A Polícia Federal cumpriu na manhã desta sexta-feira, 18, sete mandados de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão contra comandantes da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). A ação foi um pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), que acusa os agentes da PM de ‘aderir a conspirações’ e trocas de mensagens de cunho golpista com o objetivo de impedir a posse do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Às vésperas das eleições de 2022 e especialmente depois do pleito, confirmada a derrota do candidato Jair Messias Bolsonaro (PL), os mais altos oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal trocaram arquivos com conteúdo inverídico sobre fraudes eleitorais e trataram de possíveis meios ilegais de assegurar a permanência de Jair Bolsonaro na Presidência da República”, diz um dos relatórios da investigação. Essa é apenas uma das manifestações enviadas pela PGR ao Supremo Tribunal Federal (STF). Os documentos mostram uma série de conteúdos de áudios, mensagens e vídeos de conteúdo conspiratório pelos oficiais da PMDF.
Entre os presos pela PF, estão o Coronel Klepter Rosa (atual comandante-geral da PMDF e então subcomandante) e o Coronel Fábio Augusto Vieira (então comandante da PMDF). No dia 28 de outubro de 2022, dois dias antes das eleições, Klepter envia um vídeo atribuído – falsamente – a Ciro Gomes (PDT). Como aponta a investigação, o conteúdo “veicula gravações editadas e não contínuas” e afirma que “o pleito eleitoral já estaria armado”. “Na hora que der o resultado das eleições que o Lula ganhou, vai ser colocado em prática o art. 142, viu? Vai ser restabelecida a ordem, se afasta Xandão, se afasta esses vagabundos tudinho e ladrão, safado, dessa quadrilha… Aí vocês vão ver o que é por ordem no país. Não admito que o Brasil vai deixar um vagabundo, marginal, criminoso e bandido, como o Lula, voltar ao poder”, diz o áudio, que prossegue afirmando que Jair Bolsonaro e o Exército teriam preparado um golpe de Estado em caso de vitória de Lula.
“Rapaz, vocês têm que entender o seguinte: o Bolsonaro, ele está preparado com o Exército, com as Forças Especi… As Forças Armadas, aí, para fazer a mesma coisa que aconteceu em 64. O povo vai pras ruas, que ninguém vai aceitar o Lula ser… Ganhar a Presidência, porque não tem sentido, o povo vai pedir a intervenção e, aí, meu amigo, eles vão nos livrar do comunismo novamente”, diz o áudio. Logo após receber as mensagens, o Coronel Vieira encaminhou ao Coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues. No dia 1º de novembro do ano passado, já após as eleições, Vieira envia outro vídeo para Casimiro. A montagem também trata de teorias conspiratórias sobre as urnas. Dessa vez, além de encaminhar o conteúdo, ele comenta que “a cobra” iria “fumar, mesmo que o conteúdo do vídeo fosse falso”. “A despeito de compreender a natureza falsa da informação, Fábio demonstrou expectativa quanto ao potencial de subversão dos resultados do pleito eleitoral”, diz o relatório.
Em outro trecho, o relatório mostra mensagens do Coronel Jorge Eduardo Barreto Naime, então Chefe do Departamento de Operações (DOP) da PMDF. Preso antes das operações desta sexta, Naime demonstrava frustração com o Exército Brasileiro por não ter posto em prática um plano de golpe de Estado, segundo aponta a investigação. No dia 2 de novembro, quando muitos manifestantes se concentraram em frente ao Quartel General (QG) do Exército no Setor Militar Urbano (SMU) em Brasília, Naime disse a Marcelo Casimiro que não prestaria apoio logístico e de pessoal. “Deixa os melancia se virar” (sic.), disse o Coronel. O termo é uma referência aos militares terem a casca verde (por conta da farda), mas vermelhos (de esquerda) por dentro. No dia 12 de dezembro, data da diplomação de Lula e que marcou diversos protestos violentos com ônibus queimados e tentativa de invasão ao prédio da PF, o Major Flávio Alencar, que estava no comando de uma das tropas que atuaram durante as invasões aos prédios dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, comentou em conversa com Casimiro que “era só deixar [os manifestantes] invadirem o Congresso”.