Você já separou hoje algumas moedas dentro do carro? Quem circula nas regiões do Centro, Nações Unidas Sul e Norte, além da Comendador e da Getúlio Vargas, já reparou que é cada vez maior o número de homens e mulheres que estão nos semáforos tentando ganhar o pão de cada dia. Há os habituais malabaristas, que pedem dinheiro em troca de uma apresentação artística rápida enquanto o sinal está vermelho, e há também diversas pessoas que estão dividindo o mesmo espaço para trabalhar informalmente. Eles não são moradores de rua, não estão pedindo esmolas, mas têm que lidar com o preconceito para vender paçoca, balas, sacos de lixo, panos de prato, água e diversas outras coisas de rápida aquisição e preço baixo. Tudo pela janela do automóvel ou com o cliente montado na moto.
O JC percorreu ruas e avenidas, conversou com comerciantes e o desejo é o mesmo: emprego de carteira assinada. Elizandra Queiroz, de 20 anos, mãe da Safira, que tem 1 ano e 7 meses, é uma dessas pessoas que batalham no semáforo para levar o sustento para casa. Ela vende gomas (balas) no cruzamento da rua Floresta com a Nações Unidas. Trabalhando de segunda a sábado, tem dias que ela chega a fazer cerca de R$ 30,00, porém, só a caixa com os doces tem um custo no varejo de R$ 15,00.
"Trabalho com isso há anos. Cheguei a trabalhar como vendedora, fazendo bico em loja. Vivo entregando currículos e pedindo oportunidades de trabalho, com carteira assinada. Mas não me chamam nem para entrevista. Então, voltei para cá. Não tive opção. Preciso sustentar a minha filha e manter os gastos da casa", comenta a jovem, acompanhada do irmão que a auxilia. Ela reside em uma edícula nos fundos da casa da mãe adotiva.
Leandro Pereira, de 33 anos, natural de Cerqueira César (125 quilômetros de Bauru), mudou para Bauru há alguns anos, desde que perdeu o emprego em uma fábrica em que trabalhava como operador de transbordo. Por lá, tinha estabilidade, um Fox financiado e casa para morar. Mas a vida deu uma guinada e, gradativamente, perdeu tudo. Depois que foi despedido, tudo desandou. Chegou a sentir que estava com depressão e até cogitou cometer suicídio quando chegou em Bauru. Hoje ele vende paçoca por R$ 1,00 no cruzamento da rua Marcondes Salgado com a Nações Unidas. Fica por lá de segunda a sábado, o dia todo.
"Eu pago diária de R$ 40,00 em hotel, são R$ 1.200 por mês. Então, tenho que fazer no mínimo esse valor por dia, para não ter que voltar a morar na rua. Fora o dinheiro para comer. Me ofereceram emprego uma vez, mas se eu aceitasse, na época, teria que morar na rua por 30 dias, até receber o primeiro pagamento cheio. Meu sonho é voltar a ter trabalho com carteira registrada, mas preciso, também, de ajuda de um lugar para morar, ao menos no primeiro mês, até receber o primeiro salário. Isso mudaria a minha vida", revela.
Elizandra e Leandro, assim como diversos outros na mesma situação em Bauru, têm cerca de 30 segundos para tentar convencer alguns condutores a comprar seus itens. A maioria mostra placas, descrevendo a situação em poucas palavras.
OUTROS CASOS
Uma idosa de 77 anos, que não conseguiu a sua aposentadoria, também vende itens no cruzamento de uma grande avenida de Bauru. Ela preferiu não se identificar, mas revelou que trabalha com vendas em semáforos diariamente para ter uma renda a mais em casa e, também, quitar uma dívida. Outros rapazes vendem água, sendo um na Nações, trecho em frente à Praça da Paz, e outro em cruzamentos da Nuno de Assis. Recentemente, um casal de idosos também mostrou placas que precisavam de ajuda, no cruzamento da rua Saint Martin com a Duque de Caxias. Pela Comendador José da Silva Martha, uma família apresentou um cartaz que era da Venezuela, e poucos metros acima um músico trocava doações por música com seu talento no saxofone. E ainda há um outro artista com trompete, na Duque, próximo das novas marginais da Marechal Rondon.
Além destes, há os malabaristas de bolas e, o mais curioso de todos, o que equilibra espadas no ar, na Rodrigues Alves.
Ele se arrisca com sua arte em troca de doações em dinheiro. Tem também um homem, se denominando de "pastor", na Nações, próximo ao Vitória Régia, que prega trechos da Bíblia em troca de auxílio.
AJUDA
Empresários que desejam colaborar com estas pessoas precisam se dirigir até seus endereços, porque celular é um luxo que não conseguem ter.
DESEMPREGO
Dos 14,8 milhões de desempregados estimados no país em 2021, aproximadamente 3,5 milhões são de São Paulo, crescimento de 12,7% em um ano (mais 393 mil). A taxa de desemprego manteve-se em 14,6%, próxima da nacional (14,7%).
SEBES
A Sebes informou que possui o serviço de Abordagem Social, onde realiza atendimentos de todas as pessoas que estão em situação de rua ou pedindo em semáforos.
Durante a abordagem, são verificadas as condições sociais e oferecido abrigo em casa de passagem. Se tiver família, é encaminhado para o CRAS de referência.
Fonte: jcnet
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