A cada cinco minutos, um celular é roubado na cidade de São Paulo, maior capital do país. Um aparelho de celular roubado custa de R$ 1.000 a R$ 2.000 no mercado clandestino de peças roubadas. Hoje, o bandido está mais interessado no conteúdo do aparelho celular. Com o dispositivo em mãos, ele consegue ter acesso ao aplicativo do banco, tirar todo o dinheiro da vítima da conta, fazer transferências bancárias e até mesmo empréstimos. A vítima, depois, tem que correr atrás do prejuízo. Muitos aparelhos também são desmontados e as peças acabam revendidas. Infelizmente, tem ainda quem compra e fomenta esse tipo de crime. No caso, o receptador. Atualmente, um celular pode custar até R$ 15 mil, dependendo do fabricante e da configuração do aparelho. A série de roubos tem feito o paulistano manter o aparelho reserva em casa ou até mesmo no carro por questão de segurança. Quem não tem aparelho reserva, desinstalou os aplicativos de bancos, justamente para dificultar a vida do ladrão. Para o coronel da Polícia Militar, Fábio Cândido, subcomandante do policiamento da cidade de São Paulo, o método jurídico utilizado no Estado sobre a audiência de custódia beneficia o preso, não a vítima.
“Quando a Polícia Militar prende alguém, a sistemática atual faz com que os agentes encaminhem esse preso à Polícia Civil e fiquem horas aguardando para que seja feito esse registro. Até a vítima vai ser ‘punida’ novamente com o dessabor de ficar em uma repartição policial por um longo tempo. Esse criminoso, na verdade, vai ficar preso por no máximo 24 horas, porque o Código de Processo Penal determina que ele seja apresentado em até 24 horas ao juiz. Em via de regra, como se trata de um crime em que as penas são bastante baixas, esse cidadão vai acabar sendo solto”, explica Cândido. No modelo de audiência de custódia atual, o preso é levado a julgamento em no máximo 24 horas. Na maioria das vezes, de acordo com os especialistas, o ladrão acaba solto e volta a praticar assaltos. Em muitos casos, só fica preso em definitivo quando mata a vítima.
Um exemplo é o caso que aconteceu no bairro do Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo. Renan Loureiro, de 20 anos, foi morto com quatro tiros na frente da namorada quando tentou evitar um roubo de celular. O ladrão, que matou Renan, já tinha sido preso várias veze. O coronel Fábio Cândido cita outros exemplos claros que ele e a equipe vivem no dia a dia. “A regra é responder o processo quando é preso em flagrante. O que tem acontecido no nosso país, até por força das alterações legais mais recentes, é que permitiram as audiências de custódia. A regra tem sido o criminoso responder ao processo em liberdade”, detalha. O policial diz ainda que o governo precisa dar um choque de gestão para mudar essa realidade.
Segundo ele, contratando mais policiais civis e militares e colocando a Polícia Civil para investigar na rua. “Nós precisamos de um choque de gestão na segurança pública. Isso passa não só pela melhoria das condições, mas pela valorização do efetivo policial das policias, principalmente da civil, que ainda bastante sucateada. Eu estive em um congresso da Polícia Técnico-Científica, que também está com dificuldade em equipamentos para fazer as perícias criminais. Além disso, alterações legislativas que deem um tratamento é diferenciado para aquele rompe o pacto social e também aplicação, por parte dos magistrados, de uma maneira mais severa”, sugere. Para muitos especialistas, os celulares viraram hoje caixas eletrônicos ambulantes. Por isso, todo cuidado ainda é pouco.
*Com informações do repórter Maicon Mendes