01 de Março de 2025

'Efeito Elon Musk': o que explica queda de vendas da Tesla na Europa e derretimento de ações na bolsa


A montadora de carros elétricos Tesla não está tendo um bom começo de ano em 2025.

As vendas da empresa do bilionário Elon Musk caíram mais de 45% em janeiro na União Europeia e no Reino Unido, enquanto na China, um dos seus maiores mercados, caíram 11%.

O desempenho da Tesla na Europa contrasta com os números de vendas de carros elétricos no continente, que aumentaram mais de um terço no mês passado.

Além disso, houve queda acentuada no preço das ações da montadora, que desabaram 30% somente em fevereiro e mais de 40% desde a máxima histórica atingida em meados de dezembro.

A queda do preço das ações da Tesla nesta semana fez com que o valor de mercado da empresa caísse abaixo de US$ 1 trilhão pela primeira vez desde novembro do ano passado.

Segundo analistas, a situação atual da Tesla pode ser explicada em parte pela forte concorrência que a empresa tem enfrentado na Europa nos últimos anos por parte de fabricantes na China, que oferecem veículos elétricos mais baratos e com desempenho semelhante.

Russ Mould, diretor de investimentos da AJ Bell, acredita que a concorrência é o principal fator no declínio das vendas da Tesla em janeiro.

No entanto, de acordo com Mould, alguns compradores podem estar decidindo não comprar carros Tesla por causa do perfil cada vez mais politizado de Elon Musk.

Musk se tornou um dos aliados mais próximos do presidente dos EUA, Donald Trump, financiando sua campanha presidencial de 2024 com centenas de milhões de dólares e agora assumindo a liderança do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês). No Doge, Musk tenta promover profundos cortes nos gastos federais e demissões em massa de funcionários públicos.

O homem mais rico do mundo também recentemente demonstrou apoio ao partido da direita radical AfD da Alemanha, parabenizando sua líder depois que o partido obteve seus melhores resultados na eleição de domingo (23/2).

Ao falar sobre política da Europa, Musk também atacou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e foi acusado de incitar violentos protestos anti-imigração que abalaram o Reino Unido no ano passado.

Após essas polêmicas, e depois do polêmico gesto de Musk com o braço levantado após a posse de Trump em 20 de janeiro — que muitos interpretaram como uma saudação fascista —, imagens de carros e concessionárias da Tesla vandalizados com pichações contra o homem mais rico do mundo têm circulado nas redes sociais.

Também houve vários depoimentos na imprensa europeia e americana de proprietários de Tesla que decidiram se livrar de seus veículos devido ao crescente perfil politizado de Musk.

Alguns dias atrás, um grupo britânico chamado "Everyone Hates Elon" exibiu um cartaz em um ponto de ônibus de Londres com uma foto de Musk com o braço levantado e o slogan "Tesla the Swasticar". A imagem era acompanhada da frase: "Vai de 0 a 1939 em três segundos", uma alusão ao ano em que começou a Segunda Guerra Mundial.

Alguns donos de Teslas colocaram adesivos que dizem coisas como: "Comprei isso antes de Elon enlouquecer".

Jessica Caldwell, analista da indústria automotiva do site Edmunds.com, disse ao jornal The Washington Post que os proprietários de Tesla atualmente se dividem em dois grupos: aqueles que dizem que nunca mais comprarão um e aqueles que fazem distinção entre Musk e seus carros.

"Esses dizem, 'Eu realmente gosto do meu Tesla.' Eu não concordo necessariamente com Musk, mas vejo as duas coisas como entidades distintas. Não é como se Elon Musk estivesse no meu carro'", disse Caldwell.

Este é o caso de Silvana Gómez, uma jovem que mora em Miami, na Flórida. "São duas coisas que não têm relação", disse Gomez à BBC News Mundo (o serviço de notícias da BBC em espanhol) enquanto recarregava seu carro elétrico.

"Ter um Tesla não significa que você é a favor (de Musk). É apenas um carro."

Mas Jake Nickell, um empresário americano de 44 anos que mora em Illinois, discorda.

Ao longo dos anos, ele e sua esposa compraram três carros Tesla. Quando compraram o primeiro, "éramos fãs de novas tecnologias, ficamos muito felizes em ver uma marca de carros elétricos viável e queríamos apoiá-la", disse ele à BBC News Mundo.

Entretanto, em agosto de 2021, eles venderam seu último Tesla. "Naquela época, acho que Musk não havia se aprofundado tanto nas suas políticas de direita como agora, mas achamos suas postagens nas redes sociais extremamente ofensivas", disse Nickell.

"Não queríamos mais ser associados à marca por causa do comportamento de Musk."

Na Holanda, uma pesquisa recente do site EenVandaag descobriu que quase um terço dos proprietários de Tesla no país europeu estão pensando em vender seus carros devido ao comportamento de Musk.

"Musk abusa do seu poder. Se eu soubesse como ele é, eu nunca teria comprado um Tesla", disse um entrevistado ao EenVandaag.

Esse não é o caso de Nick Howe, presidente do clube de donos de carros Tesla na Flórida.

"Elon sempre inspirou fortes emoções tanto na esquerda quanto na direita, e entendo perfeitamente que uma minoria barulhenta está reagindo aos eventos recentes", disse Howe à BBC News Mundo.

"Eu acredito muito na missão da Tesla. Adoro dirigir meus Teslas e nunca mais voltarei a um carro movido a gasolina", disse Howe.

Do Texas, Matt Holmes, presidente do clube de proprietários de Tesla de Austin, argumentou que a maioria das pessoas tem a capacidade de separar a política de um CEO de seu produto.

"Já tive nove Teslas e não pretendo mudar com base nas tendências políticas do CEO", disse ele à BBC News Mundo.

"Acredito que a maioria dos proprietários de carros não comprou o veículo com base na coincidência de suas políticas com as do CEO do fabricante", disse ele.

Patrik Schneider, proprietário de um Tesla na Alemanha, contou ao site alemão Capital.de que um estranho o interrompeu em um posto de gasolina, apontou para seu carro e o acusou de ser um apoiador de Trump.

"É claro que, como motorista de Tesla, antes você era tido como o burro: o eleitor do Partido Verde, o salvador do mundo, o cara do CO2", explicou Schneider. "Mas agora você está em uma categoria que não é mais divertida."

Seguindo uma iniciativa semelhante nos EUA, Schneider criou uma linha de "adesivos anti-Elon" para carros Tesla com mensagens como "Comprei isso antes de Elon enlouquecer" ou "Elon é uma droga", que ele começou a vender com sucesso online.

Peter Bardenfleth-Hansen, ex-chefe da divisão Europa, Oriente Médio e Ásia da Tesla, disse à BBC que o comportamento de Musk foi "definitivamente uma das razões para a queda" nas ações e vendas da empresa, mas acrescentou que havia uma "série de coisas que estão criando um efeito dominó".

"Não há dúvida de que o flerte de Musk com a direita na política ou sua aparição na TV com uma motosserra não está ajudando exatamente sua imagem", disse Bardenfleth-Hansen.

"Ele pode estar conseguindo uma base de fãs maior dentro de um tipo específico de clientela, mas eles não são os que compram os Teslas. Eles não são os que colocam dinheiro na empresa dele. Então ele tem um problema", disse ele.

Apesar dos danos que Musk pode estar causando à imagem da Tesla e do efeito que isso pode ter no desempenho da montadora, Russ Mould, da plataforma de investimentos AJ Bell, insiste que as causas da situação da empresa são diversas.

Além da forte concorrência das montadoras chinesas, Mould acrescenta o nervosismo geral nos mercados sobre a direção das taxas de juros nos EUA e as preocupações com os planos de Trump de impor tarifas a seus parceiros comerciais.

Ainda assim, alguns analistas dizem que há motivos para otimismo na Tesla, já que a montadora começou a lançar uma versão atualizada de seu modelo Y mais vendido e deve lançar um veículo elétrico mais barato no primeiro semestre do ano, o que pode ajudar a impulsionar as vendas.

Até agora, Musk ignorou as críticas.

Questionado durante uma teleconferência em janeiro se suas ações estavam afetando negativamente a Tesla, ele destacou os 127 milhões de seguidores que tem no X, sua plataforma de mídia social. "Posso não ser popular com algumas pessoas, mas para a grande maioria, meu número de seguidores fala por si", disse ele.

Com reportagem de Cecilia Barría.

Fonte: correiobraziliense

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