Nas últimas semanas, o Brasil registrou novo aumento nos casos e óbitos pela Covid-19. Segundo boletim do Ministério da Saúde, na comparação semanal, a alta foi de 12% na taxa de positividade da doença e 19% nas mortes, considerando dados de 8 a 14 de maio em comparação com os dias 1 a 7 do mesmo mês. Com a mudança, infectologistas falam em “sinal de alerta” da pandemia e algumas cidades adotam novas restrições. Em Curitiba, por exemplo, capital do Paraná, desde a sexta-feira, 20, a Secretaria Municipal da Saúde voltou a recomendar o uso de máscaras em todos os ambientes fechados, de aglomeração ou serviços de saúde. Segundo comunicado da gestão municipal, a recomendação acontece “por causa da alta do número de novos casos e de casos ativos de Covid-19 ao mesmo tempo em que o sistema de saúde enfrenta pressão pelo aumento do atendimento por outras doenças respiratórias”. Em números, o aumento identificado pelo painel da Covid-19 na cidade aponta alta de 171% na média móvel de novos casos em relação há 14 dias.
Na cidade, a indicação é que o item de proteção volte a ser usado em shoppings, lojas, supermercados, assim como no transporte coletivo, terminais, shows e jogos. Pessoas com sintomas respiratórios também devem usar a máscara, independente da condição do local, reforça o chamado Protocolo de Responsabilidade Sanitária e Social da cidade. No entanto, longe de ser uma realidade exclusiva de Curitiba, o aumento de casos também é observado em outras capitais pelo Brasil. Em São Paulo, a alta de diagnósticos nas escolas acende alerta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (APEOESP), que aponta 121 casos da Covid-19 identificados nas últimas duas semanas e também pede que “promovam a retomada dos protocolos sanitários nas unidades escolares”. Mas, de fato, a retomada do uso de máscaras é recomendada pelos infectologistas? Assim como Curitiba, a capital paulista e outras cidades deveriam retomar a obrigatoriedade do item de proteção? Para responder essas dúvidas, a Jovem Pan questionou os infectologistas: está na hora de retomar o uso obrigatório de máscaras?
Na visão de Sergio Cimerman, infectologista no Instituto Emílio Ribas e médico no Hospital Albert Einstein, não é momento de retomar o uso do item de proteção em todos os ambientes. Segundo ele, antes de estipular o retorno da obrigatoriedade, é preciso analisar os dados epidemiológicos. “Em espaços abertos sou totalmente contra, mas em ambientes fechados depende do número de pessoas que estão lá. Se você estiver em grandes festas, grandes shows, você tem um certo risco de ter uma transmissão maior. Nesse momento, digo que não [deve retomar o uso de máscaras], porque não temos critérios de gravidade que justifiquem. A Covid-19 vai se comportar no mesmo perfil da influenza, então vamos sempre ter”, afirmou o médico, em entrevista à Jovem Pan.
Assim como ele, o também infectologista Adelino de Melo Freire Júnior, diretor médico da Target Medicina da Precisão, pontua que a retomada da proteção deve acontecer levando em conta os dados locais, de acordo com o cenário da pandemia em cada cidade e Estado. Entretanto, ele recomenda que imunossuprimidos tenham maior cuidado e façam uso do item de proteção. “Se é uma pessoa de maior risco, um imunossuprimido, que faz uso de medicamento para imunidade ou que não está com esquema vacinal completo, nesse tipo de situação as pessoas precisam ter mais atenção e mais cuidado. Então recomendaria que usasse a máscara. Ela tem que tomar cuidado com a proteção dela como uma prioridade. As outras pessoas, se for um ambiente que tenha muita gente circulando no espaço, como um jogo de futebol, ou um show, que mesmo ao ar livre tem muita gente próximo, isso também aumenta o risco de exposição”, menciona.
Além de concordar com as recomendações, Melissa Valentini, infectologista do Grupo Pardini, vai além e indica que as máscaras também sejam usadas nas escolas, especialmente em crianças e adolescentes. Segundo ela, a queda nas temperaturas e o aumento na circulação de outros vírus, como o influenza, da gripe, fazem com o cenário fique propício para infecções. “Como estamos no inverno, ficamos com o ambiente fechado e pouca circulação de ar. Então, o ideal é que as máscaras em ambiente fechado sejam utilizadas. Nas escolas, as crianças e adolescentes fazem parte de um público que naturalmente fica mais perto, mais junto, você já tem uma quantidade de viroses respiratórias maior e o ideal seria que a gente retomasse as máscaras, sim. Cada indivíduo deve avaliar a sua situação, mas pessoas que têm uma vulnerabilidade maior, que são mais velhas ou têm alguma comorbidade ou fator de risco para a Covid-19 grave, elas precisam utilizar a máscara”, conclui. Em suma, a recomendação dos infectologistas é unânime: o uso de máscaras deve ser retomado em ambientes de aglomeração ou baixa ventilação. Em caso de dúvida, os especialistas indicam que cada indivíduo avalie seu quadro de saúde, mesmo sem obrigatoriedade.
Nos Estados, as recomendações divergem, mas no geral também recomendam o uso. À Jovem Pan, a Secretaria de Saúde do Maranhão informou que o uso de máscaras é opcional apenas em cidades em que “mais de 70% da população tenha recebido as duas doses ou a dose única da vacina contra a Covid-19″. No Espírito Santo, assim como em Pernambuco e no Mato Grosso, embora não seja obrigatório, a recomendação segue pelo uso de máscaras pela população, especialmente aos indivíduos “mais vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos, além de pessoas com sintomas gripais”. No Amazonas, o uso de máscaras de proteção respiratória” é facultativo e é recomendado para quem tem mais de 70 anos”, enquanto em outros Estados a indicação abrange apenas setores hospitalares ou o transporte público. De qualquer forma, em boletim semanal, o Ministério da Saúde cita a circulação de variantes do coronavírus e lembra que a população não deve abrir mão “das medidas preventivas e não farmacológicas de enfrentamento à doença: lavar as mãos com água e sabão, usar máscara, usar álcool em gel e manter o distanciamento social.”