22 de Novembro de 2024

Covid-19: medo difícil de encarar


"Em pé, com um drinque em mãos, o paulistano arrisca um passinho de dança na pista de alguma balada. A cena pode rememorar a um período pré-pandêmico distante, mas já permitida em São Paulo. Apesar da sensação de liberdade que muitos adquirem ao completarem o esquema vacinal contra a Covid-19, há ainda quem se sinta inseguro para sair na rua e siga com medidas de isolamento social.

É o caso da decoradora Marcia Coppola, 62 anos, que vive na Capital paulista com a mãe dela, Myrian, 92 anos, e a irmã designer, Viviane Coppola, 58. Desde março do ano passado, elas não recebem pessoas no apartamento. Todos os produtos que entram ali são higienizados. Marcia avalia que a vida enclausurada não é desagradável, mas confessa que os últimos seis meses foram mais estressantes, já que ela teve que equilibrar os cuidados domésticos com o seu trabalho, porque a função exercida pela irmã voltou a ser feita de forma presencial.

Ela também precisa visitar obras vez ou outra na semana e já fez algumas viagens a trabalho, mas diz que não se sente segura para ir a restaurantes ou a lugares fechados, como shoppings e cinemas. "Quando saímos, a gente tenta não ficar perto da nossa mãe porque, apesar de ter tomado a terceira dose, a gente não quer que ela pegue [a Covid-19] de jeito nenhum", diz Marcia. Ela conta que, durante a pandemia, a mãe só saiu de casa para tomar a vacina.

Apesar das restrições, ela avalia que está sendo um ano bom. "Para quem precisa trabalhar na rua [em meio à pandemia] é que foi horrível." A decoradora prevê que ficará mais tranquila para retomar as atividades presenciais quando receber a terceira dose do imunizante. "Acho que vai dar para relaxar algumas coisinhas e a rotina da casa não vai ficar tão pesada", diz.

A redatora publicitária Elen Campos, 44 anos, achava que quando recebesse a segunda dose teria coragem para encontrar alguns amigos. As duas doses vieram, só que a coragem ainda não. Agora, o momento é de fazer planos. Ela pretende sair de casa para assistir nos cinemas ao filme "Marighella", de Wagner Moura. Há, contudo, lugar que ainda não cogita frequentar, como restaurante, onde as pessoas tiram a máscara.

RETOMADA AOS POUCOS

Depois de tanto tempo dentro de casa, atividades que antes eram corriqueiras acabam tendo um gostinho estranho. Depois de um ano e sete meses longe de um shopping, o editor de vídeo Diogo Mendonça, 35 anos, teve que trocar uma peça de roupa que ganhou em meados de outubro. A loja estava lotada, e a experiência não foi das melhores. A ida ao shopping foi a primeira saída de casa sem uma finalidade essencial.

"Foi uma espécie de visão de como era a vida pré-pandemia", diz ele. A forma equivocada como algumas pessoas utilizavam a máscara também acabou gerando uma sensação de insegurança, conta.

Dias depois do shopping, Mendonça foi ao parque Ibirapuera em uma manhã de domingo. Lá, ele resolveu colocar em prática uma outra estratégia: se antecipou e chegou mais cedo para aproveitar o ar livre. Quando se deu conta de que o lugar estava enchendo, decidiu ir embora. A curto prazo, Mendonça espera realizar uma viagem à praia e uma ida a uma sala de cinema, para aproveitar a Mostra Internacional de São Paulo. "A exigência do comprovante da vacina me deixa mais tranquilo", afirma ele.

A estudante de direito Ketheny Zietlow, 24 anos, de Vila Velha (ES), voltou a encarar os imprevistos da vida presencial e teve que fazer concessões. Na última semana, com o preço da gasolina nas alturas, ela decidiu trocar a ida de carro e, depois de um ano e meio, voltou a andar de ônibus. A retomada foi carregada de aventura. A primeira condução ela perdeu por "um milésimo de segundo". Na segunda, uma passageira passou mal, e o ônibus foi direto ao pronto-socorro. Já na terceira, a catraca quebrou, o que atrasou a viagem. No entanto, acostumar-se ao retorno, ela explica, não foi tarefa difícil. "É tipo andar de bicicleta, você não esquece nunca." Durante o período mais restrito da quarentena, ela conta que, além do medo de pegar a Covid-19 e passar para os pais, tinha receio do que as pessoas iriam pensar se soubessem que ela estava se encontrando com amigos. Nestes dias mais esperançosos, ela tem saído com maior frequência. Lugares lotados, porém, diz evitar. Encontra os amigos, vai ao cinema e a bares e restaurantes. "Aos poucos foi normalizando. Ninguém suporta isso por muito tempo", conclui.



Fonte: JC Net

Fonte: jcnet

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