Nesta sexta-feira, 13, o programa Pânico recebeu Tonny Chang, brasileiro que mora na China. Em entrevista, ele falou como tem sido seu dia a dia em Xangai, onde está há mais de 40 dias em lockdown como medida preventiva de novos casos de Covid-19. “Não pode ir no mercado, as pessoas estão trancadas nos prédios e condomínios. Para comida, estamos nos organizando em grupos de compra. Alguém da sua comunidade tem o contato, fecham o lote de arroz em vários quilos e a compra é distribuída nas pessoas que moram no condomínio. Está tendo em pequena escala entregas de comida. Para conseguir a licença para ser entregador é um grande processo, poucas pessoas conseguem”, explicou. “Realmente está difícil, mas o governo oferece a cada quatro ou cinco dias uma espécie de cesta básica com macarrão, óleo, arroz, legumes, às vezes carne e frango. Em vários lugares a distribuição está precária e as pessoas dividem sacos de arroz em três ou cinco famílias. Está sendo difícil para alguns.”
Segundo Chang, o governo chinês não promove ações de assistência para a população que vive o isolamento social. “Aqui não tem assistencialismo. O governo está tomando essas medidas de restrição de circulação, mas é meio que cada um por si. Se você não guardou o dinheiro, não fez um pé de meia enquanto estava tudo meio aberto, você tem que se virar”, contou. O brasileiro ainda opinou sobre a história política da China e o combate às zoonoses no país. ” Você não tem como comparar a China de 1940 com a China de hoje. São duas épocas diferentes. A China só é a China como é hoje a partir da década de 80. Começou a se modernizar, grandes cidades começaram a aparecer e o livre mercado também. Zoonoses, no Brasil também têm doenças de mosquitos. Isso acontece quando tem muita concentração de seres humanos em qualquer ambiente. Você vai enfrentar certas doenças.”
Tonny não enxerga o enfrentamento da pandemia na China como uma estratégia política dos governantes, mas a forma como as autoridades sanitárias consideraram melhor para lidar com o coronavírus. “A medida de lockdown é como as autoridades de saúde estão lidando com a pandemia. Eu não estou preso, não estou em cárcere privado. Não estou preso porque é um regime comunista, estou preso porque o país está lidando com a pandemia dessa maneira. Se acontecesse nos Estados Unidos, seria a mesma coisa. Eu iria estar encomendado de permanecer em casa, não é cárcere privado”, afirmou. Quanto à liberdade de expressão, ele afirmou ser livre para emitir opiniões no país asiático. “Não estou dizendo nada em desacordo com alguma coisa ou infringindo lei nenhuma. Estou dizendo o que eu, cidadão estrangeiro na China, estou vivendo. O que eu percebo é que as pessoas têm uma impressão muito errada do que é viver na China. Você fala ‘regime comunista’ e acham que estamos na Coreia do Norte. A China está muito diferente. Nas minhas aulas, tenho liberdade de dizer o que quero, não tenho nenhum tipo de restrição, da polícia vir me pegar”, concluiu.