22 de Novembro de 2024

Ciro chega à reta final com respaldo do PDT, mas vê campanha por voto útil assombrar sua candidatura 


WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO - 27/04/2018

Fundado pelo ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro Leonel Brizola, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) historicamente posicionou-se à esquerda no espectro ideológico. Em defesa dos trabalhadores e das causas sociais, hoje a sigla vive momento delicado dias antes do primeiro turno da eleição que é considerada a mais importante da história da República. Com uma polarização patente e retratada através das pesquisas, que mostram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) consolidados nas primeiras colocações e concentrando quase 80% das intenções de voto, a candidatura de Ciro Gomes não ganhou tração e encontra-se sob bombardeio de atuais e antigos membros da legenda. Nas últimas semanas, o ex-governador do Ceará subiu o tom contra Lula, em um movimento que aliados dizem ser explicado pelo ressentimento do pedetista em relação ao petista, que não o apoiou na eleição presidencial de 2018 e insistiu na candidatura de Fernando Haddad (PT). A postura do ex-ministro da Integração Nacional, no entanto, passou a servir de munição para bolsonaristas. Nas redes sociais, ministros do governo federal, como Fábio Faria, das Comunicações, publicaram declarações de Ciro contra o ex-presidente. Segundo relatos feitos à Jovem Pan, a situação incomodou, em especial, quadros históricos do PDT, que manifestaram insatisfação ao presidente nacional da sigla, Carlos Lupi, por avaliarem que, com a retórica inflamada, o presidenciável se tornou linha auxiliar do bolsonarismo. Publicamente, dirigentes e parlamentares do partido se dizem otimistas com a possibilidade do correligionário chegar ao segundo turno da disputa presidencial, o que seria um feito histórico, já que Ciro está mais de 20 pontos atrás de Bolsonaro e tem cerca de 15 dias para mudar a situação. Nos bastidores, no entanto, os pedetistas admitem que a campanha eleitoral causou uma fissura na legenda, cujo efeito ainda não foi mensurado.

Ainda no período de pré-campanha, aliados diziam que Ciro Gomes faria críticas a Lula e Bolsonaro para expor pontos fracos dos dois candidatos e tentar se viabilizar como a alternativa mais viável para furar a polarização. À época, o ex-juiz da Operação Lava Jato Sergio Moro (União Brasil), ainda presidenciável, também era alvo constante do postulante do PDT. Mais recentemente, porém, o pedetista passou a direcionar seus ataques ao antigo aliado e a subir o tom nas críticas. Mesmo com afagos petistas, como no debate de presidenciáveis promovido pela TV Bandeirantes, quando o candidato do PT afirmou que eles ainda conversariam para aparar as arestas, o pedetista rechaçou um acerto, sob o argumento de que o ex-presidente, a quem chamou de “encantador de serpentes”, se deixou corromper. Dias depois, publicou nas suas redes sociais que Lula estava “fraco fisicamente, psicologicamente e teoricamente”. A publicação foi apagada em seguida – mas, àquela altura, o estrago já estava feito. Ato contínuo, Ciro utilizou outros adjetivos duros para se referir ao ex-presidente: desonesto, corrupto, autoritário e covarde. Não demorou para que o núcleo duro de apoio a Bolsonaro passasse a replicar falas de Ciro Gomes. Em uma das publicações, o ex-ministro da Integração Nacional diz que Lula é quem “financia o gabinete do ódio mais picareta, mais desonesto de toda a história do Brasil” e que o Partido dos Trabalhadores tornou-se “uma organização criminosa”.

Racha no partido

Nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro passou a crescer, de forma lenta, mas gradual, nas pesquisas. No dia 9 de setembro, o Datafolha divulgou uma pesquisa na qual Lula aparecia com 45% das intenções de voto, ante 34% do candidato do PL. A diferença de 11 pontos se tornou a menor entre os dois principais candidatos à Presidência desde maio de 2021, quando o petista ostentava uma diferença de 21 pontos (48% a 27% na ocasião). No dia 12 de setembro, no entanto, o Ipec (ex-Ibope) mostrou um cenário distinto: com 46% das intenções de voto (51% dos votos válidos), a possibilidade de vitória no primeiro turno voltou ao radar do comando da campanha de Lula, que intensificou a campanha pelo chamado “voto útil”, a fim de liquidar a fatura ainda no primeiro turno. Ciro reagiu prontamente e passou a publicar vídeos nas redes sociais dizendo que o movimento visava destruir os sonhos dos eleitores. Em resposta, dissidentes do PDT e nomes da sigla ligadas a Leonel Brizola passaram a elaborar um manifesto defendendo o “voto consciente” no ex-presidente da República ainda no primeiro turno. Como a Jovem Pan mostrou, o documento, que conta com o apoio de Gabriel Cassiano, ex-aliado de Ciro que deixou a sigla e se filiou ao PSB, André Luan, ex-diretor da Fundação Leonel Brizola em Minas Gerais, e Jairo Moura, um dos fundadores do PDT de São Paulo, será lido na próxima quarta-feira, 21, no Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro.

“Mais do que indignação, ver o projeto nacional de desenvolvimento errar na sua composição tática e estratégica é motivo de muita tristeza e decepção. Diante disso, nós que apoiamos Ciro entre 2016 e 2019 clamamos a aqueles que possuem a mesma visão a não vacilarem, apoiando a única candidatura capaz de derrotar o bolsonarismo já no primeiro turno. Não se trata de voto útil. É uma necessidade histórica, algo que, mais uma vez, lamentamos ver Ciro Gomes, uma figura ímpar para pensar o desenho institucional do país, ser incapaz de enxergar essa quadra da história. Diante disso, convocamos militantes trabalhistas e dissidentes a apoiarem o ex-presidente Lula no primeiro turno”, afirma trecho do documento que será lido na próxima semana. O movimento de desembarque também é defendido por apoiadores históricos de Ciro Gomes, como o cantor Tico Santa Cruz, que declarou voto útil no petista. “Ciro Gomes 2026 é logo ali e vamos nos esforçar para que ele tenha sua chance. Agora precisamos dar fim a esse regime de ódio e sofrimento. Resolver no 1º turno. O voto útil no Lula é o caminho para encerrar esse ciclo de tragédias”, escreveu em seu perfil no Twitter.

Ainda que ganhe força a mobilização pró-Lula, lideranças do PDT minimizam as mobilizações contra Ciro Gomes e reforçam as críticas do ex-ministro ao candidato petista. Entre eles, o presidente do PDT em São Paulo, Antônio Neto, afirma que o manifesto que será lido na quarta-feira é assinado por um “amontoado de ex-pedetistas”, a quem chamou de “pedetistas de Taubaté”, que, em sua avaliação, não têm credibilidade para representar os anseios da legenda. “São pessoas sem espaço, sem representatividade e sem voz. Estão fazendo o trabalho sujo pelo PT, que tem essa prática de tentar corromper o partido internamente. Conosco não tem nada disso, vamos firme e forte e cada vez mais longe com o Ciro”, afirmou à Jovem Pan, culpando os petistas por tentar desidratar a candidatura do PDT. “Quem está criando constrangimento é exatamente a candidatura Lula-Alckmin, que estão achando que têm que ganhar de qualquer jeito no primeiro turno. Não tem negócio de possível acordo. No primeiro turno você vota para quem tem o melhor projeto, para quem lhe representa”, completou, reforçando, inclusive, que Juliana Brizola e Carlos Brizola, netos de Leonel Brizola, “também estão com Ciro”.

Mario Heringer (PDT-MG), deputado federal e presidente do partido em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, também defende Ciro e afirma que o pedetista não ataca nenhum adversário, apenas “expõe os intestinos dos candidatos que nos impõem um falso dilema da luta do bem contra o mal”. Nas palavras do parlamentar, que aposta na ida do presidenciável ao segundo turno, Ciro busca reverter o “trágico destino que se avizinha ao povo brasileiro”. Em linhas gerais, as críticas à defesa do voto útil acompanha também uma mágoa antiga dos pedetistas com o PT, especialmente com Lula, a quem acusam de traição contra Ciro Gomes e de desrespeito à legenda de Brizola. O deputado federal Pompeo de Matos (PDT-RS) classifica as mobilizações petistas pela vitória antecipada como um “comportamento antiético do PT que recebeu mais de 100 vezes apoio, carinho e consideração do PDT, mas nunca retribuiu”. Na avaliação do parlamentar, ainda que Ciro Gomes, por vezes, eleve a voz ao criticar Lula, o conteúdo das críticas está correto e não há “inverdades” sendo ditas. “Se for falar em voto útil e só pensar em segundo turno, é melhor renunciar a candidatura. Isso é coisa de covarde”, afirmou à reportagem. Pompeo disse, ainda, considerar que há uma especulação maléfica sobre a candidatura do ex-ministro e exaltou que o jogo eleitoral existe para ser jogado, não apadrinhado. “Ciro é candidato, candidatíssimo. É nosso candidato em toda e qualquer circunstância, para ganhar ou para perder”, acrescentou.

O movimento mais explícito de um pedetista na direção de Lula ocorre no Maranhão. Por lá, o senador Weverton Rocha (PDT), candidato ao governo do Estado, faz questão de demonstrar proximidade ao ex-presidente em postagens nas redes sociais. No início do ano, o parlamentar publicou um vídeo em que se apresentar como “o melhor amigo do Lula” em solo maranhense. “Sempre estive ao lado de Lula, mesmo quando todos seguiam na direção contrária. Se Lula for presidente, nós iremos trabalhar juntos pelo Maranhão. Serei o governador da união, do trabalho e da transformação. O mais importante é cuidar das pessoas”, escreveu no dia 24 de agosto, em seu perfil no Twitter. Signatário do manifesto e um dos fundadores do PDT de São Paulo, o empresário Jairo Moura diz que a sigla não representa mais os valores brizolistas e diz considerar a continuidade da candidatura de Ciro como um “desserviço”. “Hoje, basicamente ele [Ciro] se transformou em linha auxiliar do Bolsonaro e isso não dá para aceitar”, declarou. No dia 10 de setembro, pesquisa Datafolha registrou um aumento no número de eleitores pedetistas que tem Jair Bolsonaro como sua segunda opção de voto. Em agosto, 20% dos ciristas tinham Bolsonaro como segunda opção de voto. O número subiu para 24% no início de setembro. Uma semana depois, o índice estava em 30%. “Ciro é muito autossuficiente e ególatra para abrir mão da candidatura dele. Ele não fará isso e o partido não tomará essa decisão. Não irá apoiar Lula nem no segundo turno”, acrescenta Moura.

Avaliação dos petistas

Para o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), secretário-geral do PT, os ataques de Ciro a Lula são “lamentáveis”. A avaliação do parlamentar reflete o sentimento geral dentro do partido. Os petistas também dizem acreditar que, apesar do belicismo, o pedetista apoiará o ex-presidente Lula em um eventual segundo turno. Na reta final da campanha, no entanto, a coordenação da campanha de Lula trabalha para conquistar os eleitores indecisos e aqueles que pretendem votar no candidato do PDT mas ainda não estão totalmente convictos. “Quando separamos a parte do eleitorado que já se fixou e declara intenção de votar no Lula e no Bolsonaro, temos cerca de 76% do total. Destes 24% que manifestaram intenção de votar em outra candidatura, ou diz que ainda não sabe em quem votar ou não quer opinar – uma parte até por medo – , ou que pensa em anular o voto ou votar branco, temos 7 pontos percentuais que manifestam intenção de votar na chapa Lula- Alckmin como primeira opção. Seguimos respeitando a candidatura do ex-ministro Ciro Gomes, da senadora Simone Tebet e cuidamos de conquistar estes 7%. Temos milhões de pessoas que já se decidiram e que são multiplicadores, que estão ao lado de cada eleitor ou eleitora que pode mudar [de opinião] e votar no Lula. Vamos com paciência, apresentando argumentos firmes, com muito jeito e muito respeito. Quem mais sabe fazer isto no Brasil? Nosso campo político. Em todas as eleições conquistamos, no mínimo, mais 4 pontos percentuais na semana final. Por isto, estamos otimistas e trabalhando muito para consolidar vitória no primeiro turno”, disse à Jovem Pan o ex-governador do Piauí Wellington Dias, um dos coordenadores da campanha de Lula. Procurado pela reportagem, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, não se manifestou.


Fonte: jovempan

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