para monitorar o comportamento dos animais à distância.
Desde o isolamento da ursa Aurora, toda a equipe do local ficou em alerta para uma possível gravidez e nascimento de um filhote.
A veterinária conta à BBC News Brasil, com os olhos marejados, o momento em que viu as imagens do nascimento de Nur — que tinha aproximadamente 400 gramas e o tamanho de um filhote de cachorro — pela primeira vez.
"Eu acordei com o coração na boca. Foi emocionante! Eu me arrepio só de lembrar", diz.
"Já vi esse vídeo mil vezes e, se eu assistir mais mil, eu vou me emocionar com o instinto da mãe. O bebê grita e o instinto dela na hora é de acolher e aquecer."
"É surreal ver um animal super ameaçado nascendo debaixo dos seus olhos. Eu acho que foi a experiência mais maluca e incrível da minha vida", afirma ela.
Na natureza, estima-se uma população de cerca de 26 mil ursos polares, a maioria no Canadá, sendo uma espécie listada como vulnerável à extinção — com as mudanças climáticas um fator-chave no seu declínio.
O Aquário de São Paulo registrou uma cópula do casal Aurora e Peregrino no fim de maio de 2024. O momento íntimo gerou nos tratadores e veterinários a expectativa por uma possível gestação.
Esse sentimento aumentou quando a fêmea se afastou do parceiro e buscou abrigo numa sala escura — ao fundo do recinto onde ficam.
O local, chamado de maternidade, é semelhante às cavernas no Ártico nas quais as ursas se isolam durante a gestação e primeiros meses do filhote.
A intenção da mãe é se sentir segura, num lugar onde possa descansar e guardar energias para amamentar e esquentar o filhote durante seus primeiros meses fora da barriga — um período mais frágil.
A veterinária Laura Reisfeld conta, no entanto, que não era possível ter certeza da gestação, pois não há um exame de gravidez confiável que possa ser feito em ursos polares. Isso ocorre porque a espessa camada de gordura do animal impede, por exemplo, que seja feito um ultrassom.
"A gente fez diversos exames de urina e todos davam negativo", diz a especialista.
Mas outro importante sinal de gestação foi identificado pelos veterinários: uma mudança na dieta da Aurora.
Como a ursa chega a ficar meses sem se alimentar enquanto se dedica exclusivamente ao filhote, ela se prepara para esse período em jejum comendo bastante para acumular gordura.
Isso ocorre porque a reserva de gordura é essencial para a produção de leite, que alimenta o filhote.
"A gente falou: 'Pô, a Aurora está comendo bastante e não está tão seletiva'",lembra Reisfeld.
"Normalmente, ela quer comer mais salmão e frango, mas ela estava numa fase em que comia mais coisas… Daí, a gente ficou com uma luzinha ligada", descreve.
Em algumas semanas, a ursa começou a dormir mais, ficar mais tempo em repouso e negar a alimentação. Sinais dos momentos finais de uma gestação. A suspeita foi confirmada cinco meses e meio após a cópula.
As imagens obtidas pela reportagem mostram o parto da filhote, que nasce sem pelos e depende completamente dos cuidados da mãe.
Logo após o parto, a mãe Aurora dá as primeiras lambidas na cria, abocanha o rebento e o coloca sobre seu corpo coberto de pelos brancos e macios para aquecê-lo enquanto amamenta.
O nascimento provocou euforia nos funcionários do Aquário, mas também marcou o início de incontáveis noites mal dormidas e um alerta máximo para as equipes de tratadores. A preocupação se dava porque as primeiras semanas eram cruciais para a vida da bebê.
Nesse período, podem ocorrer situações que colocam em risco a vida do filhote, desde uma possível rejeição da própria mãe, que pode matá-lo, a algum problema de saúde ou até mesmo um acidente.
Mas a tensão desta vez logo deu lugar ao alívio, à medida que a mãe distribuia uma série de carícias em forma de lambidas enquanto amamentava o filhote. Um sinal de que o relacionamento entre mãe e filha seguia bem e as chances de rejeição despencavam.
A reprodução do urso polar é um desafio, dizem os especialistas. Primeiro, porque existem só alguns casais de ursos polares em zoológicos ao redor do mundo.
Além disso, o casal precisa se dar bem e a dupla estar saudável para a reprodução. Após o nascimento, a mãe também precisa desenvolver o instinto de cuidado com o filhote.
Logo nos primeiros momentos de vida, a mãe Aurora demonstrou preocupação com o rebento. Enquanto ela amamentava e cuida do filhote, tudo era monitorado à distância pelos especialistas, que ficavam preparados para uma possível intervenção para socorrer a bebê Nur.
Mas isso não foi necessário. Nesta quinta-feira (13/2), Nur está prestes a completar 3 meses de vida, pesa entre 5,5 e 6 kg, tem cerca de 50 centímetros, já caminha de maneira mais firme e mantém uma ótima relação de brincadeiras com a mãe.
"A Aurora foi uma mãezona", diz a veterinária, que regula a temperatura do "berçário" e o deixa mais frio para que a mãe tenha o instinto para aquecer o filhote.
Com as boas notícias sobre Nur, agora o Aquário de São Paulo faz uma força-tarefa à espera de aumentar a visitação e receber até 4 mil pessoas por dia.
Entre as primeiras medidas do esquema reforçado está a previsão de dobrar o número de educadores ambientais de dez para 20, além de reformar e instalar televisores na área para onde irão mãe e filhote. A expectativa é receber até mesmo excursões internacionais, principalmente de países da América do Sul.
De acordo com o zoológico de Berlim, na Alemanha, o nascimento do urso polar Knut, em 2006, atraiu mais de 2 milhões de visitantes.
O filhote virou tema de brinquedos, camisetas, filme e ganhou até uma biografia. Ele morreu em 2011, aos 4 anos, após ter uma convulsão e desabar em um fosso — diante de muitos visitantes que estavam lá para vê-lo.
Em São Paulo, nenhum veterinário ou cuidador se aproxima do local onde as ursas estão. Tudo é acompanhado apenas pelas câmeras especiais que conseguem captar as imagens na escuridão.
"É um ambiente sem nenhuma iluminação. A toca fica de 0?°C a 4?°C, mas pode chegar até −10?°C. Essa temperatura a gente ajusta de acordo com o comportamento e conforto dela", diz Reisfeld.
O recinto onde os ursos ficam é normalmente mantido em temperaturas em torno de 4?°C.
A história do casal de ursos polares no Brasil começou há dez anos, quando eles chegaram ao Aquário vindos do zoológico de Kazan, na Rússia. Peregrino, o macho, nasceu no zoológico russo. Já Aurora ficou órfã com a irmã depois que a mãe delas foi morta por caçadores no Ártico.
Antes mesmo de aterrissarem em São Paulo, a presença dos ursos polares foi duramente atacada por grupos de proteção animal.
O Aquário de São Paulo, uma instituição privada, foi alvo de protestos semanais, com faixas, gritos de palavras de ordem e uma pressão para desestimular a visitação e o financiamento do espaço.
Os manifestantes argumentavam que o interesse do Aquário em manter esses animais em cativeiro e estimular sua reprodução é exclusivamente comercial, por meio da cobrança de ingressos para visitação.
Atualmente, o custo de entrada para um adulto visitar o Aquário de São Paulo é de R$ 120. Há descontos para crianças, estudantes, idosos e outros grupos. O local recebe até mais de meio milhão de visitantes por ano.
Os ativistas também dizem que o espaço de 1.500 metros quadrados, onde os ursos vivem no aquário, é insuficiente para o bem-estar deles e pedem para que os animais sejam devolvidos para o território russo.
Uma norma do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) prevê um espaço mínimo de 300 m² para cada casal de ursos polares abrigados no Brasil.
A fundadora da Aliança Internacional do Animal (Aila), Ila Franco, disse em entrevista ao portal UOL em 2015, assim que o casal de ursos polares chegou ao Brasil, que, "mesmo com a melhor das intenções, jamais o aquário poderá dar o mínimo para as necessidades do animal".
"Não é correto ensinar as pessoas que é normal e educativo confinar animais selvagens, exóticos ou outros em cativeiro", afirmou Ila na época. "Logo ficarão doentes e fatalmente morrerão".
Em entrevista à BBC News Brasil, Robert Young, doutor em preservação da vida selvagem e professor na universidade de Sanford, na Inglaterra, avaliou que, embora o ambiente onde os ursos ficam em São Paulo possa parecer pequeno, o que mais conta é a qualidade do espaço onde os animais estão, além de respeitar o tamanho mínimo exigido por lei.
"Obviamente, é mais fácil colocar mais recursos em uma área grande", diz.
Young diz que nunca esteve no Aquário de São Paulo, mas que seus amigos especialistas comentam que a equipe paulistana "é muito dedicada ao bem-estar dos animais com programas extensivos de preservação ambiental".
Para o especialista britânico, o fato raríssimo de nascer um animal exótico como um urso polar em um país tropical pode gerar debates positivos sobre conservação ambiental.
"Muitas pessoas vão querer ir ao aquário ver o urso e mais gente vai buscar entender o comportamento desse animal na natureza. Vão descobrir que a região do polo norte foi muito atingida pelo aquecimento global e que há uma consequência disso inclusive para as pessoas que vivem no Brasil", diz.
"Nascimentos como esse podem mudar o comportamento das pessoas e suas culturas. (O público) poderá ver o bebê e refletir sobre o que aconteceu de errado para essa espécie estar em extinção", afirma Young.
A veterinária Laura Reisfeld diz que o espaço do Aquário onde os ursos estão possui vários elementos na paisagem.
"Tem um pedaço com algumas pedras, tem uma área com gelo e outra com cascas de árvore. Para o filhote, é importante ir conhecendo esses diferentes substratos", diz.
Gregory Thiemann, professor de meio ambiente e mudanças urbanas, da Universidade York, no Canadá, diz à BBC News Brasil que, quanto maior o espaço para os ursos polares, mais confortáveis estarão.
Thiemann afirma que a Associação de Zoológicos e Aquários (AZA), em seu Manual de Cuidados com Ursos Polares (2009), recomenda um espaço mínimo de 500 metros quadrados para um casal.
"A maioria dos ursos polares em exposição ao redor do mundo nasceu em cativeiro. Muito poucos são translocados da natureza, embora isso tenha acontecido no passado. Os ursos podem viver por até 30 anos em cativeiro", explica.
"No Canadá, a remoção de ursos polares da natureza é proibida e só seria permitida em circunstâncias muito específicas, por exemplo, quando não há possibilidade real de o urso ser solto com sucesso na natureza. Isso normalmente acontece quando um filhote/urso jovem fica órfão [caso de Aurora]. Ou quando um animal é ferido após um possível conflito com pessoas".
Um relatório da ONG britânica Bear Conservation aponta que o Aquário de São Paulo tem uma área pequena para os ursos e ainda afirma que os animais "não têm acesso ao ar livre".
"Além da pequena piscina, os ursos estão constantemente andando em uma superfície de concreto sem variação nos substratos", diz outro trecho do documento.
A equipe do Aquário afirma que o ambiente onde os ursos vivem tem 1.500 metros quadrados e um tanque com 1 milhão de litros de água refrigerada para os animais nadarem. Além disso, há um teto retrátil que permite que os ursos recebam luz solar nos dias mais frios do inverno e outono paulistanos.
"Quando está uma temperatura mais amena, 20 graus, a gente abre o teto. Na natureza, os animais enfrentam temperaturas de até −40?°C, mas não necessariamente eles precisam disso", explica a veterinária Reisfeld.
Há momentos no Ártico em que a temperatura bate até 30 graus. A gente não vai deixar os animais com 30 graus, mas no outono e inverno em São Paulo é possível", completa ela.
A veterinária explica que os ursos recebem cuidados especiais também na alimentação. Como o macho come mais rápido, a refeição principal é feita em locais separados. Mesmo assim, há dias em que eles preferem comer juntos.
"Eles [ursos] que mandam aqui. A gente fica para ajudar no que eles querem", diz a veterinária.
O Aquário de São Paulo reconhece que o melhor ambiente para um animal selvagem é a natureza. Por outro lado, afirma que, sem condições de estar inserido na vida selvagem, o nascimento de um filhote é um sinal de bem-estar e que os ursos polares estão confortáveis.
Laura Reisfeld explica que esses ursos estão sob cuidados humanos porque não podem ser reinseridos na vida selvagem, inclusive o filhote. A Aurora, resgatada ainda bebê, e o Peregrino, nascido em zoológico, não aprenderam a caçar com suas mães, o que inviabiliza a vida na natureza. O mesmo vale para a bebê Nur.
"Os animais estão saudáveis, tendo um bom repertório comportamental, se reproduzindo e tendo um cuidado maravilhoso com o bebê. Isso é um atestado de que o nosso trabalho está dando certo, porque um animal que não está saudável não vai reproduzir", diz Reisfeld.
"Um animal num estresse crônico vai estar sempre doente porque vai estar com a imunidade baixa. Por mais que todo mundo saiba da importância do nosso trabalho, da dedicação, é horrível quando você escuta uma crítica. Estamos há quase três meses nos revezando sem dormir."
Ela diz que sempre explica para visitantes do Aquário, especialmente às crianças, o motivo de os ursos estarem lá. Ela diz que tem esse carinho especial pelos mais novos porque são eles que vão crescer com o poder de transformar as próximas gerações.
"Eu não sei nem se é uma coisa que a gente tem que convencer ou não alguém a mudar de opinião. Mas a gente está aqui para mostrar. Sempre vai ter gente para criticar, mas a gente vai continuar fazendo o nosso trabalho da forma que a gente acredita que seja a melhor possível".
Um levantamento feito pela União Internacional para Conservação da Natureza, pela Comissão de Sobrevivência de Espécies e pelo Grupo de Especialistas em Urso Polar aponta que há cerca de 26 mil ursos polares em todo o mundo. A maioria está localizada no Canadá, mas essas populações também são encontradas nos Estados Unidos, Rússia, Groenlândia e Noruega.
Os ursos polares estão listados como vulneráveis à extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza, sendo as alterações climáticas um fator-chave no seu declínio. Os machos adultos podem atingir cerca de 3 metros de comprimento e pesar cerca de 600 kg.
Em São Paulo, Peregrino pesa 660 kg, enquanto Aurora estava com 283 kg antes de se isolar. O peso do pai era 1.650 vezes maior que a da filhote assim que nasceu. Os ursos polares podem comer até 45 kg de gordura de uma só vez.
De acordo com pesquisadores, os ursos polares têm um olfato poderoso e podem farejar presas a até 16 km de distância. Eles também são "ótimos nadadores" e já foram avistados a até 100 km de distância da costa, podendo nadar a velocidades de cerca de 10 km por hora, em parte devido às suas patas ligeiramente palmadas.
Desde que a ursa Aurora teve as primeiras contrações e buscou um abrigo escuro e protegido, como as gélidas cavernas no Polo Norte, o público que visita o Aquário de São Paulo consegue ver apenas o urso Peregrino.
Muitos dos visitantes notam e até questionam a ausência de uma das principais atrações do local.
"Cadê a Aurora? Só um urso está aqui", questionou a bióloga Fernanda Machado Queiroz em uma visita no começo de fevereiro.
Ela, que já tinha visitado o Aquário outras vezes, apostou que a ausência era causada por alguma questão comportamental do casal ou por conta de questões reprodutivas, até por uma pista dada pelos educadores.
"Assim que cheguei, percebi que só tinha um. Não sabia se ele estava em outras partes do recinto. Já vi eles juntos outras vezes, inclusive nadando juntos", conta Queiroz.
Os monitores diziam aos visitantes que a ursa estava em observação após se isolar do macho e que havia a suspeita de uma gestação.
Agora que a curiosidade foi sanada, resta saber quando os visitantes poderão conhecer o filhote ao vivo. Segundo a veterinária Laura Reisfeld, a mãe e o filhote decidirão quando será esse momento.
A expectativa é que isso ocorra nas próximas semanas — momento em que a mãe ursa, após meses sem comer, dará os primeiros sinais de que quer sair da toca para se alimentar. A previsão é que ela comece a andar mais e cheirar a porta quando esse momento chegar.
Assim que saírem da toca, o público deve presenciar as primeiras tentativas de nado da bebê Nur, a interação dela com os obstáculos e a exploração do ambiente novo ao lado da mãe.
Segundo o Aquário de São Paulo, a ursa polar Nur vai ficar com a mãe ao menos até o momento em que ela desmamar. A previsão é que isso aconteça por volta dos 2 anos. Depois, o filhote se separa naturalmente da mãe, pois os ursos polares não vivem em grupos familiares na natureza.
Os veterinários estimam que Nur não terá contato com o pai durante a vida.
"Quando chegar esse momento [de desmame], a Aurora e a Nur vão se separando. A Aurora, muito provavelmente, vai voltar a viver com o Peregrino e a filhote vai viver separada porque não existe esse grupo familiar", conta Laura Reisfeld.
A veterinária afirma que ainda é incerto se Nur será levada para a Rússia — os ursos que estão no Brasil, inclusive a filhote, são de propriedade do zoológico russo de Kazan.
"A gente tem uma relação muito boa com o zoológico de Kazan e isso vai ser levado em consideração. Pode ser que eles decidam que a melhor opção seja ela voltar para a Rússia, mas já demonstramos que nosso interesse é manter a Nur com a gente", diz.
Procurado, o vice-diretor do zoológico de Kazan, Alexander Malev, disse à reportagem que estava disposto a dar entrevista, mas ainda aguardava permissão de seu diretor até a publicação desta reportagem.
A veterinária diz ainda que o Aquário está apto para receber futuramente um possível macho para formar um casal com Nur, para que ela também reproduza.
Ela explica por que os ursos polares nascidos ou levados para zoológicos muito jovens não podem ser reintroduzidos na natureza:
"Por conta desse comportamento independente, no Ártico, o bebê precisa aprender a caçar com a mãe, a identificar quando vai ter o degelo, quando terá que se movimentar e para qual lado deve andar", explica.
Reisfeld conta que o principal alimento do urso polar é a foca-anelada, mas que sua estratégia de caça é muito difícil, então o filhote precisa aprender com a mãe.
"É a única espécie de urso que precisa desse aprendizado e a gente, na reabilitação em zoológico e aquário, não tem como fazer porque ele é muito específico", diz a veterinária.
Os especialistas ouvidos pela reportagem dizem que o nascimento de um urso polar é apenas simbólico, uma vez que eles não poderão ser inseridos na vida selvagem e isso não salvará a espécie da extinção.
No entanto, eles afirmam que esse é um evento muito relevante para a conscientização sobre as mudanças climáticas e para o estudo da espécie para entender o comportamento dos animais que estão na natureza.
"A pesquisa no Ártico é muito difícil e muito cara. Então, todas essas informações que a gente tem observado, como o cuidado da mãe com o filhote, pode ser extrapolado para quem trabalha com esses animais lá no Ártico. Os dados de fisiologia, biologia e comportamento notados entre a mãe e o bebê dentro da toca são muito relevantes", diz a veterinária do Aquário de São Paulo.
"Isso nem sempre é possível no Ártico. Essa fase da mãe na toca é uma das menos estudadas porque o acesso aos animais é muito difícil", diz Reisfeld.
Para a veterinária, o nascimento de um urso polar, animal símbolo das mudanças climáticas e aquecimento global, é um sinal de esperança expressado no próprio nome da filhote.
"Esse nascimento é uma esperança para a conservação da espécie. É um nome muito forte porque ela é uma luz para iluminar o caminho e falar: 'Gente, vem que dá tempo de melhorar o mundo'".
Fonte: correiobraziliense
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