Nesta terça-feira (4), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a intenção de intervir na Faixa de Gaza com o objetivo de trazer paz e estabilizar a região. A declaração causou espanto e, na minha opinião, não é uma boa ideia.
Em primeiro lugar, essa decisão contraria uma de suas promessas de campanha. Antes de retornar à presidência, o republicano afirmou que se concentraria em resolver questões internas dos EUA, evitando que o país reassumisse o papel de “policial do mundo” — uma política que já trouxe inúmeros prejuízos geopolíticos e financeiros.
Um exemplo claro disso ocorreu no início dos anos 2000, quando o ex-presidente George W. Bush deu início a duas guerras: uma no Afeganistão, com o objetivo de combater o terrorismo, e outra no Iraque, sob a justificativa de eliminar armas químicas do ditador Saddam Hussein e instaurar a democracia no país.
Ambas as intervenções terminaram em tragédia. No Afeganistão, apesar de o grupo terrorista Al-Qaeda ter sido enfraquecido e seu líder, Osama bin Laden, capturado, os EUA gastaram bilhões de dólares sem conseguir desenvolver o país ou criar um Estado forte o suficiente para lidar com suas próprias ameaças internas. A retirada das tropas americanas foi desastrosa, resultando na retomada do poder pelo grupo extremista Talibã.
No Iraque, a história não foi diferente. Saddam Hussein foi deposto com facilidade, mas as supostas armas químicas nunca foram encontradas. Sem outra opção, Bush tentou promover a reconstrução do país e garantir estabilidade para evitar que novos grupos extremistas assumissem o controle.
Inicialmente, os EUA obtiveram algum sucesso, mantendo o governo iraquiano com apoio militar. No entanto, a crise econômica, a perda de apoio da população americana à intervenção e a mudança na política externa com Barack Obama acabaram evidenciando o fracasso da estratégia.
O clamor popular levou à retirada das tropas americanas, e o governo iraquiano não conseguiu manter a estabilidade sem esse suporte. Grupos terroristas ganharam força — o mais notório deles foi o Estado Islâmico (ISIS) —, aprofundando ainda mais a instabilidade no Iraque e no Oriente Médio. As cenas chocantes de violência e destruição provocadas pelo ISIS foram uma consequência direta desse vácuo de poder.
Com a chegada de Trump ao poder em 2017 e um novo direcionamento na política externa, os EUA conseguiram enfraquecer os grupos terroristas, reduzindo as tensões na região.
Se a Faixa de Gaza terá o mesmo destino do Afeganistão e do Iraque, ainda é impossível prever. No entanto, a história ensina que as intervenções americanas com o propósito de promover paz e desenvolvimento raramente alcançaram seus objetivos.
Caso Trump realmente inicie uma intervenção militar, enfrentará desafios enormes. Gaza está devastada e grande parte da população local apoia o Hamas.
Além disso, é preciso observar o que os discursos políticos tentam ocultar. Próximo à Faixa de Gaza, há regiões ricas em petróleo e gás natural — os campos Gaza Marine 1 e 2. Para os EUA, garantir o controle dessa área significaria acesso a recursos estratégicos que, se vendidos para a Europa, poderiam reduzir a dependência do continente do gás russo e enfraquecer a influência de Vladimir Putin.
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Fonte: plenonews
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