24 de Fevereiro de 2025

Preço dos alimentos deve ter alívio em 2025, apontam projeções


O preço dos alimentos deve pesar um pouco menos no consumo das famílias em 2025. As perspectivas indicam uma desaceleração na inflação alimentar, embora os preços ainda devam permanecer elevados. De acordo com as projeções, a inflação dos alimentos deve ficar em torno de 6% neste ano, ante uma expectativa de cerca de 5% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede o índice geral de inflação do país.

As estimativas da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda apontam que o índice de inflação geral continuará estável neste ano. Apesar de permanecer distante da meta, que é de 3%, com intervalo de tolerância de até 4,5%, a expectativa é de uma desaceleração dos preços dos alimentos.

O levantamento destaca um arrefecimento no preço das carnes, e de alimentos in natura, que foram bastante impactados por eventos climáticos extremos no ano passado. "Os preços de carnes tendem a desacelerar até o final do ano, menos impactados pela reversão no ciclo de abate do gado e pelo avanço das exportações", aponta o documento, que contém perspectivas para o ano.

"O cenário também deverá ser mais favorável para o arroz, feijão, alimentos in natura e derivados de soja e leite, refletindo as boas perspectivas para o clima e para a produção agrícola em 2025. Em contrapartida, os preços de trigo e derivados tendem a subir, impactados pela baixa colheita em 2024", projeta a pasta.

Fatores climáticos adversos, como calor extremo e secas, impactaram negativamente a produção agrícola em 2024, afetando itens como café e alimentos in natura. "Para 2025, espera-se uma melhora nas condições climáticas, o que pode favorecer a recuperação dessas safras e contribuir para a estabilização ou redução dos preços desses produtos", avaliou o economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a safra brasileira deve atingir 325,3 milhões de toneladas, um recorde histórico e 11,1% superior à de 2024. "Isso indica que, para grãos como soja, milho e algodão, a maior oferta pode ajudar a reduzir os preços domésticos ou, pelo menos, conter novas altas, dependendo da demanda externa e da taxa de câmbio", destaca o economista.

De acordo com ele, o clima beneficiou as lavouras desde outubro, favorecendo uma produção robusta. "No entanto, a Região Sul, especialmente o Rio Grande do Sul, enfrenta secas, o que pode impactar a colheita de algumas culturas, como arroz e trigo, e pressionar os preços desses produtos no mercado interno", diz.

A expectativa é de que alguns produtos possam apresentar redução de preços em 2025, como óleo de soja e leite, devido ao aumento da produção e à melhora nas condições de oferta. Por outro lado, itens como café e laranja podem continuar com preços elevados, influenciados por fatores como exportações aquecidas e desafios específicos em suas cadeias produtivas.

A conjuntura mais otimista para o preço dos alimentos ao longo deste ano se soma aos possíveis impactos de tarifas impostas sobre importações brasileiras pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A avaliação do professor do Insper é de que isso também possa favorecer o mercado doméstico. "A política tarifária de Trump pode atingir produtos agrícolas exportados pelo Brasil para os EUA, como soja, carne bovina e suco de laranja, o que pode levar a um redirecionamento da produção para o mercado interno, aumentando a oferta e reduzindo os preços domésticos desses itens", afirma Nogami.

Além da taxação de 25% sobre o aço, Trump instruiu, ainda, que sua equipe elabore planos para impor tarifas recíprocas a países que cobram taxas de importação de produtos americanos, produto por produto. Não se trata de uma alíquota específica, mas uma orientação geral de reciprocidade aos países que impõem barreiras ao comércio com os EUA.

As tarifas recíprocas podem impactar o comércio internacional, afetando setores estratégicos do Brasil, como siderurgia, agronegócio e manufatura. "Se os EUA elevarem tarifas sobre a soja brasileira, por exemplo, os produtores podem vender mais internamente, reduzindo os custos da ração animal e impactando os preços da carne suína e de frango", ressalta o economista.

A inflação dos alimentos tem crescido acima da inflação geral no Brasil. Alguns dos motivos atribuídos a esse cenário são a desvalorização cambial, já que o dólar em alta favorece a exportação, o que desabastece o mercado interno e aumenta os preços; além dos eventos climáticos, que exerceram forte impacto sobre a produção.

Segundo a subsecretária de Política Macroeconômica da Fazenda, Raquel Nadal, o forte crescimento das exportações em 2024 levou a uma alta de mais de 19% no preço das carnes bovinas no IPCA.

Ela afirmou, ainda, que, se não fosse esse componente, a inflação poderia ter encerrado o ano passado dentro da meta. "A alta foi tão relevante que excluindo carnes bovinas do índice de inflação teríamos uma inflação de alimentos em cerca de 6,2%, ao invés de 8,2%. Nesse cenário, a inflação cheia teria fechado em 2024 dentro da meta, em 4,5%. Isso sem contar os impactos indiretos que a alta dos preços da carne exerceu em outros itens da inflação, como na inflação fora do domicílio", destaca.

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Outro fator apontado pela indústria é o aumento do custo de produção. De acordo com o balanço da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), os custos da produção industrial tiveram alta de 9,3% no ano passado, enquanto a inflação dos alimentos industrializados subiu 7,7%.

As commodities agrícolas que registraram maior valorização no último ano foram o cacau, café, leite, seguido por milho e trigo. O presidente executivo da Abia, João Dornellas, destaca a melhora das perspectivas para este ano, com uma safra recorde e menos pressões inflacionárias. "Temos um cenário de inflação menor, dólar em baixa, a expectativa é de uma melhora nos preços. Alguns devem seguir pressionados, como café e cacau, por restrição de oferta", afirma o executivo.

A inflação dos alimentos se tornou um dos principais focos de preocupação do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deu diversas declarações sobre o impacto que a alimentação vem tendo no custo de vida da população, e o cenário reacendeu o debate sobre quais políticas públicas são mais eficientes para conter a inflação e proteger a população mais vulnerável.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou a alta demanda por exportações pelo preço dos alimentos no país e afirmou que deve se reunir com atacadistas em busca de uma alternativa para baixar os valores.

Um estudo realizado pelo Centro de Liderança Pública (CLP) analisou cinco principais estratégias para enfrentar a alta dos alimentos, destacando os prós e contras de cada uma, como controle direto de preços, subsídios tributários, controle de estoque, políticas comerciais e transferência de renda.

De acordo com o levantamento, medidas como controle direto de preços ou subsídios podem ter efeitos colaterais negativos, como desestímulo à produção e criação de mercados paralelos.

Outro ponto levantado é que a política fiscal tem impacto direto nos preços dos alimentos. Daniel Duque, gerente de Inteligência Técnica do CLP, destaca ainda que a desvalorização do real encarece produtos importados e insumos agrícolas, contribuindo para a inflação. "Controlar os gastos públicos e buscar equilíbrio fiscal, além de contribuir para a estabilização da taxa de câmbio, é essencial para mitigar pressões inflacionárias sobre os alimentos e garantir a segurança alimentar da população", afirma.

Intervenções governamentais no mercado de alimentos podem ter impactos variados, conforme avalia o professor do Insper. "Medidas como a redução de tarifas de importação podem aumentar a oferta interna e ajudar a conter os preços. No entanto, é importante que essas ações sejam cuidadosamente planejadas para evitar distorções no mercado, garantir a sustentabilidade dos produtores locais e assegurar que os benefícios sejam repassados aos consumidores finais", diz Nogami.

De acordo com o economista, intervenções como controle de preços, subsídios ou estoques reguladores podem, no curto prazo, gerar um alívio temporário nos preços de alimentos básicos. No entanto, tais medidas podem desincentivar a produção e reduzir a oferta futura, agravando o problema no médio prazo. "Se o governo, por exemplo, fixa um teto para o preço do arroz ou da carne, os produtores podem reduzir a produção, pois o retorno financeiro pode não compensar os custos."

A médio prazo, com a redução da margem de lucro, produtores podem migrar para culturas mais rentáveis ou diminuir investimentos em tecnologia e produtividade. "Isso pode reduzir a oferta de alimentos no futuro, gerando novas pressões inflacionárias", alerta o professor. "Além disso, políticas de subsídios podem criar distorções no consumo, beneficiando artificialmente alguns setores em detrimento de outros. Se o governo subsidiar o trigo, produtores podem substituir o plantio de milho e soja pelo trigo, levando a encarecimento desses outros produtos", afirma.

Nogami avalia, ainda, que uma interferência contínua pode gerar ineficiências no mercado, pois produtores passam a depender do governo, em vez de responder a sinais de mercado. "Além disso, a manutenção de subsídios ou estoques reguladores representa um alto custo fiscal, que pode resultar em aumento de impostos ou cortes em outras áreas essenciais. Países que subsidiaram excessivamente setores agrícolas enfrentaram deficits fiscais, inflação reprimida e dificuldades para reverter as medidas no futuro", acrescenta.

Fonte: correiobraziliense

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