O ator americano Gene Hackman, morto aos 95 anos de idade, começou tarde sua carreira, mas se tornou um dos astros mais bem pagos de Hollywood.
Hackman, sua esposa Betsy Arakawa, de 64 anos, e um dos cães do casal foram encontrados mortos em casa, em Santa Fé, no Estado americano do Novo México.
A delegacia do condado de Santa Fé confirmou que eles foram encontrados "mortos na quarta-feira" (26/2), mas que os policiais "não acreditam que haja crime envolvido".
Hackman teve uma carreira ilustre de cinco décadas como ator. Ele ganhou dois Oscars e foi indicado para outros três, interpretando homens violentos e participando de comédias com a mesma competência.
Ele chegou a ser descrito como tendo o rosto de um motorista de caminhão e interpretava igualmente papéis principais ou secundários.
Hackman ganhou fama com o filme Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas (1967) e raramente ficou sem trabalho nas décadas seguintes. Ele atuou em filmes como Operação França (1971), Mississippi em Chamas (1988) e na franquia Superman.
Hackman se aposentou em 2004 por conselho do seu cardiologista e deu muito poucas entrevistas desde então. Ele decidiu manter uma vida calma no Novo México com sua segunda esposa, Betsy.
Eugene Allen Hackman nasceu em 1930, em San Bernardino, no Estado americano da Califórnia.
Ele teve uma infância nômade. Seus pais se divorciaram e ele morou com diversos parentes, até se estabelecer com a avó materna em Danville, no Estado americano de Illinois.
Seu pai saiu de casa quando Hackman ainda era adolescente.
"Quando o jovem Gene tinha 13 anos de idade, seu pai abandonou a família enquanto seu filho brincava na rua", segundo o repórter Robert Berkvist (1932-2023), do jornal The New York Times.
"Hackman relembrou anos depois que seu pai, quando passou por ele, deu um aceno de mão", prossegue Berkvist. "'Eu não havia percebido o quanto um pequeno gesto pode significar', declarou ele certa vez. 'Talvez por isso eu tenha me tornado ator.'"
A mãe de Hackman morreu em 1962. Ela morreu queimada, depois de colocar fogo no colchão com um cigarro depois de beber.
Ainda adolescente, Hackman estava ansioso para se emancipar. Ele mentiu sobre sua idade e entrou para os fuzileiros navais com 16 anos. Lá, ele serviu por cerca de cinco anos.
Hackman foi destacado para a China, onde foi operador de rádio – o que o levou, mais tarde, a trabalhar como disc-jóquei.
"Tenho dificuldade com a direção porque tenho problemas com autoridade", declarou ele sobre sua curta carreira militar. "Não fui um bom fuzileiro."
Depois de estudar rapidamente jornalismo e produção de TV na Universidade de Illinois, Gene Hackman deixou os estudos para ingressar no teatro Pasadena Playhouse, na Califórnia, nos anos 1960. Lá, ele e seu colega de classe Dustin Hoffman foram eleitos os "menos propensos ao sucesso".
Inabaláveis, apesar do voto de desconfiança, os dois atores foram para Nova York, onde dividiram um apartamento com outro aspirante a ator dramático, Robert Duvall. Hackman conseguiu alguns papéis pequenos e complementava sua renda com uma série de trabalhos estranhos.
Ele contava frequentemente como um ex-sargento o encontrou no lado de fora de um hotel em Nova York, onde ele trabalhava como porteiro. Ao reconhecer seu antigo subordinado, o sargento exclamou que sabia que Hackman nunca chegaria a lugar nenhum.
Houve também uma época em que ele trabalhou na limpeza noturna do edifício Chrysler, em Nova York. Hackman contou posteriormente que este foi o pior emprego que ele teve na vida.
Mas ele também interpretava papéis em comédias leves, na Broadway e fora dela, que levaram a pequenos trabalhos na televisão e, em seguida, no cinema.
Seu primeiro papel na tela grande foi no filme Lilith (1964), estrelado por Warren Beatty. E, impressionado pelo seu desempenho, Beatty escalou Hackman como seu irmão, Buck Barrow, no filme Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas.
Gene Hackman foi indicado para o Oscar de melhor ator coadjuvante por Bonnie e Clyde e novamente por Meu Pai, Um Estranho (1970).
Até que veio Operação França. E aquele papel o transformou.
Hackman interpretou o agente de narcóticos independente Jimmy "Popeye" Doyle, que persegue um traficante de drogas francês. A cena mais notável foi a famosa sequência no metrô de Nova York.
A atuação valeu o Oscar de melhor ator e ele repetiu o papel em Operação França 2 (1975).
Dali em diante, Gene Hackman colecionou sucessos. Seja em seus filmes aclamados pela crítica – como A Conversação (1974) ou Um Lance no Escuro (1975) – ou nos sucessos de público, como O Destino do Poseidon (1972), Hackman se tornou uma incontestável atração de bilheteria.
Consolidado como um dos durões da tela grande, Gene Hackman se adaptou facilmente à comédia em O Jovem Frankenstein (1974) e interpretou o desprezível supervilão Lex Luthor em Superman (1978) e Superman 2 (1980).
Hackman ficou tão abalado com a forma em que os produtores de Superman trataram seu diretor, Richard Donner (1930-2021), que se recusou a fazer parte do terceiro filme da série. Mas ele participou de Superman 4: Em Busca da Paz (1987).
Os anos 1980 foram mais uma década de sucesso para Gene Hackman, especialmente pela sua poderosa atuação em Mississippi em Chamas, que lhe valeu uma nova indicação para o Oscar de melhor ator. Ele interpretou um agente do FBI que foi encarregado, ao lado de um colega novato, de investigar o assassinato racista de defensores dos direitos civis, no início dos anos 1960.
O diretor Alan Parker (1944-2020) qualificou Hackman de "ator muito intuitivo e instintivo".
Hackman ganhou outro Oscar de melhor ator coadjuvante, em 1993, pelo filme Os Imperdoáveis. Ele interpretou um xerife sádico chamado Bill Daggett.
O longa também ganhou o Oscar de melhor filme. Os prêmios vieram três anos depois que Hackman passou por uma cirurgia de ponte de safena, após um ataque cardíaco.
Ao lado de Will Smith, Hackman interpretou o papel principal de Inimigo do Estado (1998), como o gênio da computação Edward "Brill" Lyle, em uma história assustadora de vigilância governamental.
Sua presença linha-dura na tela fez de Hackman o ator ideal para interpretar os personagens inteligentes, mas cruéis, das adaptações para o cinema dos romances de John Grisham, como A Firma (1993) e O Júri (2003). Neste, pela primeira vez, ele aparece na tela ao lado do seu antigo colega de apartamento, Dustin Hoffman.
Sua versatilidade e o luxo de poder escolher roteiros trouxe a Hackman outra grande interpretação, na comédia não convencional Os Excêntricos Tenenbaums (2001), que atraiu boas críticas.
Mas Hackman decidiu se despedir do cinema com a sátira política Uma Eleição Muito Atrapalhada, em 2004. E, para justificar sua decisão, ele declarou à agência Reuters que preferiu evitar que sua aposentadoria tivesse um sabor amargo.
"O trabalho, para mim, é muito estressante", disse ele. "As concessões que você precisa fazer nos filmes são apenas parte dos problemas e chegou a um ponto em que simplesmente percebi que não queria mais fazer aquilo."
Uma década depois, ele saiu rapidamente da aposentadoria para narrar dois documentários sobre a história do corpo de fuzileiros navais americanos. Fora isso, ele manteve seus planos até o fim.
Depois de deixar de atuar, Gene Hackman iniciou uma nova carreira como escritor de ficção histórica.
Ele escreveu quatro livros com Daniel Lenihan: Wake of the Perdido Star ("O despertar do [navio] Perdido Star", 1999), Justice for None ("Justiça para Ninguém", 2004), Vermillion (2004) e Escape from Andersonville ("Fuga de Andersonville", 2008).
Hackman também publicou dois livros solo, Payback at Morning Peak ("Vingança em Morning Peak", 2011) e Pursuit ("A busca", 2013). Ele contou o que o levou a esta nova atividade.
"Na verdade, gosto da solidão [de escrever]. De certa forma, é parecido com atuar, mas é mais pessoal e sinto que tenho mais controle sobre o que estou tentando fazer e dizer", declarou Hackman à agência Reuters.
"Sempre existem concessões ao atuar e filmar, você trabalha com muitas pessoas e cada um tem uma opinião [risos]."
"Mas, com os livros, somos apenas Dan e eu, com nossas opiniões", ele conta. "Não sei se gosto mais do que de atuar, é apenas diferente. Acho relaxante e reconfortante."
Gene Hackman se casou com Faye Maltese em 1956. O casal teve três filhos, mas se divorciou em 1986. Cinco anos depois, ele se casou com Betsy Arakawa, dona de uma loja de móveis de luxo em Santa Fé, no Novo México.
Gene Hackman fez mais de 80 filmes – e ainda conseguiu se tornar um pintor respeitado e competente jogador de golfe. Ele só não se deu tão bem no automobilismo, quando dirigiu carros de Fórmula Ford e participou das 24 Horas de Daytona, em 1983.
Ao longo da carreira, ele deu poucas entrevistas e não seguiu o estilo de vida das celebridades.
"Se você se considerar um astro", declarou Hackman, "você já perdeu alguma coisa na representação de qualquer ser humano."
Fonte: correiobraziliense
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