A Argentina conhecerá neste domingo, 13, os candidatos que vão disputar a eleição presidencial no dia 22 de outubro. As primárias acontecem em um momento em que o país enfrenta uma grande crise econômica, com taxa de inflação de 115% ao ano e uma pobreza que atinge 40% da população. A incerteza política se traduz em nervosismo nos mercados e se reflete na cotação do “dólar blue”, como é chamada a taxa de câmbio informal, que esta semana ultrapassou a barreira psicológica dos 600 pesos por dólar, o dobro da oficial. A Argentina tem um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) de US$ 44 bilhões (aproximadamente R$ 160 bilhões, em cotação da época), firmado em 2018 e renegociado em 2021. Há meses, as reservas internacionais diminuem a cada dia. Na terça-feira, 8, fecharam em US$ 24,1 bilhões, segundo o Banco Central do país.
Diante deste cenário, os eleitores precisam escolher aquele que seja capaz de revertes essa situação e devolver a normalidade aos argentinos. Contudo, três dos quatro principais candidatos vêm de partidos que, ao longo da última década, tentaram estabilizar a economia, mas falharam em sua tentativa. O quarto concorrente, por sua vez, é o outsider Javier Milei, que busca fazer mudanças radiais com consequências imprevisíveis. Ele é o típico candidato que seduz eleitores mais cansados dos políticos tradicionais. O economista ultradireitista aparece como um nome de força para as eleições presidenciais, porém, há pouco dias das primárias, perdeu pontos nas pesquisas, e agora quem aparece como força é Patricia Bullrich, da coalizão de direita Juntos por el Cambio.
As eleições Paso (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias) são realizadas na Argentina desde 2009. O nome se explica porque é um processo aberto (nas quais participam todo o eleitorado, não só os filiados aos partidos políticos), simultâneo (uma vez que todos os grupos definem suas pré-candidaturas ao mesmo tempo) e obrigatório (porque devem votar todos os cidadãos que estão aptos a exercer esse direito). Os candidatos eleitos poderão se apresentar nas eleições gerais de 22 de outubro, quando concorrerão os aspirantes a ocupar a presidência argentina durante o período 2023-2027.
Este ano é a primeira vez em que os eleitores das coalizões mais importantes, a governista Unión por la Patria (União pela Pátria, peronistas) e a opositora Juntos por el Cambio (Juntos pela Mudança, centro-direita), deverão escolher entre dois aspirantes, já que nas eleições anteriores disputaram com um candidato único. Existem mais 22 candidatos de 12 coalizões. Contudo, boa parte deles aparecem com menos de 5% nas pesquisas. Os nomes mais bem cotados no grupo do atual líder do país, Alberto Fernández, são os de Sergio Massa, ministro da Economia, e do líder de movimentos sociais Juan Grabois. Eles concorrem entre si para ver quem será o representante do partido União Pela Força (UP). A vitória de Massa é apontada como certa, segundo analistas internacionais.
Horacio Rodríguez Larreta, prefeito de Buenos Aieres — e representante de uma centro-direita mais “moderada” —, e Patricia Bullrich, ex-ministra de Segurança — de uma centro-direita que busca transformações mais rápidas e defende uma política de linha-dura —, também estão entre as primeiras opções de voto. Os dois se enfrentam para conseguir ser o candidato do Juntos Pela Mudança (JxC). Não há uma perspectiva de quem deverá levar a melhor. “É uma eleição com final em aberto, e esse resultado vai definir o novo cenário eleitoral”, avalia o analista político Carlos Fara.
Javier Milei, conhecido como Bolsonaro argentino, é o único candidato do partido A Liberdade Avança (LLA), mas mesmo assim precisa enfrentar as primárias. O ex-presidente Jair Bolsonaro declarou apoio a Milei. Em um vídeo enviado ao pré-candidato, que é seu admirador e de Donald Trump, o político brasileiro disse ter muita coisa em comum com o argentino. “Defendemos a família, a prosperidade privada, o livre mercado, a liberdade de expressão, o legítimo direito de defesa”, disse. “Muito obrigado, presidente Jair Bolsonaro, por sua mensagem”, agardeceu Milei. “Lutaremos por uma América Latina livre. Viva a liberdade, c**alho.” Ele precisa obter bons número para mostrar seu peso. As primárias também vão servir para escolher os candidatos às eleições parciais na Câmara de Deputados e no Senado, assim como para a prefeitura da capital e o governo da província de Buenos Aires.
Muchas gracias Presidente @jairbolsonaro por su mensaje. Luchemos por una Latinoamérica libre.
VIVA LA LIBERTAD CARAJO pic.twitter.com/d6dqnTJT8I— Javier Milei (@JMilei) August 10, 2023
Pesquisas publicadas nas últimas semanas pela CB Consultora Opinión Pública apresentaram um cenário favorável à oposição. Porém, a coalizão de Milei aparece isolada na terceira posição. Em segundo está a Unión por la Patria. É um partido peronista ligado à atual esquerda que governa o país, porém enfraquecido devido às crises econômicas e políticas que assolam o país. A primeira posição, ao que tudo indica, ficará com a coalizão Juntos Pela Mudança. Nenhum dos candidatos às primárias supera 25% das intenções de voto. Estima-se que cerca de 10% dos eleitores ainda não decidiram em quem votar. De acordo com as autoridades eleitorais, cerca de 5,5 milhões de pessoas optaram por não votar.
Nesta semana as campanhas eleitorais precisaram ser paralisadas após a morte violenta de uma menina de 11 anos ocorrida na periferia de Buenos Aires. Morena Domínguez foi abordada enquanto estava indo à escola por dois jovens em uma motocicleta que queriam roubar sua mochila. A menina foi arrastada pelo chão e recebeu um golpe na cabeça, que acabou causando sua morte em um hospital de Lanús, cidade da Província de Buenos Aires. Diante do ocorrido, os principais pré-candidatos à presidência argentina anunciaram a suspensão de seus respectivos comícios de encerramento de campanha, que estavam previstos para a última quinta-feira, 10.
As primárias deste ano abrem o processo eleitoral que marca os 40 anos desde a volta da democracia no país, o período mais longo da história da Argentina. Embora a população valorize as liberdades democráticas, demonstra certo ceticismo em relação à capacidade de atender seus problemas cotidianos, segundo pesquisas de opinião. Após anos de polarização, que os argentinos chamam de “grieta” (racha), esta eleição será a primeira sem os ex-presidentes Cristina Kirchner e Mauricio Macri, figuras emblemáticas da aliança peronista e sua opositora, Juntos por el Cambio.
*Com informações das agências internacionais
Fonte: jovempan
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