O México extraditou 29 prisioneiros acusados ??de crimes relacionados ao narcotráfico para os Estados Unidos.
Entre eles, está o chamado "narco dos narcos", Rafael Caro Quintero, que as autoridades americanas tentam levar à justiça há 40 anos, segundo declarações dos governos americano e mexicano.
A medida, considerada uma das maiores extradições da história do México, é vista como um passo importante nas relações bilaterais de segurança entre os dois países.
Isso acontece depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou no início deste ano impor tarifas sobre as importações do México, acusando o país de não combater o tráfico de drogas e a migração em massa.
"Esta ação faz parte do trabalho de coordenação, cooperação e reciprocidade bilateral no âmbito do respeito à soberania de ambas as nações", afirmou uma declaração do Ministério das Relações Exteriores do México na quinta-feira (27/2), anunciando a extradição.
Posteriormente, a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, emitiu sua própria declaração dizendo: "Como o presidente Trump deixou claro, os cartéis são grupos terroristas, e este Departamento de Justiça se dedica a destruir cartéis e gangues transnacionais".
"Processaremos estes criminosos com todo o rigor da lei em homenagem aos bravos representantes da lei que dedicaram suas carreiras — e, em alguns casos, deram suas vidas — para proteger pessoas inocentes do flagelo dos cartéis violentos", acrescentou.
Caro Quintero é um dos membros fundadores do Cartel de Guadalajara, e uma figura central na criação do tráfico de drogas mexicano moderno.
Na década de 1980, ele já era conhecido como o maior produtor de maconha do México e, já naquela época, as autoridades mexicanas e americanas estimavam sua fortuna em US$ 500 milhões.
Uma de suas propriedades foi palco da maior operação de combate às drogas da história do país: mais de 10.000 toneladas de maconha cultivadas no rancho El Búfalo foram destruídas.
Caro Quintero ordenou, então, o sequestro do homem que descobriu o carregamento, o agente Enrique "Kiki" Camarena Salazar, do Departamento de Combate às Drogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês), assim como do piloto mexicano Alfredo Zavala Avelar.
Ambos foram torturados e assassinados. A morte do policial americano, em 1985, provocou uma das crises mais profundas no relacionamento entre os EUA e o México.
Mas também marcou o combate às drogas por parte do governo de Washington.
Assim como outros conhecidos chefes do narcotráfico mexicanos, Caro Quintero nasceu no município de Badiraguato, no Estado de Sinaloa.
Em entrevista à jornalista Anabel Hernández, o chefe do tráfico confessou que sua família era muito pobre, e que ele foi forçado a cultivar maconha após a morte do pai porque, segundo ele, não havia outra maneira de sustentá-la.
O município de Badiraguato está localizado no Triângulo Dourado, uma região montanhosa entre os Estados de Sinaloa, Chihuahua e Durango. É uma das áreas com maior produção de maconha e papoula do país.
Em pouco tempo, Caro progrediu no negócio e, aos 30 anos, era um dos principais sócios de Miguel Ángel Félix Gallardo, conhecido como "o chefe dos chefes". Ele foi o primeiro narcotraficante mexicano a exportar cocaína para os EUA.
No início da década de 1970, o governo mexicano lançou a Operação Condor, uma estratégia para erradicar o cultivo de maconha e papoula na região do Triângulo Dourado, no noroeste do México.
Os chefes das organizações, incluindo Caro Quintero e Félix Gallardo, deixaram a região e se estabeleceram em Guadalajara, a capital de Jalisco. É por isso que o DEA chama a organização de Caro Quintero de Cartel de Guadalajara.
De acordo com especialistas, os chefes do narcotráfico começaram a se misturar com a sociedade local, apresentando-se como empresários prósperos.
Félix Gallardo, por exemplo, era consultor de um banco, e Rafael Caro se apresentava como agricultor e pecuarista.
A presença dos chefes do tráfico alertou o governo dos EUA, que enviou uma equipe do DEA para a cidade, incluindo Enrique Camarena.
E as coisas mudaram drasticamente quando Camarena foi sequestrado em fevereiro de 1985, ao sair do Consulado dos EUA em Guadalajara.
Ele foi levado para uma casa próxima, acompanhado do piloto Zavala Avelar. Ambos foram torturados e depois assassinados.
Seus corpos apareceram semanas depois no Estado vizinho de Michoacán.
Caro Quintero fugiu para a Costa Rica, onde foi preso em abril de 1985.
Como informou, em 2019, o jornalista da BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, Alberto Nájar, as investigações sobre o homicídio revelaram que o chefe do narcotráfico e o cartel de Guadalajara haviam criado uma extensa rede de aliados entre políticos, militares e forças policiais.
Caro Quintero foi preso e condenado a 40 anos de prisão. Mas depois de 28 anos atrás das grades, ele foi libertado em 2013, com base no que foi considerado na época "um detalhe técnico legal".
O tribunal decidiu que Caro Quintero, então com 60 anos, deveria ter sido julgado em um tribunal estadual, e não federal.
A libertação dele provocou uma forte indignação entre os americanos.
Mas, em 2022, quando já tinha quase 70 anos, ele foi recapturado pela Marinha mexicana no Estado de Sinaloa.
Caro Quintero continuava sendo o fugitivo mais procurado pelo DEA, que oferecia até US$ 20 milhões por informações que levassem à sua captura. E assim que ele foi preso novamente, os EUA anunciaram que solicitariam sua extradição imediata.
"Não há lugar para se esconder para quem sequestra, tortura e assassina agentes da lei americanos. Somos profundamente gratos às autoridades mexicanas pela captura e prisão de Rafael Caro Quintero", afirmou o então procurador-geral dos EUA, Merrick Garland.
Agora, três anos depois, em resposta à extradição de Caro Quintero, o chefe interino do DEA, Derek Maltz, elogiou a medida, classificando como uma "vitória para a família Camarena".
A expectativa é de que Quintero compareça perante o tribunal em Nova York nesta sexta-feira (28/2).
Entre os outros prisioneiros extraditados, estão os fundadores do sanguinário Cartel Los Zetas, Miguel Ángel Treviño e seu irmão Omar Treviño.
Conhecidos como "Z-40" e "Z-42", respectivamente, os dois comandaram a temida organização durante anos até seu desaparecimento em meados da década de 2010.
Miguel Treviño, que foi preso por fuzileiros navais mexicanos em julho de 2013, era procurado em ambos os lados da fronteira por ordenar massacres e traficar drogas em escala global.
Já Omar Treviño, que era procurado nos EUA e no México por acusações de tráfico de drogas, sequestro e assassinato, foi capturado pelas forças de segurança em Monterrey, no Estado de Nuevo León, em 2015.
Seu império criminoso abrangia uma ampla variedade de atividades ilícitas, incluindo contrabando de cocaína, tráfico de pessoas, extorsão, tráfico de armas e sequestros.
A lista de 29 extraditados também inclui Vicente Carrillo Fuentes, o "Viceroy", irmão de Amado Carrillo Fuentes, chamado de "senhor dos céus", líder do Cartel de Juárez.
Antes da ascensão do Cartel de Sinaloa, liderado por Joaquín Guzmán Loera, mais conhecido como "El Chapo", o Cartel de Juárez era considerado a organização criminosa mais perigosa e poderosa do país.
"Viceroy" foi detido em outubro de 2014 em Torreón, no Estado de Coahuila.
Também foi extraditado Antonio Oseguera Cervantes, irmão mais novo do líder do Cartel de Jalisco - Nova Geração (CJNG), Nemesio Oseguera, que foi preso em 2022, em Jalisco, e cuja extradição havia sido solicitada pelos EUA em julho de 2023.
De acordo com o Departamento do Tesouro dos EUA, Antonio Oseguera é um membro do alto escalão do CJNG, responsável por atividades de lavagem de dinheiro e tráfico internacional de drogas.
Outro extraditado é José Ángel Canobbio Inzunza, considerado o operador financeiro e braço direito de Iván Archivaldo Guzmán Salazar, filho de "El Chapo".
Canobbio Inzunza, que foi preso no México na semana passada, era responsável pelo planejamento de rotas para a distribuição internacional de fentanil, metanfetamina e cocaína, de acordo com Omar García Harfuch, chefe da Secretaria de Segurança do México.
Outros líderes e membros dos Los Zetas, do CJNG e outros grupos criminosos, como La Familia Michoacana, também estão na lista.
Fonte: correiobraziliense
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