22 de Novembro de 2024

A duas semanas da eleição, debate político gira em torno de satanismo e canibalismo e deixa propostas em segundo plano


Montagem Jovem Pan: Flickr Lula Oficial/Ricardo Stuckert e Alan Santos/PR

Com a definição no dia 2 de outubro de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual mandatário Jair Bolsonaro (PL) iriam se enfrentar no segundo turno das eleições presidenciais, o debate público passou a ser inundado de acusações, ilações e falas descontextualizadas de ambos os candidatos ao cargo de chefe do Executivo. Se na eleição anterior, parte dos eleitores de direita passaram a compartilhar notícias falsas para gerar medo nos eleitores e direcionar uma votação em massa a um lado, neste ano o embate encontra-se, surpreendentemente equilibrado. O entorno dos dois candidatos aproveitam-se dos sentimentos primitivos do eleitorado e compartilham imagens e vídeos de seu desafeto, em falas, visitas e posicionamentos antigos, para impactar o brasileiro que irá às urnas no dia 30 de outubro para eleger o próximo presidente. De pautas morais a maçonaria, de aproximação com o crime organizado a práticas canibais, tudo vale para aumentar a rejeição do adversário. Quem perde com isso é o eleitor, que espera ver um debate das ideias para votar em um projeto de país e não é impactado com discursos propositivos. O site da Jovem Pan realizou um levantamento com as principais acusações realizadas desde o início do segundo turno presidencial e conversou com especialistas para entender o cenário político atual e compreender de que maneira, a duas semanas da eleição mais importantes da história do Brasil, o debate público se afastou dos projetos e abraçou o enredo acusatório.

Alvo das maiores notícias falsas nas eleições de 2018, a esquerda passou a compreender e operar o sistema de disseminação de desinformação nas redes sociais e, desde o início do segundo turno das eleições presidenciais, iniciou uma ofensiva contra o presidente Jair Bolsonaro, que busca a reeleição. Poucos dias após a definição de que o candidato do PL iria enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conteúdos sobre o atual chefe do Executivo que já encontravam-se nas redes sociais e em sites de vídeo passaram a ser compartilhados novamente por eleitores do petista para afastar o eleitorado católico e evangélico do atual governo. É o caso da visita de Bolsonaro a uma loja maçônica, que ocorreu em 2017. Na ocasião, o então deputado federal buscava solidificar seu nome como candidato à presidência da Republica e passou a viajar pelo país apresentando-se ao eleitorado. Em uma destas reuniões, Bolsonaro compareceu a uma loja da maçonaria e falou aos presentes: “Temos tudo para sermos uma grande nação. Às vezes, olhamos para países pequenos que nada têm, e são destaques no mundo. Nós, com todo potencial que temos, devemos muito para chegar próximo dessas nações. Não estou candidato a nada. Há dois anos e meio, resolvi andar pelo Brasil e sair da zona de conforto”. No dia 5 de outubro, porém, ao realizar uma transmissão ao vivo em suas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro confirmou a veracidade do vídeo e minimizou possíveis polêmicas quanto a sua visita no templo da maçonaria. “Pessoal me criticando porque fui em loja maçom em 2017. Fui sim, fui em loja maçom, acho que foi a única vez que eu fui numa loja maçom. Eu era candidato a presidente, pouca gente sabia, e um colega falou ‘vamos lá’ e eu fui. Acho que foi aqui em Brasília. Fui muito bem recebido. […] Fui de novo? Não fui. Agora, sou presidente de todos. Isso agora a esquerda faz estardalhaço. O que tenho contra maçom? Tenho nada”, disse o chefe do Executivo.

A tentativa da esquerda de atrelar o nome do presidente Jair Bolsonaro à maçonaria é uma tentativa de atingir a sua confiança com a população religiosa, principalmente a evangélica. A primeira pesquisa realizada pelo instituto Datafolha após o início do segundo turno presidencial mostrou que o atual mandatário tem o dobro do eleitorado evangélico a seu favor, com 62% desta parcela da sociedade que prefere o atual governo contra 31% que enxergam a alternativa petista como melhor opção. O movimento ocorre baseado na controvérsia da maçonaria para os cristãos. No site oficial do Vaticano é possível encontrar uma carta do Papa Leão XIII, de 1884, em que a Igreja Católica já condena a ligação da sociedade civil com a maçonaria. No documento, o pontífice julga que “a seita da maçonaria mostra-se insolente e orgulhosa de seu sucesso, e parece que ela não colocará limites à sua pertinácia” e que “seus seguidores, ajuntados por perversos acordos e por conselhos secretos, ajudam-se uns aos outros, e excitam-se uns aos outros a uma audácia nas coisas malignas”. Personalidades evangélicas aliadas ao presidente Bolsonaro, como os pastores Silas Malafaia e André Valadão, já haviam se pronunciado na internet em oportunidades anteriores condenando a aproximação dos fiéis com a maçonaria.

Em seguida do ressurgimento de vídeos do chefe do Executivo, parte da esquerda voltou a repercutir uma entrevista do presidente Jair Bolsonaro concedida a um jornalista do The New York Times, em 2016, na qual o chefe do Executivo fala sobre sua visita em uma reserva indígena Yanomami em que os povos originários teriam cozinhado um índio falecido para comer a sua carne. Em sua fala, Bolsonaro explica que o corpo do jovem “cozinha por dois, três dias, e come com banana”. “Eu queria ver o índio sendo cozinhado. Aí o cara: ‘Se for, tem que comer’. Eu como! Aí, a comitiva, ninguém quis ir”, explicou. O material foi retirado de um vídeo da entrevista que ainda permanece no canal do YouTube do atual presidente. A veiculação da propaganda, no entanto, foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por unanimidade, sob o argumento de que as falas teriam sido utilizadas de maneira descontextualizadas para desqualificar o adversário. Na última quinta-feira, 13, Bolsonaro esteve presente em Belo Horizonte, na capital mineira, e concedeu uma entrevista ao Jornal da Alterosa para comentar sobre a divulgação de conteúdos antigos para atingir a campanha à reeleição do atual governo. “Me rotularam de canibal. Não tem cabimento uma questão dessas daí. Até porque canibalismo é crime, até onde eu sei. Isso é um vídeo de 30 anos atrás numa reserva indígena Yanomami, onde o indígena que morria, no caso jovem, no ritual, tinha o corpo cozinhado. Tinha uma equipe nossa, por coincidência, nesse dia lá, e quem fosse lá teria de comer como ritual. O pessoal estava lá discutindo quem queria ir, quem não queria, tem dois ou três que queriam, o resto não quis. Não fomos ninguém. E daí botaram em cima de mim a pecha de canibal. Não tem cabimento”, disse.

Tamara Ilinsky Crantschaninov, professora de ciência política na Fundação Escola de Sociologia e Política (FESPSP) e doutora em administração pública e governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ressalta que as movimentações feitas nas redes sociais e que recuperaram antigas polêmicas do candidato Jair Bolsonaro foram realizadas pela militância de esquerda e não pelos partidos. “São movimentações espontâneas, acho que é uma coisa que os partidos não aprenderam, mas sim os apoiadores. Esse movimento de ‘jogar o jogo que o outro joga’, diferentemente das eleições de 2018, e usar técnicas que foram usadas pela direita para tentar exercer uma ressonância nos grupos que são mais impactados por esse tipo de comunicação”, explica em entrevista à Jovem Pan. Na visão da especialista, o baixo nível do debate neste segundo turno de eleições presidenciais não difere-se de pleitos anteriores, visto que candidatos utilizam métodos de comunicação que atingem o sentimento do medo. “Medo do Partido dos Trabalhadores ou do comunismo. Ao mesmo tempo, quando ouvimos o Lula falando do passado, as declarações são baseadas no saudosismo, ele também procura atingir esse sentimento”, analisa Tamara. Na opinião da docente, a esquerda não soube se utilizar das ferramentas tecnológicas em eleições anteriores e precisou se adaptar para atingir a população fora de sua bolha, a fim de atingir um maior número de eleitores impactados com seu discurso. “Foi percebido pela esquerda que levantar o discurso de ‘vote no professor’ ou ‘leve um livro para votar’, não teve ressonância na maior parte da população que poderia ter seu voto conquistado. A esquerda percebe que ela não pode ficar inerte e precisa adotar esse tipo de técnica para combater ou rebater, e é um reflexo da baixa consciência política”, argumenta. O principal expoente da campanha petista quando o assunto é redes sociais é o deputado federal reeleito André Janones (Avante-MG), campeão de audiência nas redes sociais. Nesta quinta-feira, 13, o parlamentar replicou em seu perfil no Twitter o trecho de um levantamento produzido pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para um jornal da GloboNews, que aponta que uma publicação do mineiro sobre a suposta relação de Bolsonaro com os maçons chegou a grupos que não têm nenhuma relação com a política. “Urgente! Globo News agora!! Furamos a bolha! Furamos a bolha!”, escreveu em letras maiúsculas. Nas redes sociais, Janones tem sido chamado de “Carluxo de esquerda”, em alusão ao vereador Carlos Bolsonaro, que cuida das redes sociais de seu pai e é apontado, pelo próprio presidente, como responsável pela estratégia que levou Bolsonaro ao Palácio do Planalto. Tamara ressalta que o baixo nível no debate político reflete a falta de interesse que o brasileiro tem no debate coletivo de país e quais mudanças estruturais poderiam ser realizadas para evoluir o país, já que estes temas surgem apenas de “quatro em quatro anos”. “Não deixamos de falar de assuntos durante a eleição, mas deixamos de falar nesses assuntos no dia a dia e essa movimentação de 2022 é prejudicial no fim do dia para o debate”, pontua.

Ainda que neste início do segundo turno as manipulações da esquerda tenham dominado o debate político, a campanha do presidente Jair Bolsonaro também protagoniza ataques semelhantes. O cientista político Paulo Niccoli Ramirez, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), explica ao site da Jovem Pan que a base bolsonarista se concentra, sobretudo, em discursos inflamados a respeito de pautas morais, como aborto, legalização das drogas e religião, que acabam sendo “mais chamativas do que qualquer proposta política” e se tornam decisivas para a escolha do voto conservador. Um exemplo disso foi a propaganda divulgada em 26 de setembro, ainda na corrida eleitoral ao primeiro turno, que narra um aborto a partir da perspectiva do feto. O vídeo tem início com o embrião narrando, entre outras coisas, a felicidade e a expectativa de futuramente encontrar a mãe. “Estou muito feliz de estar aqui na sua barriguinha. Graças a Deus, eu venci. Tenho certeza que eu serei a criança mais feliz do mundo. Te darei todo meu amor e você será para sempre a pessoa mais importante da minha vida”, diz o comercial. Na sequência, a propaganda de pouco mais de dois minutos traz o embrião narrando sentir dor durante processo de interrupção da gravidez. “Mamãe, por que está me machucando? Isso dói”, continua o comercial. Embora não faça menção a Lula, costumeiramente, o presidente e seus apoiadores associam o ex-presidente à defesa de temas como a descriminalização do aborto, em contraponto ao presidente Bolsonaro, que é colocado como defensor da família. “Só é a favor do aborto quem já nasceu”, dizia a propaganda.

Dias depois, nas vésperas da eleição, em inserção também divulgada na televisão, a campanha de Bolsonaro trouxe a imagem de um feto, o som dos batimentos cardíacos e sangue para reforçar a mensagem: “Aborto não, vote 22”. Em exemplo ainda mais recente, divulgado na sexta-feira, 14, a campanha de Bolsonaro foi além e afirmou que o ex-presidente “quer mudar a lei e incentivar a mãe a matar o próprio filho no seu próprio ventre”, o que não condiz com a verdade, uma vez que o concorrente já disse ser contra a interrupção da gravidez, embora entenda que é preciso “debater o assunto como uma questão de saúde pública”. O atual mandatário também associa um possível novo governo petista à liberação de drogas, por exemplo. Em campanha no Sul do país na última semana, por exemplo, Bolsonaro voltou a defender valores conservadores, se colocou como católico e falou sobre tráfico de drogas, repetindo uma frase corriqueira da sua campanha: “Só uma mãe sabe a dor de perder um filho para as drogas”. Em outro ato da agenda eleitoral, desta vez no Rio de Janeiro na última sexta, o presidente afirmou que o adversário quer “levar sexo para as escolas” e legalizar os entorpecentes, o que nunca foi defendido pelos petistas. “O outro lado não respeita a família. O outro lado criou a ideologia de gênero para levar sexo para as escolas. O outro lado quer liberar as drogas.”

Em outro contexto, a campanha de Jair Bolsonaro tem se apoiado na divulgação de uma falsa associação do ex-presidente Lula com organizações criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital), e com a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002. A suposta relação do petista com a facção criminosa havia sido abordada em vídeo divulgado no Youtube por canais bolsonaristas, como o do senador Flávio Bolsonaro, um dos principais coordenadores da campanha de Bolsonaro, e da deputada federal Carla Zambelli, ferrenha apoiadora do governo federal no Congresso. Em ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PT pediu a remoção dos conteúdos alegando que as  informações são “descontextualizadas ou sem qualquer demonstração de provas”, o que foi aceito pelo presidente da Corte, Alexandre de Moraes, que determinou a remoção dos conteúdos sob multa diária de R$ 10 mil. Em exemplo ainda mais recente, apoiadores de primeiro escalão do presidente associaram a visita do petista ao Complexo do Alemão com o crime organizado. Nas redes sociais, bolsonaristas chegaram a mencionar que a sigla CPX, presente em um boné que Lula usava no ato na favela carioca, fazia uma referência à palavra “cupincha”, ou seja, comparta do crime, quando, na verdade, as letras representam uma abreviação da palavra “complexo”. Em 2017, por exemplo, a Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) utilizou a sigla CPX para se referir ao Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio. 

Paulo Nicolli avalia que com a influência das redes sociais, que ganharam ainda mais relevância na disputa política em 2022, a campanha eleitoral se transformou em uma batalha de narrativas e de rejeição em torno do discurso moral. “O eleitor está sendo muito guiado por uma visão emocional, não racional. Então, de fato, o que for menos satânico, menos diabólico, menos maçom, vai ser o vencedor das eleições”, diz o cientista. Niccoli Ramirez entende que a abordagem de temas como satanismo, canibalismo e maçonaria pela esquerda é um reflexo de um comportamento já adotado pela direita em eleições passadas: “É a esquerda usando como contraponto o mesmo veneno dos bolsonaristas”, resume, fazendo um contraponto entre as estratégias de cada campanha. “É acusando Bolsonaro de satanismo, de maçom e divulgando as falas de Damares com afirmações sobre abusos sexuais de crianças. E não diferente disso, a campanha de Bolsonaro faz as mesmas acusações, falam que o Partido dos Trabalhadores é aliado de presidiários, que Lula é ladrão e satanista também. Dizem que Lula não seria um homem religioso”, exemplifica. Em última análise, Paulo avalia que ambas campanhas usam ainda os mútuos ataques para jogar para “debaixo do tapete” polêmicas reais que cercam os candidatos, como caso do Mensalão e Petrolão durante os governos petistas passados e escândalos da atual gestão, citando o Orçamento Secreto, desvios no Ministério da Educação, as supostas compras de imóveis com dinheiro em espécie pela família Bolsonaro e até a gestão na pandemia. “O que deve predominar nos próximos dias é um desvio da atenção para as pautas religiosas, morais e de costumes. É o que estamos vendo na campanha de segundo turno. Para desvirtuar a atenção do eleitor, o marketing de ambos políticos vão usar temas mais polêmicos, como aborto, satanismo e religiosidade.”

Eleições de 2018: Berço das manipulações

Mesmo que tenha se intensificado no pleito deste ano, o uso de pautas morais e de manipulação de informações sobre candidatos não é novidade. O fenômeno na política brasileira ficou mais evidente a partir de 2018, com a campanha para eleição do próprio Jair Bolsonaro, explica Paulo Niccoli Ramirez. Segundo ele, naquele ano, o então candidato Fernando Haddad (PT) já era alvo de ataques baixos e massivos de bolsonaristas, que promoviam campanhas acusando o concorrente de ser contra religião, ateu e defensor de pautas que seriam contrárias aos valores cristãos, como aborto e legalização das drogas, por exemplo, o que de fato não eram bandeiras defendidas pelo ex-prefeito de São Paulo, que é católico. Muito semelhante ao que se desenha neste ano, em 2018, na reta final do segundo turno as campanhas também travaram uma disputa no Tribunal Eleitoral. De um lado, o ministro Luís Felipe Salomão atendia pedido pró-Bolsonaro e suspendia a veiculação de uma campanha do PT que colocava o então deputado federal como “favorável à tortura” e sustentava que o militar tinha Coronel Brilhante Ustra como um ídolo. “Quem conhece Bolsonaro não vota nele”, dizia a inserção de Haddad, vetada pela Justiça Eleitoral.  Por outro lado, na mesma época, o PT defendia a suspensão de uma propaganda televisiva de Jair Bolsonaro, que acusava o petista de ser ateu, fazia associação ao suposto “kit gay” e falava em apoio a Nicolás Maduro, da Venezuela. “Agora, em 2022, o que aconteceu é que a própria esquerda aprendeu a usar os mesmos recursos que a direita já tinha usado em 2018. A esquerda aprendeu que não se vence opositor, ainda mais quando é o Bolsonaro, através de críticas à economia, pandemia, quantidade de mortos, inflação, desemprego, questão das rachadinhas ou do Orçamento Secreto. A forma de conseguir equivalência no baixo nível do discurso e ganhar força nas redes sociais é criando factoides. É dizer que o Bolsonaro é canibal, maçom e satânico”, diz Paulo Niccoli, para quem a campanha deste ano é a mais baixa em termos políticos e propositivos. 

Tendência do baixo nível

Longe de ser uma chaga brasileira, o baixo nível dos discursos políticos segue uma tendência mundial, ancorada sobretudo no uso das redes sociais e no discurso sensacionalista. Paulo Niccoli explica que o mesmo método de manipulação de informações e campanhas de degradação, já havia sido adotado em 2016 nos Estados Unidos, quando Donald Trump foi eleito após uma série de discursos falsos. Entre eles, o ex-presidente chegou a questionar se Barack Obama, então presidente e que tinha Hillary Clinton como sucessora, era realmente americano. Em outro momento da campanha, o republicano disse que Obama e Clinton eram cocriadores do Estado Islâmico. Desde então, outros países – incluindo o Brasil – seguiram caminhos semelhantes. Na Ucrânia, por exemplo, Niccoli lembra que o próprio Volodymyr Zelensky foi eleito, em 2019, sob uma narrativa sensacionalista. Em episódio mais recente, em setembro deste ano, Giorgia Meloni foi eleita primeira-ministra da Itália após uma campanha construída a partir de fake news, especialmente sobre a questão imigratória, e com a defesa de pautas morais. Para as próximas eleições, no Brasil e no mundo, a tendência é de ascensão deste novo modelo de campanha eleitoral, que reflete diretamente nas escolhas dos eleitores e no enfraquecimento da política. “Com uma sociedade cada vez mais conectada, a tendência é que o eleitor não se vote pela razão, mas pelas emoções, por um discurso mais espalhafatoso. Ou seja, quanto mais fake news, mais fortalece um candidato e enfraquece outro”, conclui. 

Fonte: jovempan

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