Ao longo de 2024, a indústria de alimentos enfrentou um aumento significativo nos custos de produção, impulsionado pela alta nos preços das commodities agrícolas, das embalagens e das energias. É o que apontou um balanço realizado pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), divulgado ontem.
De acordo com a entidade, os custos da produção industrial tiveram alta de 9,3% no ano passado, enquanto a inflação dos alimentos industrializados subiu 7,7%. "A indústria ainda conseguiu absorver mais de 1,5% dessa alta que seria repassada para os alimentos. O impacto foi minimizado para o consumidor", disse o presidente executivo da Abia, João Dornellas, em coletiva de imprensa.
Segundo ele, o alívio nos repasses foi permitido graças a investimentos feitos pela indústria de alimentos ao longo dos anos. "Em um ano marcado por desafios econômicos e climáticos, a indústria mostrou resiliência, confirmou seu papel essencial na promoção da segurança alimentar e manteve o abastecimento e a competitividade dos produtos", afirmou.
A associação apontou que a desvalorização do real intensificou o movimento de alta dos preços, especialmente no segundo semestre. "Eventos climáticos adversos, como as enchentes no Rio Grande do Sul e estiagens prolongadas no Centro-Oeste, Sudeste e Norte, reduziram a safra de grãos e impactaram a qualidade das pastagens, pressionando os preços de matérias-primas essenciais, como soja, milho, trigo, leite e carne", destacou em nota.
O levantamento apontou ainda que outros fatores, como a elevação do imposto de importação sobre resinas plásticas e os reajustes no custo da energia elétrica, diesel e gás natural, também aumentaram a pressão sobre a indústria.
Apesar da alta no custo da produção, o faturamento da indústria brasileira de alimentos alcançou R$ 1,277 trilhão em 2024, um aumento de 9,98% em relação ao ano anterior em termos nominais. O volume representa 10,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Desse total, 72%, ou R$ 918 bilhões, são provenientes do mercado interno e 28% do comércio exterior (US$ 66,3 bilhões). As vendas reais apresentaram expansão de 6,1% e a produção física cresceu 3,2%, alcançando 283 milhões de toneladas de alimentos.
Um dos destaques do balanço é o número de exportações. No ano passado, foram 80,3 milhões de toneladas, 10,4% acima do apurado em 2023. No acumulado de 2024, a receita com essas vendas alcançou o patamar recorde de US$ 66,3 bilhões, valor 6,6% acima do verificado no ano anterior. No período de 4 anos (2020 a 2024), houve crescimento de 72,7% em valor e 29,2% em volume.
Desde 2022, o Brasil ocupa a posição de líder mundial na exportação de alimentos industrializados, em volume, o que preocupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Nós estamos exportando e o Brasil virou quase um supermercado do mundo, e nós queremos discutir com os empresários que queremos que eles exportem, mas que não possa faltar para o povo brasileiro", disse ele, em entrevista, ontem (leia mais nas pag. 2 e 3).
O chefe do Executivo voltou a dizer que o governo deve se reunir com atacadistas para buscar uma solução para os preços, mas não deu detalhes do que pode ser feito. Os produtos brasileiros chegaram a mais de 190 países e seus territórios, sendo os principais mercados: Ásia, seguida da Liga Árabe e da União Europeia.
Os itens que lideram a lista são proteínas animais (carnes), com US$ 26,2 bilhões; produtos do açúcar, com US$ 18,9 bilhões; produtos de soja, com US$ 10,7 bilhões; óleos e gorduras, com US$ 2,3 bilhões; sucos e preparações vegetais, com US$ 3,7 bilhões.
"Esse é o tema que o governo mais tem se preocupado, o preço do alimento para o consumidor. Esse preço não é à toa, não é uma situação que alguém decidiu", argumentou o presidente da Abia.
No ano passado, as commodities agrícolas que registraram maior valorização foram o cacau, café, leite, seguido por milho e trigo. De acordo com Dornelas, a expectativa é de um arrefecimento nos preços em 2025, com uma safra recorde e menos pressões inflacionárias. "Temos um cenário de inflação menor, dólar em baixa, a expectativa é de uma melhora nos preços. Alguns devem seguir pressionados, como café e cacau, por restrição de oferta", afirmou o executivo.
Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, o chefe do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, disse ontem que já é possível encontrar alimentos com preços mais em conta em supermercados do país. "Se você for ao supermercado hoje, vai ver que os preços estão bem melhores que há um mês ou dois. É o momento de o povo vivenciar. Mas tem muito o que fazer ainda. Os produtos vão baixar mais. Temos que tomar todas as medidas para baixar os preços dos produtos", afirmou.
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