21 de Novembro de 2024

Ela deixa as cidades mais coloridas


Ela carrega um nome de peso e não à toa. A artista bauruense Tarsila Schubert, 34 anos, é assim chamada por escolha do pai, Roberto Cury, apreciador de arte e admirador daquela que foi uma das maiores pintoras brasileiras: Tarsila do Amaral. Em comum, elas usam cores vibrantes. Essa característica está presente no letreiro instalado na Praça Portugal. Pintada pela "nossa" Tarsila, a obra foi inspirada nas origens indígenas da região. "Foi uma honra ter um trabalho meu na minha cidade", comemora a artista, cuja vertente mais forte é a arte pública.

Mais do que nome da xará, foi a convivência em meio a uma família apaixonada pela arte que a influenciou a percorrer esse caminho. Aprendeu as primeiras pinceladas ainda criança com a avó Lucila Puls, também pintora. A irmã Camila Schubert é fotógrafa. Tem tios músicos. Todos autodidatas.

Mas a família também tem profissionais na área da saúde. Tanto que ela cursou Odontologia, mas trancou a matrícula. "Acreditava ser mais seguro profissionalmente, mas larguei por dificuldades financeiras", lembra. Nessa hora, a arte definitivamente ocupou espaço na vida dela. "Um dia, acordei e pensei: preciso pintar", conta a jovem. Desde então, as oportunidades foram surgindo e ela as aproveitou sempre buscando conhecimento e aprimorando técnicas.

Tarsila mora em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, desde 2012. Tem trabalhos em, pelo menos, 14 países. Adora pintar grandes murais. Entre eles, destaque para um prédio cravejado de balas em Beirute, capital do Líbano, e outro em Amã, primeiro mural pintado por uma mulher na capital da Jordânia. A arte pública virou sua marca registrada. "É um espaço para o artista se expressar e permite mais acesso ao público", explica ela, que também produz instalações, esculturas e telas.

Nasceu em Bauru e todos os anos volta à cidade para visitar o pai, a mãe, Claudia Schubert, e os três irmãos: Camila, Lucas e Isabela Schubert. Confira, a seguir, os principais pontos da entrevista que Tarsila concedeu ao JC:

Jornal da Cidade - Você recebeu um convite para fazer um letreiro com o nome de Bauru na Praça Portugal. Como foi a recepção e a inspiração?

Tarsila Schubert - Fiquei superfeliz e realizada. É uma honra ter um trabalho meu na minha cidade! Também foi positiva a reação das pessoas, muitas me mandaram parabéns. Fui convidada pelo Diogo Zopone, da Z-Incorporações. Fiquei pensando como representar Bauru, queria algo mais profundo, ligado aos povos indígenas, porque a nossa história começa antes da ferrovia. Comecei a pesquisar. Trabalhei com as informações que achei e completei com o lado lúdico. São desenhos que lembram o olhar de um animal, grafismos do povo tupi-guarani e formas dos trabalhos tribais. Queria também que servisse de alerta para dar mais valor e atenção aos povos indígenas.

JC - Você carrega o nome de uma das maiores pintoras brasileiras, a Tarsila do Amaral. Isso a influenciou de alguma forma?

Tarsila - Meu pai escolheu o nome dela porque ele gosta muito de arte, assim como o restante da minha família. Tenho tios músicos, minha irmã é fotógrafa profissional e minha avó é pintora. Comecei a pintar não por causa do nome Tarsila, mas sim por estar sempre rodeada desse mundo da arte, das discussões. Ninguém estudou, somos todos autodidatas. Mas, também tem muita gente da área da saúde. Por isso, fui fazer Odonto. Ninguém me forçou. Há 15 anos, eu achava que seria mais seguro profissionalmente. Mas, sempre continuei pintando por hobby.

JC - E quando foi que a arte passou de hobby para profissão?

Tarsila - Eu tranquei a faculdade no penúltimo ano, por dificuldades financeiras. Foi uma época complicada e voltei a pintar mais como forma de expressão, não para vender. Acordei um dia e pensei: 'preciso pintar'. Uma amiga tinha um espaço e me chamou para fazer uma exposição para amigos. Vendi todas as telas. A preços baixos, claro, mas vi que dava para tentar. Comecei a pintar com mais frequência. Nessa época, uns amigos de Bauru e eu fazíamos encontros com artistas toda semana para trocar experiências. Foram momentos importantes, aprendi muito e foi com eles que comecei a pintar meus primeiros murais.

JC - Essa é uma marca sua. Você pintou murais em diversos países, certo? Quais considera os mais importantes?

Tarsila - Em 2015, fiz um mural em Beirute. Escolhi o Líbano porque já viajei muito para lá e é um local que passou por muitas revoluções e crises, então a arte faz muita diferença. É um prédio que tinha marcas de bala e explosões, foi muito marcante. Em 2016, também pintei em Amã, capital da Jordânia. Fui a primeira mulher a fazer um mural na cidade.

JC - E por que você gosta tanto dos murais?

Tarsila - É um espaço para o artista se expressar e também de fácil acesso ao público. É uma via de mão dupla. É uma voz para os artistas, porque os murais não dependem de uma galeria para serem vistos. Acredito muito na força da arte pública. Mas, também faço instalações, continuo pintando telas e tenho esculturas.

JC - Você mora em Dubai desde 2012. Como é fazer arte pública no Oriente Médio?

Tarsila - Nessa época, não tinha nenhum tipo de arte de rua. E também eram poucas galerias. Mas, como a cidade estava expandindo rápido, percebi que a cena artística iria crescer, havia um movimento muito grande. Em 2014, pintei minha primeira parede em Dubai, durante um festival. Depois disso, esse tipo de arte começou a bombar. E meu estilo foi mudando também por influência do país. Antes, era mais figurativa, mas alguns elementos não dialogam com a cultura deles. Então, passei por transições e, hoje, faço uma arte abstrata mais pop e intuitiva, de forma mais solta.

JC - E o que você planeja para os próximos trabalhos?

Tarsila - O objetivo é continuar pintando murais, mas tenho outras ideias. Quero investir mais em instalações imersivas, explorar outras formas de expressão, outros temas.



Fonte: JC Net

Fonte: jcnet

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