O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reagiu aos termos iniciais do plano encaminhado pelos Estados Unidos para o fim do conflito entre Kiev e Moscou, e reivindicou espaço nas negociações. "Não vamos aceitar qualquer acordo que não nos inclua", protestou o líder ucraniano. Também a Europa se mostrou surpresa com a conversa telefônica de uma hora e meia entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, para discutir soluções para alcançar a paz entre as ex-repúblicas soviéticas. Os europeus querem ser levados em consideração nesse processo.
Zelensky pediu que Trump estabeleça um plano para acabar com a guerra antes de incluir Putin nas negociações. Para o líder ucraniano, os contatos entre Kiev e Washington devem ser uma "prioridade". "Somente (...) depois que um plano para deter Putin for colocado em prática, acho que será bom conversar com os russos", observou. Zelensky frisou que não se pode confiar nas afirmações do russo sobre seu desejo de pôr fim à guerra.
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Em resposta, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que, "de uma forma ou de outra, é óbvio que a Ucrânia participará das negociações". Segundo Peskov, Trump e Putin não mencionaram o envolvimento da União Europeia (UE) no processo. Após a conversa, o chefe da Casa Branca previu um cessar-fogo em breve. Também descartou que a Ucrânia volte a ter o território anterior a 2014, ano da ocupação da Crimeia pelos russos, ou ingresse na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Em Washington, Trump assegurou que a Ucrânia fará "parte" dos diálogos de paz. Horas depois, o magnata republicano anunciou uma reunião, ainda hoje, em Munique, na Alemanha, entre integrantes do "alto escalão" de Rússia, Ucrânia e Estados Unidos. "A Rússia vai estar lá com nossa gente. A Ucrânia também está convidada. Não tenho certeza exatamente de quem vai representar cada país, mas será gente do alto escalão", disse Trump aos jornalistas no Salão Oval da Casa Branca.
Kiev informou não ter previsão de participar do encontro, à margem da Conferência de Segurança, que conta com a presença do vice-presidente norte-americano, JD Vance. "Uma posição comum acordada (com os aliados da Ucrânia) deve estar sobre a mesa para uma conversa com os russos. Por ora, não há nada sobre a mesa. As conversas com os russos não estão previstas", declarou aos jornalistas Dmytro Litvin, um assessor do presidente Volodimir Zelensky.
"A posição ucraniana não mudou. A Ucrânia deve falar primeiro com os Estados Unidos. A Europa deve participar de qualquer conversa séria voltada para alcançar uma paz autêntica e duradoura", acrescentou Litvin.
Embora o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, tenha dito que o contato de Trump com Putin não foi uma "traição" à Ucrânia, o gesto desencadeou uma forte reação dos aliados europeus, que, como Zelensky, temem que nem a UE, nem a Ucrânia tenham voz nas negociações. Na véspera, Hegseth afirmou, na Otan, que o retorno às fronteiras da Ucrânia anteriores a 2014 era "uma meta pouco realista".
A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, alertou que um acordo feito às escondidas da UE "simplesmente não funcionará". "Sem nossa presença à mesa, eles podem definir qualquer coisa, mas isso fracassará, porque não haverá implementação", insistiu a ex-primeira-ministra estoniana.
No mesmo sentido, o presidente do Conselho Europeu, o português António Costa, ressaltou, na rede social X, que "não haverá negociações credíveis e bem-sucedidas, nem paz duradoura, sem a Ucrânia e sem a UE". O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, acredita que é "crucial" que a Ucrânia esteja "estreitamente envolvida" em tudo o que lhe diz respeito.
Em meio à onda de protestos, o ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov, declarou, em Bruxelas, que seu país manterá a resistência à Rússia. "A mensagem é que continuaremos. Somos fortes e capazes e cumpriremos", frisou Umerov, ao chegar à sede da Otan.
Ao discursar, o secretário norte-americano de Defesa pediu para "tornar a Otan grande novamente" com mais gastos em defesa. Donald Trump, enfatizou Pete Hegseth, "não vai permitir que ninguém transforme o 'Tio Sam' em 'Tio Estúpido'".
Por sua vez, a China expressou sua satisfação pelo fato de os Estados Unidos e a Rússia estarem "fortalecendo sua comunicação". Por sua vez, o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, disse esperar que a Ucrânia firme um acordo de acesso a minerais que permitiria "reembolsar o contribuinte americano pelos bilhões de dólares que foram gastos ali".
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